A sociedade civil buscará expressar seu descontentamento durante a Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, um evento paralelo à conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável que receberá 15 mil participantes por dia no Parque do Flamengo, segundo os organizadores.
“Sabemos que a conferência oficial Rio+20 patina. Como esperamos pouco progresso para que os países membros se comprometam a reduzir suas emissões de CO2 e preservar melhor a biodiversidade, a Cúpula dos Povos será o espaço que a sociedade terá para expressar seu descontentamento”, disse Bazileu Alves Margarido, do Instituto Democracia e Sustentabilidade.
A Cúpula dos Povos será realizada por iniciativa de 200 organizações ambientalistas e movimentos sociais do mundo inteiro. Movimentos indígenas e de negros, mulheres e jovens também participarão, para lutar contra o mercantilismo e defender os bens comuns. O governo brasileiro é seu maior financiador, com 5 milhões de dólares.
Seiscentas atividades, entre debates, assembleias, manifestações e shows, acontecerão neste evento paralelo, cujo lema é “Venha reinventar o mundo!”.
Duzentas experiências práticas, batizadas de “territórios do futuro” e já implantadas em diversos países, como o uso da energia solar, também serão apresentadas ao público.
“A Cúpula dos Povos será um espaço de denúncia, mas esperamos também articular os movimentos sociais em defesa da soberania dos povos e de seus territórios, contra o avanço do capitalismo verde”, explicou Rui Varres, porta-voz do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).
“Minha expectativa em relação à Rio+20 é que possa se transformar na Praça Tahrir da crise ambiental mundial, e que a opinião pública internacional possa dizer aos líderes que não se pode reduzir as expectativas ante uma crise que se agrava a cada dia”, disse recentemente à AFP a ex-candidata à presidência Marina Silva, citando a praça do Cairo onde os egípcios se mobilizaram contra o governo em 2011.
Segundo o Comitê Facilitador da Sociedade Civil (CFSC) para a Rio+20, a “economia verde” defendida pela conferência oficial que reunirá 116 chefes de Estado e governo de 20 a 22 de junho é “um termo enganoso, para designar outra etapa do acúmulo capitalista”.
“Traremos para a sociedade as soluções que os povos já encontraram e lutam para implantar, e que são as boas armas contra esse capitalismo verde que busca, sobretudo, transformar a natureza em ativos financeiros negociados em bolsa”, disse Varres.
Várias manifestações serão realizadas durante esta reunião paralela, a mais importante em 20 de junho, dia de abertura da cúpula oficial da ONU, no Centro do Rio.
O protesto será antecedido por uma passeata de mulheres em 18 de junho, e por uma marcha contra o novo Código Florestal brasileiro, que ambientalistas consideram uma ameaça à Amazônia, maior floresta tropical do planeta. “Vamos atrair a atenção do mundo para esse retrocesso na luta contra o desmatamento”, assinalaram os organizadores.
Na noite de 17 de junho, uma vigília inter-religiosa contra a intolerância acontecerá no Aterro do Flamengo.
Segundo os organizadores, a Cúpula dos Povos também será uma oportunidade para se fazer um balanço dos progressos registrados desde a Cúpula da Terra, em 1992, no Rio de Janeiro, quando a sociedade civil foi excluída dos debates.