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Como Cristian Cravinhos abusou da liberdade e voltou à cadeia

Condenado a 38 anos de prisão pela morte do casal Von Richthofen, em 2002, ele voltou a ser preso nesta semana por tentativa de suborno

Por Ullisses Campbell
Atualizado em 19 abr 2018, 22h08 - Publicado em 19 abr 2018, 19h55

Depois de passar sete meses e 24 dias livre, Cristian Cravinhos, de 42 anos, voltou para a prisão acusado de agredir a ex-mulher e subornar os policiais para escapar do flagrante. Desde os primeiros dias de liberdade, ele vinha abusando da benevolência da Justiça, que lhe concedeu o regime aberto em 2017, apesar de a sua sentença de 38 anos de cadeia por ter matado os pais de Suzane von Richthofen há 16 anos só vencer em 2037. Cristian costumava vestir jaqueta de couro e sair em sua possante e barulhenta moto Yamaha modelo MT-09 ABS ano 2018 (veja abaixo), avaliada em 40.000 reais, pelas ruas de São Paulo até a madrugada – pelas regras do regime aberto, ele deveria estar em casa às 21h. A vida agitada dele envolvia noitadas, bebida e até saídas da cidade, coisas proibidas para quem está pagando pena no sistema mais brando. Até porque, mesmo livre, Cris, como é chamado pelos amigos, ainda devia muito à Justiça.

(Arquivo pessoal/Reprodução)

Apesar de levar uma vida indiscreta de playboy, foi no campo amoroso que Cristian foi fisgado pela Justiça e levado de volta à cadeia. Quando estava preso, durante uma saidinha, ele conheceu Linny Silva, de 29 anos, com quem teve uma filha. O namoro foi às mil maravilhas, com cenas de amor na cela de visita íntima da penitenciária de Tremembé, até o final de 2015, quando Cristian passou a se interessar por um preso chamado Duda, com quem começou um romance paralelo. Quando Linny descobriu que o namorado tinha outro, ela fez um barraco no pátio da penitenciária, mas isso não foi suficiente para ele romper com Duda. Já fora da cadeia, Cristian contou a VEJA como se apaixonou pelo colega de cela e admitiu não conseguir abrir mão do amor que sentia pela mãe de sua filha. Ele chegou a escrever mais de 100 cartas de amor a Duda quando estava dentro e fora da cadeia.

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Em liberdade, Cristian Cravinhos resolveu manter o tumultuado relacionamento com Linny. Em sete meses, ele terminou e voltou cinco vezes com ela. O casal protagonizava brigas e discussões – mas eles negam que tenham se agredido. Linny instalou um localizador no celular de Cristian e passou a monitorar os seus passos mesmo quando eles estavam rompidos. Foi com esse dispositivo que ela localizou o ex-namorado, na última terça-feira à noite, num bar em Sorocaba (SP), e seguiu até lá. Ao passar pela rua de carro, ela viu que Cristian estava com uma mulher sentado à mesa do bar, na calçada, em cenas românticas. Linny, então, partiu para cima dele. Os dois começaram uma discussão, até que ela foi empurrada por ele para dentro do carro. Tanto Cristian quanto Linny garantem que não houve agressão física. “Nossas discussões sempre foram intensas, com grito e muita gesticulação, mas nunca houve socos, como dizem por aí”, disse ela.

A violência verbal e os gestos bruscos com que Cristian lançou mão para expulsar a ex-namorada de lá, contudo, chamaram a atenção dos frequentadores do bar e a polícia foi acionada. O casal ainda discutia num posto de gasolina ao lado do bar quando os policiais chegaram e identificaram a moto possante de Cristian, comprada à vista. Ao fazer uma pesquisa simples no tablet, os agentes descobriram que a moto pertencia a Cristian Cravinhos de Paula e Silva. Na mesma pesquisa, veio a informação de que ele cumpria pena por assassinato no regime aberto. Os policiais chegaram até ele e Cristian tentou suborná-los. “Eu sou o Cristian Cravinhos. Tenho 1.000 reais na minha carteira e posso te conseguir mais 2.000 reais com o meu irmão Daniel”, propôs. “Aquela moto é sua?”, perguntou um dos guardas. “Sim, é minha. Ela está à venda. Eu posso dividir o dinheiro da moto com vocês”, sugeriu Cristian, que acabou preso em flagrante por tentativa de suborno.

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Curiosamente, foi também uma moto que levou os policiais que investigavam a morte do casal von Richthofen até Cristian Cravinhos, numa fase da investigação em que se desconfiava que o crime tinha sido cometido pelos empregados da casa. Cristian ajudou o irmão a matar os pais de Suzane a pauladas na noite de 30 de outubro de 2002. Logo após o assassinato, embolsou 5.000 dólares e 8.000 euros que estavam no cofre da casa. No dia seguinte, ele foi comprar uma moto Suzuki modelo GSXR 1100. Ao se exibir com o veículo no bairro onde morava, os vizinhos passaram a desconfiar. Até que o dono da concessionária, Marcos Nahime, foi interrogado e contou aos policiais que Cristian havia pago a moto dólares e euros. A partir desse depoimento, ele foi preso pela primeira vez como suspeito do crime. Até que confessou tudo.

Desde que foi levado de volta para a cadeia, há dois dias, Cristian caiu em depressão. Ele tem dito que não vai suportar ficar encarcerado novamente. Diz que sente falta do irmão, Daniel, com quem conviveu a maior parte da vida de preso. Antes de ganhar a liberdade, Cristian Cravinhos estava há quatro anos no regime semiaberto de Tremembé, conhecido pela quantidade de presos por crimes célebres que estão lá.

No regresso ao sistema penitenciário, ele vai começar do zero, enfrentando dez dias no regime de inclusão – uma espécie de solitária para se readaptar ao presídio – e depois segue no regime fechado, do qual ele tinha saído faz seis anos. Quando ouviu o primeiro estampido da porta da cela batendo, seguido do estalo do cadeado da tranca metálica, ele desabou em choro. Essas lágrimas poderiam ser evitadas se ele tivesse ouvido os conselhos da mãe e do irmão Daniel, que sempre o alertaram nesses sete meses vida livre que as aventuras perigosas de Cristian Cravinhos poderiam lhe custar caro. Deu no que deu.

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