Se contar tudo o que conhece dos meandros da política brasileira, o banqueiro Daniel Dantas pode esclarecer até vinte escândalos da história recente do país. Apresentado pela primeira vez à cadeia na semana passada – o banqueiro foi preso e solto duas vezes entre terça e sexta-feira – Dantas envolveu-se em praticamente todos os grandes episódios de relações indevidas entre o estado e empresas privadas na última década no Brasil. A reportagem de capa da edição de VEJA que chega aos leitores neste sábado traz uma lista de escândalos, ocorridos nos governos FHC e Lula, sobre os quais Daniel Dantas teria muito a dizer.
Freqüentador assíduo do noticiário policial, o banqueiro caiu depois que dois de seus intermediários foram filmados enquanto ofereciam 1 milhão de dólares a um delegado da Polícia Federal. O banqueiro pretendia assim excluir seu nome e o de sua família de uma investigação sobre crimes financeiros que vão de gestão fraudulenta a evasão de divisas, passando pelo uso indevido de informações privilegiadas. O flagrante foi a única manobra de inequívoco brilho da operação Satiagraha da PF, de resto uma operação mambembe.
Conforme ilustra a reportagem, Dantas preso ou Dantas solto é assunto da Justiça. Mas Dantas calado ou Dantas contando tudo o que sabe é do interesse do Brasil. Sua carreira e fortuna foram construídas inteiramente na zona de sombra gigantesca projetada pelo capitalismo de estado. Das privatizações da era FHC ao mensalão de Lula, o dedo de Dantas esteve metido em maior ou menor grau.
Cronologia
Grampo e espionagem – O primeiro destes escândalos, revelado por VEJA em 1998, mostrou grampos telefônicos em que o ex-ministro das ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e o então presidente do BNDES, André Lara Resende, discutiam formas de beneficiar Dantas na aquisição do melhor quinhão do leilão de privatização da Telebrás, a até então empresa monopolista de telecomunicações no país. Ambos saíram do governo depois das revelações de VEJA.
Em 2004, já no governo Lula, o banqueiro contratou a empresa de espionagem Kroll para bisbilhotar, ao espanto da lei, autoridades, jornalistas e juízes. Com isso, pretendia convencer o governo petista a manter sob seu controle os fundos de pensão estatais – o que conseguiu até 2006.
Com o mesmo propósito, o de agradar, corromper e ameaçar o poder, Dantas destinou 152 milhões de reais para abastecer o duto do mensalão, esquema por meio do qual o governo comprava deputados da base aliada. Ainda pagou à Gamecorp, empresa de jogos eletrônicos do filho do presidente Lula, 100 000 reais mensais para fornecer conteúdo para o portal de internet da Brasil Telecom.
Saiba o que o banqueiro pode esclarecer sobre estas e outras questões na íntegra da reportagem (exclusiva para assinantes).