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Cruz Vermelha Brasileira troca presidente suspeito por outro indiciado em CPI

Walmir Serra, que depositava dinheiro no Maranhão, foi demitido. Novo dirigente é Nício Lacorte, acusado de desviar recursos em Santa Catarina. Troca de comando garante permanência de aliados no comando da entidade por mais um ano

Por Pâmela Oliveira e Leslie Leitão, do Rio de Janeiro
11 set 2012, 18h23

“Temos solicitado prestações de contas. Isso não é normal nem bom, porque afeta a imagem da Cruz Vermelha no Brasil e internacionalmente. Não podemos aceitar esse tipo de comportamento porque vivemos de nossa credibilidade”, disse Gustavo Ramirez, representante da Federação Internacional da Cruz Vermelha

As denúncias de desvio de dinheiro doado para a Cruz Vermelha derrubaram o presidente e o vice-presidente da instituição no Brasil. Walmir de Jesus Moreira Serra, presidente da Cruz Vermelha Brasileira, e Anderson Choucino, o vice, pediram demissão após uma reunião realizada ao longo desta terça-feira. O pedido foi, na verdade, uma negociação entre os representantes do conselho da entidade, que disseram não admitir mais as “infrações ao estatuto” da entidade, ocorridas na gestão de Serra e Choucino. Entre as irregularidades estão a falta de prestação de contas e o não pagamento de uma anuidade devida à Cruz Vermelha Internacional – o débito, acumulado desde 1994, que já atinge 3,4 milhões de francos suíços (ou 4 milhões de dólares).

Uma chapa única, liderada por Nício Brasil Lacorte, que presidia a filial do Rio Grande do Sul, foi eleita e já assumiu o comando. Começa, então, outro problema: Lacorte foi indiciado por uma CPI da Câmara Municial de Balneário Camboriú. Ele figura entre os envolvidos no desvio de recursos destinados à gestão de um hospital na cidade. A prefeitura de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, cancelou o contrato que previa repasse de 82 milhões de reais para administração do hospital Ruth Cardoso. A gestão do contrato estava a cargo da filial gaúcha. Do total repassado pela prefeitura à entidade, cerca de 100 mil reais foram parar nas mãos do Instituto Interamericano de Desenvolvimento Humano (Humanus), de São Luís do Maranhão. O Humanus já esteve registrado em nome da mãe do vice-presidente nacional da Cruz Vermelha, Anderson Marcelo Choucino. O dinheiro teria sido usado para quitar dívidas com agências de viagens e repassados à filial maranhense da Cruz Vermelha.

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Lacorte aparece, no relatório da CPI, com papel semelhante ao de Walmir Serra – também indiciado. Diz o item 5.4 do relatório: “Os Senhores Nicio Brasil Lacorte e Walmir de Jesus Moreira Serra Júnior, na qualidade de dirigentes da Cruz Vermelha Rio Grande do Sul, apropriaram-se de verbas que deveriam ser utilizadas no atendimento hospitalar do Hospital Ruth Cardoso ao encaminhar mais de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) a duas outras entidades (Cruz Vermelha Nacional e Cruz Vermelha Nacional do Maranhão), sem previsão e sem justificativa plausível, incorrendo, assim, nas sanções do art. 312 do Código Penal Brasileiro; além disso, também deram aplicação diversa à verbas públicas ao adquirirem produtos e em especial veículo camionete Chevrolet S10, no valor de R$ 79.092,45 em nome de pessoa estranha ao contrato, sem qualquer previsão legal, infringindo o art. 315 do Código Penal Brasileiro; além de terem incorrido nas sanções dos arts. 10º. e 11 da Lei 8.429/92, por terem praticado atos de improbidade administrativa que causaram prejuízos ao erário e atentaram contra os princípios da administração pública, especialmente o da legalidade.

Nesta terça-feira, VEJA obteve um ofício que prova que era Walmir Serra quem determinava o destino do dinheiro. A empresa Mitsui & Co. S.A., que doou cerca de 150.000 reais para as vítimas da tragédia na serra fluminense, foi orientada, em um ofício enviado por Serra, a depositar o dinheiro em uma conta do Banco do Brasil em São Luiz do Maranhão. A filial maranhense é dirigida pela irmã de Serra, Carmen Serra.

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As irregularidades começaram a ser levantadas pela funcionária Letícia Del Ciampo, que assumiu o escritório de Petrópolis da entidade. Depois de encaminhar documentos ao Ministério Público e de dar declarações públicas sobre as irregularidades, ela recebeu ameaças de morte e pediu proteção policial.

Na reunião desta terça-feira, foi confirmado oficialmente o que VEJA noticiou em agosto: não se conhece o destino do dinheiro arrecadado para ajudar as vítimas da chuva na região serrana, do terremoto no Japão, e da crise humanitária na Somália. As três campanhas foram realizadas em 2011, na gestão de Serra. O rombo, no entanto, deve ser ainda maior do que o estimado inicialmente. De acordo com Gustavo Ramirez, representante regional da Federação Internacional da Cruz Vermelha, “há muito tempo” a Cruz Vermelha Brasileira não presta contas. “Temos solicitado prestações de contas. Isso não é normal nem bom, porque afeta a imagem da Cruz Vermelha no Brasil e internacionalmente. Não podemos aceitar esse tipo de comportamento porque vivemos de nossa credibilidade”, disse.

O chefe da delegação regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Felipe Donoso, manifestou preocupação com o abalo à imagem da instituição. “É a primeira vez que vejo uma situação como essa. A partir do momento em que não temos a garantia e a possibilidade de prestar contas, nossa entidade está ameaçada”, disse Donoso.

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VEJA descobriu que a Embaixada da África do Sul destinou 230.000 reais aos desabrigados da serra fluminense e nunca recebeu um relatório sequer sobre a utilização do dinheiro. VEJA teve acesso a uma lista de empresas e bancos que juntos doaram cerca de 1,5 milhão de reais para os desabrigados fluminenses. A Cruz Vermelha do Japão registra o recebimento de 164 000 reais para as vítimas do tsunami, mas os recursos eram provenientes apenas da Cruz Vermelha de São Paulo. O dinheiro arrecadado pelo escritório nacional foi parar nas contas secretas do Maranhão, como mostrou a reportagem.

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