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Em Aparecida, muita fé e pouco dinheiro

Às vésperas da visita do papa, comerciantes divergem de estimativas de público da Igreja e afirmam que foi-se o tempo em que o santuário atraía multidões

Por Macedo Rodrigues, de Aparecida
12 Maio 2013, 15h01

A loja de Cartegni guarda uma espécie de ‘troféu’ dos números superestimados das visitas: até hoje não se esgotaram os 10.000 chaveirinhos que seu pai encomendou para a visita de João Paulo II, em 1980

A visita de um papa é, para qualquer cidade, um motivo de festa e orgulho. Mas se comparadas as expectativas de religiosos e comerciantes ao redor do Santuário de Nossa Senhora, em Aparecida (SP), fica difícil entender o tamanho exato do público que deve acompanhar os movimentos do papa Francisco pela cidade, em 24 de julho. Enquanto o arcebispo de Aparecida e presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil, dom Raymundo Damasceno, estima uma afluência de público na faixa dos 300.000 a 400.000 visitantes, os comerciantes projetam a vinda de apenas 10% deste total. “Não acredito que vá passar da casa dos 30.000 peregrinos. Considero que 40.000 já seria um resultado surpreendente”, diz Ettore Cartegni, gerente e filho do proprietário da Monalisa, a maior loja de artigos religiosos da cidade.

A falta de otimismo dos comerciantes faz cair por terra qualquer suspeita de que haja uma mercantilização da fé – o que é ótimo para os católicos, ruim para os lojistas. Por razões diferentes, os dois grupos têm interesse em atrair multidões. Mas têm termômetros bem distintos. Cartegni acredita que a Igreja superestime os números de fiéis que visitam o santuário nas principais datas religiosas. “Não sei qual a razão, mas ao inflarem estes números, eles acabam afugentando muita gente que deixa de visitar a cidade nas grandes datas, por receio de não encontrarem uma infraestrutura compatível com tamanha multidão”, afirma. Ele se recorda, por exemplo, da vinda do papa Bento XVI, quando, de acordo com os religiosos, mais de 200.000 pessoas teriam ido à cidade. “Mal passaram dos 20.000”, estima Cartegni. “A gente sabe, por causa das vendas. Os ganhos com essas visitas não são estratosféricos como se alardeia por aí”, assegura.

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A loja de Cartegni guarda uma espécie de ‘troféu’ dos números superestimados das visitas: até hoje não se esgotaram os 10.000 chaveirinhos que seu pai encomendou para a visita de João Paulo II, em 1980. “Temos uma quantidade considerável no estoque”, revela, sem saber o que fazer com os produtos.

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Na loja Imagens e Anjos, a comerciante Wanda Diniz, de 53 anos, também acredita que se os números divulgados pelos religiosos fossem “mais reais”, a cidade receberia mais visitantes. “Já houve engarrafamentos históricos de dezenas de quilômetros na (Rodovia Presidente) Dutra, mas atualmente isso não acontece mais. Talvez o pessoal fique com receio de nos visitar nestas datas comemorativas. Hoje em dia, as melhores vendas se dão nos fins de semana que antecedem e sucedem o 12 de outubro, dia de Nossa Senhora. No feriado mesmo, o pessoal prefere evitar uma multidão, mas ela não existe mais”, comenta.

Há 32 anos no comércio, Wanda faz ressalva à visita do papa João Paulo II, que, de acordo com ela, se não atraiu a multidão propagada, tinhas suas imagens vendidas aos montes. “Ele era muito carismático e amado. Isto sim se reflete em vendas. Neste sentido, o papa Bento XVI foi uma decepção para o comércio. O povo não se afinou com ele”, compara.

Muito menos experiente, a estudante e balconista Tairá Diniz, da loja Padroeira, também não alimenta grandes expectativas em relação ao comércio no dia da visita do papa. “Acredito que vamos ter uma venda equivalente à de um bom domingo, nada além disso. Talvez, depois da passagem dele, os produtos associados ao papa Francisco em Aparecida tenham maior aceitação”, acredita ela, acrescentando que a venda de chaveirinhos e orações com o retrato do pontífice ainda estão modestas.

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Sem vagas nos hotéis – Para a rede hoteleira, a vinda do papa também não altera muito a rotina. Mas por outra razão: antes mesmo do anúncio da data da passagem do papa pela cidade, a maioria dos 33.000 leitos oferecidos na cidade já estavam reservados. “Como é mês de férias, todos os anos temos uma taxa de ocupação altíssima em julho”, diz o presidente do Sindicato de Hotéis e Restaurantes de Aparecida, Ernesto Elache. E numa amostragem de hotéis do Centro da cidade, como o Venceslau, o Central e o Marge, constata-se que de fato todos já estavam com as reservas para 24 de julho esgotadas, antes da divulgação da agenda pelo Vaticano. “Tivemos que negar uma centena de solicitações de reserva no dia em que divulgaram a data de chegada do papa à cidade”, comenta uma recepcionista do hotel Marge.

Apesar de ser um dirigente da categoria hoteleira, Elache critica a baixa expectativa dos comerciantes, com um argumento controverso. “Eles estão ressabiados e não entenderam que, em 2007, a vinda do papa à Aparecida encheu a cidade de estudiosos eclesiásticos: era 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Ou seja, foi uma viagem de trabalho, que não atraiu turistas, e isto se refletiu nas baixas vendas”, comenta, desconsiderando o fato de o papa anterior ter feito uma missa campal e outra na basílica do Santuário de Aparecida, naquela mesma oportunidade. “O importante é frisar que, depois do Vaticano, temos o maior polo de turismo religioso do mundo”, propaga.

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