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Envenenamento ou histeria coletiva, estudantes afegãs sob tensão

Por Por Lawrence BARTLETT
28 Maio 2012, 12h11

Casos de suspeita de envenenamento de alunas por insurgentes talibãs são manchetes frequentes no Afeganistão, mas faltam evidências para apoiar estas alegações, que também podem ser explicadas pela histeria coletiva.

Na semana passada, um “ataque” contra uma escola para meninas na província de Takhar, no norte do país, mandou 120 estudantes para o hospital. Muitas delas haviam desmaiado e outras se queixavam de dores.

Como é habitual neste tipo de caso, as autoridades locais acusaram os talibãs, que quando estavam no poder proibiam o acesso de meninas à escola. O grupo radical foi acusado de ter contaminado o ar com um “pó tóxico”.

Em duas ocasiões neste ano, um “ataque de gás” e o “envenenamento da água” foram mencionados para explicar o mal-estar de alunas, que geralmente são liberadas rapidamente do hospital.

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Investigações foram realizadas. “Até agora, nenhuma evidência, provas ou qualquer traço de veneno ou gás foi encontrado”, observou Edayat Sayed Hafiz, um porta-voz do Ministério do Interior.

Testes também foram feitos pela Isaf, a força militar da Otan no Afeganistão, depois que 200 alunos adoeceram em uma escola na província de Khost (leste).

“Os testes de laboratório feitos em várias amostras de ar, água e materiais deram resultado negativo para todos os componentes orgânicos, tais como venenos ou outros materiais tóxicos”, disse o tenente-coronel Jimmie Cummings, porta-voz da Isaf.

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“Nós continuamos com os exames, mas parece improvável que qualquer substância estranha tenha causado os sintomas relatados”, acrescentou.

Na ausência de causas cientificamente estabelecidas, Robert Bartholomew, sociólogo e escritor, acredita que essas ditas intoxicações têm “todas as características de uma doença psicogênica (cuja causa é apenas psicológica, Ed) em massa, também conhecida como histeria coletiva”.

Bartolomeu estudou mais de 600 casos de histeria coletiva em escolas desde 1566 na Europa. “O episódio no Afeganistão certamente se insere neste contexto”, assegura.

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“Os sinais indicadores no Afeganistão incluem a preponderância de alunas, a ausência flagrante de agentes tóxicos, sintomas ligeiros e transitórios, desencadeamento e recuperação rápidos, a presença de um odor estranho e uma ansiedade gerada por um contexto guerra”, enumera o especialista.

Casos semelhantes foram observados em áreas de conflito nas últimas décadas: nos territórios palestinos em 1983, na Geórgia em 1989 e no Kosovo em 1990, observa. No Afeganistão, “o pânico, principalmente dos insurgentes dos talibãs”, pode ser uma causa, segundo ele.

Depois de mais de 30 anos de “guerra, pobreza, conflitos internos e migração”, metade da população sofre de “traumas, depressão e ansiedade”, afirma Bashir Ahmad Sarwari, diretor dos serviços de Saúde Mental.

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Domingo, quando dezenas de meninas da mesma escola de Takhar perderam a consciência, de acordo com relatos locais. Os talibãs negaram em um comunicado qualquer envolvimento em eventuais envenenamentos.

“Se eles forem encontrados, aqueles envolvidos em tais atividades serão punidos de acordo com a sharia”, advertiu o grupo, em um texto enviado para uma agência de notícias afegã.

Apesar de negarem, os insurgentes são suspeitos perfeitos. Eles que, quando estavam no poder (1996-2001), proibiram o acesso das meninas às escolas e de suas mães ao trabalho, e até mesmo de saírem de casa desacompanhadas.

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Os rebeldes foram particularmente violentos a este respeito em 2008, quando incendiaram escolas. Estudantes também foram atingidas com ácido em Kandahar, reduto talibã (sul). Casos de intoxicação de estudantes do sexo feminino já haviam sido relatados.

Em meados de maio, a ONU expressou a sua preocupação com os recentes ataques contra o sistema de ensino do Afeganistão. Uma bomba explodiu perto do carro de um funcionário da educação em Paktika (leste). Uma escola para meninas de Nangarhar (leste) também foi incendiada.

De acordo com o Ministério da Educação, dezenas de escolas foram fechadas na província de Ghazni (sul), após ameaças dos talibãs. Elas reabriram após uma mediação de líderes tribais locais.

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