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Delator de milicianos depõe na Justiça e é morto na Baixada Fluminense

Horas depois do crime, carro de delegado que investigou o caso foi seguido pelas ruas de cidade do interior do estado

Por Fernando Molica
20 jul 2018, 17h57

O ex-miliciano Rodrigo Felisbino Moreno, o RD, que fizera acordo de delação premiada com o Ministério Público do Rio, foi assassinado nesta quinta-feira em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, 24 horas depois de depor na Justiça em processo contra duas milícias que atuam na região. Ele não escondia de amigos o medo de ser morto. Na mesma noite, o carro do delegado de polícia Rodrigo Dias Coelho, que investigara o caso e também prestara depoimento no mesmo dia, foi perseguido por um veículo em ruas da cidade de Volta Redonda (a 126 quilômetros do Rio).

Na quarta-feira, Moreno, de 24 anos, confirmou na 1ª Vara Criminal de Nova Iguaçu as declarações que prestara na delegacia, quando apontou nomes de milicianos e crimes que eles haviam cometido – homicídios, exploração do comércio de botijões de gás e de garrafões de água, monopólio do serviço clandestino de TV por assinatura (“gatonet”), invasão de casas, cobrança de taxas de moradores, comerciantes e donos de vans, kombis e moto-táxis. Para forçar a compra de garrafões, milicianos chegaram a romper canos da Cedae, empresa que distribui água na região. Depois do depoimento, RD não seguiu o conselho do delegado e decidiu ir para a casa da mãe, em Nova Iguaçu. “Eu falei para ele que era arriscado, mas ele disse que a mãe havia se mudado há pouco tempo, que ninguém sabia seu endereço”, contou Coelho. No início da noite do dia seguinte, seria assassinado com dois tiros no rosto. Depois de fazer o acordo com o MP, o delator passara a morar em outra cidade do estado.

Ex-integrante de grupo paramilitar que atua na Baixada, Moreno decidiu romper com o grupo em 2016 e, com a ajuda de dois cúmplices, passou a atuar como chefe de sua própria milícia na localidade de Shangri-lá, em Belford Roxo. Em janeiro de 2017, sofreu um atentado a tiros e, em maio, foi preso, acusado de homicídio. Decidiu, então, colaborar com a investigação – seus depoimentos foram decisivos na Operação Rizzo que, deflagrada em julho, levou à expedição de 27 mandados de prisão – 18 suspeitos foram presos. O Ministério Público denunciou 24 pessoas no processo. Graças à colaboração, Moreno ficou livre do crime de associação criminosa e pôde responder em liberdade à acusação de homicídio (ele se dizia inocente do crime).

Por volta das 23h20 de quinta, horas depois de saber do assassinato da testemunha, o delegado chegou a Volta Redonda e achou que seu carro estava sendo seguido. Decidiu acelerar, chegou a cerca de 120 quilômetros por hora, e ultrapassou sinais vermelhos, atitudes que foram imitadas pelo perseguidor. Nas proximidades de seu destino, ao virar numa rua, o delegado diminuiu a velocidade, abriu o vidro da porta e colocou um fuzil na janela – foi quando o outro carro foi embora. A perseguição durou cerca de 10 minutos.

Para a promotora Elisa Pittaro, que atuou na investigação dos grupos milicianos, o assassinato de Moreno foi “um recado”: “Recado para o Judiciário, para a Polícia, para o Ministério Público”, afirmou. Para ela, apesar das muitas investigações feitas pela Polícia Civil, é preciso uma atuação mais firme do governo no combate a esses grupos: “O crime organizado está muito confiante, muito espaçoso, é uma ameaça ao estado do Rio de Janeiro”.

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