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Em e-mails, filho de dirigente cobrou Nuzman por pagamentos

Lamine Diack, presidente de associação de federações de Atletismo, teria recebido propina para votar pela candidatura do Rio às Olimpíadas de 2016

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 out 2017, 16h56 - Publicado em 5 out 2017, 12h31

Entre as provas que levaram às prisões temporárias de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e Leonardo Gryner, diretor-geral de operações do Comitê Rio-2016, na segunda fase da Operação Unfair Play estão e-mails trocados entre Nuzman, Gryner e o senegalês Papa Massata Diack, filho do presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês), Lamine Diack. O dirigente teria recebido 2 milhões de dólares em depósitos no exterior para votar pela candidatura do Rio de Janeiro a sede das Olimpíadas de 2016.

Nas mensagens, obtidas a partir da quebra de sigilo telemático de Nuzman e Gryner na primeira fase da Unfair Play, Papa Diack cobra do presidente do COB e de seu braço-direito pagamentos ainda não feitos em um “acordo” firmado em Copenhague, na Dinamarca, onde se deu a eleição que definiu a capital fluminense como sede dos Jogos de 2016.

No dia 26 de novembro de 2009, respondendo a um e-mail enviado por Diack a Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso, funcionária do COB, Leonardo Gryner se desculpa com o senegalês pelo “inconveniente” do “atraso na concretização da última parte do nosso acordo”.

“Estamos trabalhando todos os dias para finalizar essa operação. Como eu te disse em Copenhague, temos um patrocinador diferente para esta última parte. Este patrocinador está tendo problemas com a transferência e estamos tentando ajudá-lo. Esperamos ter resolvido essa situação até o fim desta semana”, promete o executivo, na correspondência intitulada “Rio 2016” (veja abaixo).

Conforme as investigações da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, o responsável pelo pagamento dos 2 milhões de dólares a Lamine Diack foi o empresário Arthur Cesar De Menezes Soares, o “Rei Arthur”, cujas empresas chegaram a ter 3 bilhões de reais em contratos com o governo do Rio de Janeiro durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Também alvo da primeira fase da Unfair Play, Arthur vive em Miami e é considerado foragido pelas autoridades brasileiras. 

(Reprodução/Reprodução)

Em 11 de dezembro de 2009, Papa Diack volta a enviar um e-mail a Maria Celeste de Lourdes, com cópias a Carlos Nuzman e Leonardo Gryner, no qual ressalta ainda não ter recebido o dinheiro. “Meu banco Societe Generale de Banques au Senegal ainda não recebeu nenhuma transferência SWIFT do lado de vocês; tentei muitas vezes falar com Leonardo Gryner, mas não houve resposta. Você poderia, por favor, checar com ele se ele pode confirmar 100% que as transferências foram feitas a meus endereço em Dakar ou em Moscou (BSGV) [Bank Societe Generale Vostok]”, cobra Diack (veja abaixo).

(Reprodução/Reprodução)

Cerca de uma semana depois, o filho do dirigente volta a pressionar. Desta vez, disse que ele e seu pai estavam “envergonhados com o presidente, porque nossos amigos não cofiam mais em nós”. As investigações apontam que Lamine Diack teria influenciado os votos de outros integrantes africanos do Comitê Olímpico Internacional (COI) pela candidatura do Rio.

Na decisão em que autorizou as prisões temporárias de Carlos Nuzman e Leonardo Gryner, o juiz federal Marcelo Bretas afirma que “mostra-se bem coerente a presunção apresentada pelo Ministério Público Federal de que ‘a referência a ‘our friends (nossos amigos)’ está a indicar a votação em bloco na cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, por parte dos africanos’”.

No dia 21 de dezembro de 2009, dois dias depois de remeter mais uma mensagem à funcionária do COB para cobrar um depósito de 450.000 dólares por seu “acordo/combinação com Leonardo Gryner”,  Papa Diack enviou um e-mail diretamente a Nuzman, sem outros destinatários. “Temos encontrado todo tipo de problemas com a implementação/execução do assunto em anexo, refiro-me à sua amável assistência para que ele seja resolvido. Nós enfrentamos todos os tipos de constrangimentos de pessoas que encorajaram nosso compromisso em Copenhague. Permita-me ter a posição final e oficial sobre como podemos resolver o assunto para satisfação de todas as partes”, escreveu o senegalês ao presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.

(Reprodução/Reprodução)

Ao autorizar as prisões temporárias na segunda fase da Unfair Play, Marcelo Bretas consignou que as mensagens mostram que “aparentemente, tanto o investigado Carlos Arthur Nuzman quanto o representado Leonardo Gryner atuaram direta e ativamente em numa negociação espúria para que membros do Comitê Olímpico Internacional – COI, mediante o pagamento de altas somas em dinheiro provenientes da Organização Criminosa – ORCRIM chefiada pelo então governador Sergio Cabral, escolhessem a cidade do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016”.

Barras de ouro na Suíça

Em seu despacho, Bretas também afirma que “a situação é agravada ainda” pelo fato de Nuzman, após ser alvo da primeira fase da operação, ter feito uma declaração retificadora à Receita Federal, na qual incluiu dinheiro em euros, dólares, libras esterlinas e francos suíços, além de 16 barras de ouro de um quilo cada, depositadas na Suíça.

Segundo o magistrado, os valores em moedas estrangeiras declarados à Receita pelo presidente do COB depois da Unfair Play “são correspondentes aos valores em espécie apreendidos na residência de Carlos Nuzman no momento da busca e apreensão” na residência dele.

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A nova declaração ao fisco mostra, conforme o magistrado, “aparente atividade de ocultar tais bens (dentre os quais 16 quilos de ouro) adquiridos e, até então, mantidos ilicitamente, deles retirando a pecha de ilegalidade, uma vez que descobertos”.

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