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Empresário ligado a caciques do PMDB acumula R$ 480 milhões em contratos com o governo estadual

Mario Peixoto é sócio do presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo, e do presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani. Os dois políticos foram seus padrinhos em casamento de luxo na Itália

Por Leslie Leitão 25 set 2014, 06h18

O castelo Orsini-Odescalchi é uma imponente construção medieval do século XV que se destaca na paisagem da pequena Bracciano, cidade a 30 quilômetros de Roma. É um cenário cinematográfico, onde se casaram, em 2006, Tom Cruise e Katie Holmes. Noivas de todo o mundo sonham trocar alianças ali. No último dia 24 de maio, o empresário Mario Peixoto, de 56 anos, ao mesmo tempo um dos mais poderosos e obscuros homens de negócios do Rio de Janeiro, concretizou nos jardins do castelo o desejo de sua bela noiva, Carla Verônica de Medeiros, de 44, numa festa para 50 convidados seletos. No altar, abençoando a união, dois caciques do governo estadual: o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Paulo Melo (PMDB), e o presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani.

As cenas dos dois políticos no altar e depois, divertindo-se na festa, aparecem num vídeo produzido por um dos convidados e obtido por VEJA. O filme mostra ainda Picciani e Melo na véspera, saindo do luxuoso Hotel Saint Regis, no coração de Roma, para um passeio turístico com as respectivas mulheres em uma van fornecida pelo anfitrião. Motivos para comemoração havia de sobra. Amigo e sócio dos dois próceres peemedebistas em empresas de incorporação imobiliária, Peixoto se tornou, nas gestões de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, do mesmo partido, um dos maiores prestadores de serviços do Rio. Com o governo do Estado, os contratos somam 480 milhões de reais, dos quais muitos são “de emergência”, ou seja, sem licitação. A maior parte (70%) vem de aditivos. Mais de 281 milhões foram contratados junto às prefeituras do Rio e de Duque de Caxias, comandadas por aliados.

Para os padrões de Peixoto, o casamento no castelo italiano foi uma extravagância – e não pelas cifras envolvidas, porque, como se vê, dinheiro não tem sido um problema. A questão é que, ao longo dos últimos sete anos, ele conseguiu ganhar espaço no governo e tocar seus negócios sem chamar atenção. Tanto que até hoje é desconhecido de boa parte dos membros da base governista. Procurado por VEJA, Peixoto não fez nenhuma questão de dissipar a nuvem de mistério que paira sobre ele. Deixou escapar, porém, ter disputado uma eleição para deputado estadual na década de 90, ocasião em que conheceu Melo e Picciani.

Quando se analisa as contas do Estado, contudo, é impossível ignorar Mario Peixoto. Várias empresas em seu nome ou de prepostos, como irmãos e funcionários, aparecem nas listas de pagamentos, em contratos de prestação de serviços de auxílio administrativo e operacional, limpeza, vigilância e até de auditoria contábil. Nessas planilhas, destaca-se também uma entidade com que ele tem conexões: o Instituto Data Rio (IDR), organização social (OS) administrada por um sócio e onde trabalha sua ex-mulher. Entre 2012 e 2013, o IDR recebeu 197 milhões de reais para administrar dez Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) no Estado. O próprio empresário admite que algumas de suas firmas, como a HBS Vigilância, a Local Rio e a Atrio Rio Service, receberam parte dessa bolada. Mas, como os contratos das OSs não são públicos, não é possível dizer quanto, coisa que Peixoto também não esclarece. “Não sei o valor de cabeça.”

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O empresário também ganhou contratos em alguns dos maiores municípios, como Duque de Caxias, Queimados, Maricá e a própria capital. Nesses locais, o contratado é o Consórcio Mais Saúde, em que Peixoto é sócio do presidente do IDR. Pela participação no consórcio, a Atrio recebeu 281 milhões de reais só do Rio e de Caxias.

Considerando a importância das empresas e organizações sob a influência do amigo de Picciani e Melo – e ainda o pendor pelo luxo demonstrado por ele em seu casamento – seria de se imaginar que as firmas seguissem o mesmo estilo. Não é o caso, como VEJA constatou in loco. Três delas se espremem em dois andares de um prédio de escritórios da praça Mauá, no centro da cidade. Já a sede do IDR fica em Saquarema, na Região dos Lagos. Mas, no endereço onde deveria estar funcionando, há apenas um cubículo e uma mulher de plantão, que informa: “Não trabalho para o IDR. Só estou aqui para receber correspondências”. Ela, então, indica outro endereço, desta vez no Rio, onde não há ninguém nem para atender a porta.

O mesmo acontece nas empresas em sociedade com Melo e Picciani. Peixoto e o presidente do PMDB fluminense são sócios em uma incorporadora imobiliária em Búzios, região dos Lagos. Batizada de Vila Toscana, é uma sociedade entre uma das firmas ligadas a Peixoto e a Agrobilara, holding de criação de gado da família Picciani. Enquanto o cacique peemedebista negou a VEJA a sociedade, Peixoto a admitiu, mas disse que a empresa só existe no papel. “Compramos 25% de um terreno, mas o empreendimento não vingou.” Já a incorporadora que Melo, o presidente da Assembleia Legislativa, formou com dois irmãos do empresário, funciona, sim, e está inclusive construindo prédios na Zona Oeste do Rio. Tem capital social de 10 milhões de reais. A sede fica no endereço da própria obra. Embora os documentos da junta comercial atestem que Melo tem 25%, o deputado garante que não tem nada a ver com ela.

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