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Em abril, Appio disse que senha LUL22 era ‘protesto’ contra prisão de Lula

Em entrevista a VEJA, o agora juiz federal afastado disse considerar detenção do petista na Lava Jato 'ilegal'

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Sergio Ruiz Luz 23 Maio 2023, 14h28

Afastado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) da 13ª Vara Federal de Curitiba, onde tramitam os processos da Operação Lava Jato em Curitiba, o juiz federal Eduardo Appio admitiu a VEJA, em entrevista publicada na edição nº 2837, em abril, que a senha “LUL22”, usada por ele no sistema da Justiça Federal, era um “protesto individual” dele contra a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava Jato.

Crítico dos métodos do ex-juiz federal Sergio Moro, hoje senador pelo Paraná e filiado ao União Brasil, Appio disse na ocasião considerar a detenção do petista, que durou 580 dias, como “ilegal”.

“A senha LUL22 foi criada alguns anos atrás como um protesto individual contra uma prisão que eu julgava ilegal na época e que depois o STF considerou, de fato, ilegal”, disse o magistrado à reportagem.

Na entrevista a VEJA, o juiz expressou querer ser a antítese de Moro. “A Lava ­Jato não morreu e vamos provar isso”, garantiu, para em seguida alfinetar o hoje senador: “Mas não vamos combater a corrupção cometendo ilegalidades e atropelando a Justiça”.

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Relembre os principais trechos da conversa com o agora juiz federal afastado:

O advogado Rodrigo Tacla Duran vem dizendo há tempos que tem coisas importantes a relatar sobre Moro e Dallagnol, mas nunca entregou provas. O que mudou agora? As denúncias dele nunca foram apuradas com seriedade e isenção. Existem indícios mais do que suficientes para que ocorra uma investigação.

A acusação mais grave dele é que teria sofrido extorsão por intermediários a serviço de Moro e Deltan. O senhor acha essa história crível? Ele foi arrolado por diversas vezes e por diversos acusados como testemunha, mas nunca teve a possibilidade de ser ouvido. Isso e outros fatores, como a fracassada tentativa de inclusão do nome dele na lista de procurados da Interpol pelo hoje senador Moro, criam um cenário de grande dúvida, um ponto de interrogação sobre por que nunca se permitiu que o Tacla Duran tenha falado nesses últimos sete anos. Nós o ouvimos, e foi a primeira vez que ele conseguiu se manifestar e trazer essas acusações perante um juiz brasileiro. A partir disso, havendo indícios suficientes, o juiz é obrigado a remeter isso à instância policial, que foi o que eu fiz. Como havia acusação contra pessoas com prerrogativa de foro, remeti o caso ao STF.

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Moro disse que suas decisões são extravagantes. Qual a sua resposta a isso? Por causa dessa hegemonia que existiu no passado, os protagonistas da Lava Jato não estão habituados a um critério isonômico na aplicação da lei. O próprio filme feito na época da operação, Polícia Federal — A Lei É para Todos, acaba sendo muito mais na teoria do que na prática. Se a lei é para todos, por que o juiz teria de abafar um caso diante de indícios? Diante de um testemunho de um importante informante que conheceu a fundo todas as operações da Odebrecht?

O senhor tem a disposição de fazer uma espécie de Lava Jato da Lava Jato. Como será esse freio de arrumação? Se é que existe uma Lava Jato 2.0, ela será marcada pela cautela para que no futuro nós não tenhamos os processos anulados, inclusive esse do Tacla Duran.

Não houve méritos? Especialmente por mérito da Polícia Federal, a Lava Jato identificou claramente como funcionam os esquemas de propina em obras e serviços públicos de grande porte. Um outro legado positivo foi que se permitiu e se consolidou a figura da colaboração premiada. A devolução de valores aos cofres da Petrobras em valores compatíveis com aquilo que foi desviado também é outro fator positivo.

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Críticos ao senhor trouxeram à tona episódios como os de uma doação a uma campanha do PT e o uso de uma senha de computador com o nome “Lula”. O senhor está a serviço do partido? Não estou e nunca fui petista. Fui uma das primeiras pessoas que colaram adesivo no carro em apoio à Operação Lava Jato, ainda em 2014. A história da doação à campanha é fake news pura e a senha LUL22 foi criada alguns anos atrás como um protesto individual contra uma prisão que eu julgava ilegal na época e que depois o STF considerou, de fato, ilegal.

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