Os livros de história do esporte não deixam dúvida: a Copa do Mundo de 1986, no México, foi de Maradona. Contudo, uma imagem ficou também registrada como nota irônica daquela jornada: o cartão amarelo dado ao camisa 10 argentino pelo juiz brasileiro Romualdo Arppi Filho aos 18 minutos do primeiro tempo da finalíssima entre Argentina e Alemanha. E com razão: Maradona esbravejou, deu uma de prima-dona, quando o árbitro mandou repetir uma cobrança de falta dos alemães — e foi advertido. No dia seguinte ao da partida, ele recebeu de um fã um quadro com a foto daquela cena. “Não mostrei o cartão de propósito, ele mereceu”, diria. A prova de não ter se aproveitado da fama do cracaço viria no segundo tempo: no lance do terceiro gol dos sul-americanos, na vitória por 3 a 2, ele evitou parar o jogo em um lance em que teria havido uma falta e deixou a bola correr, para que então Maradona desse um passe magistral nos pés de Burruchaga.
Arppi Filho foi o segundo brasileiro a apitar uma final de Copa — em 1982, Arnaldo Cezar Coelho comandou Itália e Alemanha. Era o ápice de uma carreira vitoriosa, com mais de 300 jogos internacionais, de um profissional respeitado pelo olhar preciso, mas que os torcedores derrotados, nas mesas de bar, chamavam de “robualdo”, em evidente brincadeira com a excelência de seu trabalho. Ele encerrou a carreira antes do VAR, a respeito do qual tinha opinião firme: “Vai ter jogo com duração de 120 minutos. São três minutos para saber se foi ou não pênalti”. Ele morreu em 4 de março, em Santos, aos 84 anos, de problemas renais.
O Brasil nos traços
A velocidade e a ironia com que o cartunista Paulo Caruso desenhava charges de entrevistados e entrevistadores no Roda Viva, da TV Cultura, acompanhadas de frases emblemáticas ditas no ar, sempre foram uma das marcas do programa desde 1987. Seu irmão gêmeo, Chico Caruso, admirava o dom fraterno. “Eu não conseguiria”, dizia Chico. De evidentes interesses políticos, Paulo fez do traço a tradução do Brasil a caminho da redemocratização, nos anos 1970 e 1980, em O Pasquim e nas revistas Senhor e IstoÉ. Ele foi também colaborador de VEJA. Morreu em 4 de março, aos 73 anos, em São Paulo, de câncer.
Coração feminino
A discrição da compositora, cantora, violonista e pianista carioca Sueli Costa a manteve sempre à sombra, alheia ao estrelato. Mas são dela algumas das mais belas canções feitas para serem interpretadas por vozes femininas. Na lista de clássicos imediatos de Sueli estão joias como Coração Ateu (“O meu coração ateu quase acreditou / na tua mão que não passou de um leve adeus”), na interpretação de Maria Bethânia, em 1975, sucesso da trilha da novela Gabriela, e Jura Secreta (“Só uma palavra me devora / aquela que meu coração não diz”), eternizada por Simone, em 1977. Sueli morreu em 4 de março, aos 79 anos, no Rio de Janeiro, de causas não reveladas pela família.
Publicado em VEJA de 15 de março de 2023, edição nº 2832