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Dois anos após enchente, Paraitinga investe em prevenção

Reconstruída, cidade vai além do esforço para recuperação de seu patrimônio histórico e busca medidas para evitar novas tragédias

Por Marina Pinhoni
9 jan 2012, 16h15

Em uma das famosas ruas de paralelepípedos do centro histórico de São Luiz do Paraitinga, a 180 quilômetros de São Paulo, uma vistosa igrejinha branca com contornos em azul se destaca, pronta para receber os fiéis e os turistas que a procuram. Quem hoje vê a Capela das Mercês não imagina que há dois anos, naquele mesmo local, só havia ruínas. A igreja foi uma das inúmeras construções dos séculos XVIII e XIX, tombadas pelo patrimônio histórico, que foram destruídas quando o rio Paraitinga subiu cerca de doze metros e deixou a cidade quase completamente submersa. A chuva de 2010 foi a maior já registrada na história da cidade de pouco mais de 10.000 habitantes, acostumados a enfrentar cheias menores. Apesar de atípica, a grande enchente serviu de alerta sobre a importância da prevenção e do planejamento.

Ao contrário do acontece na maioria das cidades que sofrem com catástrofes, Paraitinga já possuía um plano diretor que estipulava diretrizes para a ocupação de terrenos, além de um recente mapeamento das áreas de risco feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, órgão do governo estadual. Aprovado quinze dias antes da tragédia, o plano serviu para nortear como seriam utilizados os recursos. “O plano foi nossa salvação para agilizar a liberação das obras”, afirma a prefeita Ana Lúcia Bilard Sicherle (PSDB). “Os governos federal e estadual deveriam ajudar também com projetos e não só com recursos. Em uma cidade pequena como a nossa, muitas vezes só há um engenheiro e um arquiteto. Se não tivéssemos esse estudo anterior, não tinha saído nada”, diz a prefeita.

A prefeita citou a remoção das famílias das áreas de risco como um dos principais exemplos de prevenção. Quem perdeu a casa nessas regiões não pôde reconstruir, mas teve prioridade para mudar para o novo conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do governo estadual. Foram entregues 151 unidades. “Nós ‘congelamos’ as áreas de risco e isso não agradou algumas pessoas. Mas temos que assumir a responsabilidade de pensar em longo prazo”, afirma. Alguns lotes irregulares que apresentam risco menor também estão em processo de desapropriação.

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Reconstrução- Segundo a prefeitura, durante o período mais crítico após as chuvas de 2010, foram liberados 15 milhões de reais pelo Ministério da Integração Nacional para ações de reconstrução. Foram feitas obras de contenção de encostas, e reconstrução de pontes e estradas. Já o governo estadual destinou cerca de 100 milhões de reais para a reconstrução de prédios públicos, recuperação de estradas, reforma de escolas e construção de uma nova biblioteca.

Um dos principais motivos que levaram à grande perda material em Paraitinga foi o fato de que a maioria das casas do período colonial possuía uma estrutura de barro. Muitas delas ficaram completamente destruídas com as águas. Com a reconstrução, as estruturas estão sendo substituídas por outras mais resistentes, mas há preocupação em manter a arquitetura e fachadas iguais às originais.

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Os comerciantes foram os primeiros a se reerguer. De acordo com José Roberto da Silva, dono de um restaurante e presidente da associação comercial, mais de 90% das atividades no setor já voltaram ao normal. A dificuldade agora é pagar as altas prestações dos empréstimos tomados durante a reforma. Para isso, eles esperam o retorno dos turistas para a cidade, uma vez que ela já voltou a sediar as tradicionais festas religiosas que acontecem ao longo do ano, como a Festa do Divino, em junho. Paraitinga também atrai milhares de turistas por causa de seu carnaval de rua. Em 2009, cerca de 180.000 pessoas estiveram na cidade.

Com boa parte do município reconstruído ou em obras, os moradores aguardam a recuperação da Igreja Matriz, a mais importante construção religiosa da cidade. A obra do Instituto do Patrimônio Histórico e artístico Nacional (Iphan) está prevista para terminar apenas em meados de 2013. Enquanto a restauração dos objetos é feita, foi levantada uma estrutura de aço nas dimensões e formato da igreja, para proteger o que sobrou dos escombros e preencher um pouco do vazio que ela deixou na praça.

Prevenção de enchentes- Por enquanto, nenhuma obra feita em São Luiz do Paraitinga evitaria uma enchente de proporções tão grandes como a de 2010. Mas algumas ações já ajudam a amenizar as cheias mais frequentes. O Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) realizou o desassoreamento e o aumento da calha do rio com a retirada de rochas. Segundo o superintendente do órgão, Alceu Segamarchi Jr., essas medidas aumentaram a vazão do rio. “Antes, São Luiz enchia com qualquer chuva, agora já não é assim”, afirma. Também foram instalados pontos de telemetria, que medem os índices pluviométricos e o nível do rio. Os dados são enviados para salas de controle, que emitem alertas com até três horas de antecedência.

Mas a obra que trará a maior mudança para a população ainda está sendo discutida entre os órgãos de defesa do patrimônio, o DAEE e a prefeitura. O estudo de macrodrenagem do rio deve ser apresentado em março, e prevê a construção de um muro de contenção e de uma barragem e reservatório, envolvendo também as outras 39 cidades na região do Vale do Paraíba. Também será necessária a recuperação da mata ciliar do rio, hoje quase 80% comprometida.

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