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‘De quem é a responsabilidade?’, pergunta mãe de vítima

Por Da Redação
29 jan 2013, 07h22

Na noite de sábado, Deivis Marques Gonçalves, de 33 anos, e o irmão, Gustavo, de 25, disseram à mãe, Elaine, que iriam a uma festa na boate Kiss, no centro de Santa Maria, a cerca de 300 km de Porto Alegre. Às 9h ela recebeu a notícia sobre a tragédia e ficou sabendo que perdera Deivis. Gustavo, resgatado com queimaduras pelo corpo e intoxicação respiratória, havia sido transferido para o Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, onde permanece internado no setor de queimados.

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Deivis, enterrado na segunda-feira, é um dos 234 mortos identificados no ginásio Dr. Miguel Sevi Vieiro, que desde a manhã de domingo foi transformado em velório coletivo. Torcedor fanático do Grêmio, tinha uma bandeira de 10 metros do clube. “Eles iam ao jogo e se enrolavam naquela bandeira”, contou a mãe do rapaz, após o sepultamento. Deivis era atendente de farmácia e trabalhava havia três meses na loja da Panvel, uma rede do Rio Grande do Sul. “Ele era um rapaz tímido, mas um excelente funcionário”, contou Marcelo Santos, gerente da farmácia. Marcelo, que passou a manhã de segunda-feira acompanhando o velório no ginásio, ao lado de amigos e parentes de Deivis, foi o responsável pela entrevista de recrutamento do atendente. “O Deivis era um cara boa gente”, afirmou o gerente.

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Nos últimos anos, a família passava por momentos difíceis. O pai de Deivis e Gustavo morreu há dois anos. “E tem dois meses que morreu a avó deles”, conta o tio, Luis Carlos Gonçalves, de 62 anos. Morando com a mãe, Deivis era solteiro e não tinha o hábito de frequentar festas. “No sábado ele disse: �mãe, nós vamos dar uma volta. Se não tiver bom, a gente volta logo�”, recorda Elaine. “Saiu de casa para se divertir e não voltou mais.”

Para ela, a tragédia ocorrida em Santa Maria é consequência da falta de fiscalização da prefeitura e do descaso com esse tipo de casas de shows. “Saíram de casa arrumados, prontos para se divertir, e acontece uma coisa dessas. Isso é responsabilidade de quem?”, pergunta ela.

Preocupada com o filho que está em Porto Alegre, depois de passar a madrugada ao lado do caixão de Deivis, Elaine explicava que o filho ferido tinha sofrido queimaduras no abdome, mas que essa queimadura não era o principal problema. “O problema dele é que foi asfixiado com a fumaça”, dizia ela.

Elaine reclama ainda da demora na identificação dos corpos. Alojados no domingo em um dos pavilhões do ginásio, os corpos das vítimas aguardaram durante todo o dia para serem preparados. “O Deivis só foi identificado às 4 da tarde”, dizia Elaine, que procurara pelo filho desde o começo da manhã. Na segunda-feira, o sepultamento também atrasou. Marcado inicialmente para as 9h, foi adiado para as 11h, mas acabou acontecendo somente ao meio-dia, sob sol forte.

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�Menina risonha� – Com o caixão ao lado do de Deivis, outra família sofria com sua perda. Natana Pereira Canto, que completaria 20 anos no próximo dia 1.º de fevereiro, não conseguiu escapar do incêndio e morreu asfixiada. Solteira, gostava de viajar e de cinema, conta o irmão Micael, de 24 anos. A mãe, Gorete, e o pai, Joel, eram amparados a todo momento por amigos e familiares. “Era uma menina risonha, alegre”, diz a prima Eli Neves Canto, que esteve com Natana até perto da meia-noite, pouco antes de ela seguir com um amigo para a boate. “Nós fomos jantar e depois ela me deixou em casa e foi para a Kiss”, explica Eli. “Ela adorava dançar.”

Natana cursava o terceiro semestre da faculdade de direito da Unifra, de Santa Maria. Ela havia acabado de deixar o emprego de telefonista do Fórum da cidade e se preparava para fazer um estágio em um escritório de advocacia, lembra Eli. “Gorete vai sofrer muito com a perda da filha. Eram muito amigas.” Ao chegar na boate, Natana encontrou-se com outra prima, Daniele, de 22 anos. Quando o fogo começou, Daniele, que sofre de asma, conseguiu manter o controle e sair. Natana não teve tempo.

(Com Estadão Conteúdo)

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