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Defesa de Bola tentará invalidar investigação sobre a morte de Eliza Samudio

Ao chamar para depor o delegado responsável pelas investigações da morte de Eliza Samudio, advogados do réu querem tentar desqualificar todo o inquérito

Por Pâmela Oliveira, de Contagem
24 abr 2013, 16h49

Começou na tarde desta quarta-feira o interrogatório que deve ser o mais longo do julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de matar Eliza Samudio. O delegado aposentado Edson Moreira, que ficou conhecido ao apresentar, em rede nacional de TV, os detalhes macabros da morte da jovem, ex-namorada do goleiro Bruno, sentou-se para ser interrogado às 13h30. O embate já se anunciava tenso, dada a intenção do advogado de defesa, Ércio Quaresma, de inquiri-lo “por 36 horas”, para desespero do plenário e dos jurados. Quaresma refez sua projeção, o que não é necessariamente animador: diz que vai fazer perguntas por pelo menos dez horas.

Com uma hora e meia de interrogatório, o delegado e os jurados ouviram basicamente perguntas sobre a trajetória do policial, acusações de falha em outra investigação – que terminou com a absolvição de um jornalista que foi acusado de matar a própria mulher – e perguntas indiretas. Tudo isso faz parte de uma estratégia que tem múltiplos objetivos. Como é dificílimo absolver Bola, Ércio Quaresma tenta usar o tempo a seu favor. E promove, assim, uma maratona que cansa os jurados e dissolve os fatos importantes em um emaranhado de episódios passados que se confundem na linha do tempo formada pelas horas de perguntas e respostas.

Leia: Encurralada, defesa do ex-policial Bola tenta ganhar tempo

Como não há limite de tempo para um interrogatório no Tribunal do Júri, Quaresma aproveita para expor, em fragmentos, sua sustentação da fase dos debates. Por várias vezes, a juíza Marixa Fabiane Rodrigues advertiu o advogado, por fazer rodeios antes das perguntas. O tempo final para as explanações de acusação e defesa é rigorosamente o mesmo. Mas, ao usar a estratégia de falar muito antes de cada pergunta, Quaresma multiplica seu tempo de microfone.

O advogado de defesa foi quem intimou o ex-delegado. Quaresma conseguiu vencer o primeiro embate, minutos antes do início do interrogatório. Edson Moreira prestaria depoimento na condição de autoridade policial – o que é diferente de uma testemunha, que tem obrigação de dizer a verdade e pode ser responsabilizada judicialmente se for desmentida. Quaresma alegou que, por ser delegado aposentado, Moreira não poderia ser ouvido como autoridade policial. A juíza Marixa Fabiane atendeu ao pedido e determinou que Moreira falasse na condição de testemunha.

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Ao longo da tarde, por vários momentos advogado e testemunha trocaram declarações irônicas, sarcasmo e deboche. Até as 15h, não havia perguntas específicas sobre as acusações que levaram o réu à Justiça – a morte e o desaparecimento do corpo de Eliza Samudio. A estratégia da defesa pode ter dois efeitos: um, o pretendido por Quaresma, de tumultuar o cenário; o segundo, irritar a tal ponto os jurados que as alegações da defesa fiquem desgastadas e percam credibilidade.

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Críticas aos métodos da polícia – A estratégia de desqualificar a investigação policial da morte de Eliza teve, pela manhã, um personagem importante: o jornalista José Cleves da Silva. Repórter especializado em apurar casos de corrupção policial, Cleves foi assaltado em 2000. Durante a abordagem, Fátima Aparecida de Abreu Silva, mulher do jornalista, foi morta. Cinco dias depois, ele foi indiciado pelo crime de homicídio por Moreira.

Na época, o repórter investigava uma empresa de caça-níqueis e muitos policiais civis e militares estavam, segundo ele, envolvidos no crime. Pelo menos dez laudos, afirma o jornalista, eram contrários à acusação e não sustentavam o seu indiciamento. Em abril de 2006, ele foi absolvido por unanimidade no Tribunal do Júri. A sentença foi confirmada em todas as instâncias. Contando a história de Cleves, Ércio Quaresma tentou convencer o júri de que Bola é vítima de perseguição. “Marcos Aparecido afirma sua inocência. Ele foi escolhido, nas investigações, como o executor”, afirma o advogado Fernando Magalhães, auxiliar de Ércio Quaresma.

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Moreira e Bola são velhos conhecidos. Quaresma afirma que os dois tiveram o primeiro contato na década de 80, na Polícia Militar de São Paulo, instituição da qual Bola foi expulso em 1992. A assessoria de imprensa de Moreira, no entanto, diz que o encontro ocorreu na década de 90, na Polícia Civil, corporação da qual o réu também foi expulso. Ao longo da tarde, em vários momentos, Bola passou bilhetes para seus advogados. A todo tempo, forneceu detalhes para alimentar perguntas incômodas contra o delegado Moreira. A previsão é de que o interrogatório se estenda até a meia-noite.

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