Equipamento de som evitou tragédia maior em perseguição no RJ
Carro em que a estudante Haíssa foi baleada por PMs foi atingido mais três vezes. Duas balas de fuzil pararam na caixa de som
Um equipamento de som instalado no porta-malas do Hyundai HB20 branco ajudou a evitar que a tragédia que matou a estudante Haíssa Vargas Motta, de 22 anos, em 2 de agosto do ano passado, tivesse proporções ainda maiores. No último sábado, o site de VEJA trouxe à tona o vídeo das câmeras instaladas dentro de um carro de patrulha da Polícia Militar que mostra toda a ação desastrada durante uma perseguição pelas ruas de Nilópolis, na Baixada Fluminense. A investigação da Polícia Civil foi concluída em novembro com o indiciamento do soldado Márcio Watterlor Alves, de 32 anos, por homicídio doloso. No inquérito, enviado ao Ministério Público, um laudo pericial revela que além do tiro que matou a jovem, outras três balas atingiram o carro, e que duas delas pararam nas caixas de som.
Em VEJA: PMs matam estudante e culpam a vítima
Praticamente todo o porta-malas do veículo de Patrick Pereira Felix, amigo de Haíssa que estava ao volante, era ocupado por caixas com dez alto-falantes. Um dos tiros de fuzil (calibre 7,62) atingiu a placa, outro furou o equipamento e atravessou as costas da jovem. Mais duas balas entraram pela parte traseira do HB20 e acabaram batendo num ímã da caixa de som: “Por um milagre não tivemos mais mortos dentro daquele carro. Se passa da caixa, um poderia pegar quem estava atrás do motorista e, talvez, até atravessar. No caso do tiro que perfurou o outro lado, a mesma coisa. Poderia pegar no passageiro e até atingir o copiloto”, afirma um perito ouvido por VEJA, explicando que um projétil praticamente intacto ficou preso no aparelho de som.
Haíssa estava voltando de um bar com dois amigos e três amigas. Ela estava sentada justamente no meio, no banco traseiro. O motorista afirmou, em depoimento, que pensava que os policiais perseguiam uma moto que no início da caçada, de fato, estava atrás de seu carro. O vídeo mostra que, do início da perseguição até o momento do primeiro tiro, passaram-se apenas 24 segundos. O soldado Alves, depois disso, atirou pelo menos mais oito vezes contra o veículo.
Família cobra o governo – No sábado – quando a edição de VEJA chegou às bancas e o vídeo da absurda ação dos policiais militares foi ao ar em VEJA.com -, os parentes de Haíssa viram, pela primeira vez, o que realmente aconteceu naquela noite trágica de 2 de agosto. Isso porque, passados mais de cinco meses, nenhum governante, nenhum órgão de direitos humanos, nenhum oficial da PM ou representante da secretaria de Segurança Pública, procurou a família da jovem. “Até agora ninguém veio até a gente para dizer nada. Nem pelo menos um ‘desculpa, cachorro, por ter matado sua cria'”, desabafou o pai da jovem, Ironildo Motta. “É a polícia que ainda adota a política do atira, depois pergunta”, continua. O secretário de segurança do Estado ainda não falou sobre o caso. A primeira autoridade a dar declarações foi o governador Luiz Fernando Pezão, que classificou o episódio como “lamentável”.
Outro inocente morto – Nesta terça-feira, o jornal Extra e a Globonews revelaram que os dois PMs que participaram da perseguição que resultou na morte de Haíssa (Márcio José Watterlor Alves e Delviro Anderson Moreira Ferreira) já haviam se envolvido numa situação semelhante cinco meses antes. Em 13 de março do ano passado, a dupla (lotada no 41º Batalhão, de Irajá), perseguia outro veículo, um Corsa, que três bandidos haviam roubado. Houve tiroteio pelas ruas do bairro de Guadalupe e três balas atingiram o diácono Joel Pereira de Carvalho, de 55 anos, que havia sido levado pelos criminosos. Um tiro acertou a cabeça, outro o pescoço e outro, uma das mãos do refém. A vítima morreu junto com um dos ladrões. Outro bandido, ferido, foi preso, e um terceiro escapou. O caso ainda está sendo investigado pela Divisão de Homicídios (DH), que deverá fazer uma reprodução simulada para descobrir de onde partiram os tiros.
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