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Começa a temporada de alagamentos na Vila Itaim

Enquanto autoridades fazem jogo de empurra, moradores improvisam soluções para não perder tudo na época de chuvas; problema persiste há três anos

Por Marina Pinhoni
30 jan 2012, 17h21

“Não está nada bem por aqui”, constata a diarista Francisca Maria Araújo, ao chegar em casa, de galochas, depois de atravessar com água na altura do joelho um malcheiroso rio formado pela enchente. Francisca mora no bairro Vila Itaim, na Zona Leste de São Paulo, alagado desde o dia 19 por causa das chuvas – e do descaso do poder público.O site de VEJA esteve lá na semana passada e teve de usar um bote da Defesa Civil para se locomover. Nesta segunda-feira, mesmo com o tempo ensolarado, ainda havia três ruas alagadas. “É um absurdo”, diz. Há três anos os moradores de lá passam pela mesma situação quando chega a época de chuvas, no verão. A Vila Itaim faz parte do Jardim Pantanal, que fica na várzea do Tietê, para onde o rio transborda durante as cheias. A água da chuva mistura-se ao esgoto e invade as casas. Neste ano, contudo, Francisca tem um motivo a mais para se preocupar: seu marido, Antônio Silva Araújo, está na fila para receber um transplante de coração e não pode adoecer. “Ano passado tive um problema grave no pé por pisar nessa água suja”, diz Antônio. “Mas agora eu não posso mais correr esse risco. Se eu pegar alguma infecção, pode ser fatal.” Promessas – Em 2010, o Jardim Romano, bairro vizinho, passou dois meses debaixo d´água. Sob os holofotes da imprensa, foi anunciada uma parceria entre a prefeitura e o governo do estado que resolveria a situação no local. Foram investidos 70,5 milhões de reais na construção de um dique e um sistema de bombas e galerias para o escoamento e armazenamento das águas em um reservatório. No verão de 2011, o problema do Jardim Romano estava resolvido, mas a Vila Itaim continuava a alagar. O então subprefeito de São Miguel Paulista, Milton Persoli, garantiu ao site de VEJA que seria construído na Vila Itaim, ainda naquele ano, um dique semelhante ao que foi feito no Jardim Romano. Entretanto, um ano se passou e a promessa não foi cumprida. A prefeitura, agora, se exime da responsabilidade de resolver o problema no local. E inaugura um jogo de empurra com o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), órgão estadual. A mesma subprefeitura que em 2011 prometeu resolver as enchentes na Vila Itaim agora diz que não pode fazer nada. Mudou o subprefeito, mas a gestão, é bom lembrar, é a mesma. Em março de 2011, Luiz Massao Kita, assumiu a subprefeitura de São Miguel Paulista. “O nosso trabalho é de minimização de danos. Ele ajuda, mas não resolve”, disse Massao Kita ao site de VEJA. De acordo com o subprefeito, 200 pessoas atuam na área, entre agentes da Defesa Civil, saúde, assistentes sociais, limpeza pública e segurança. Há botes para transportar os moradores de casa até uma área seca. Três caminhões drenam as ruas alagadas e jogam a água de volta para o Rio Tietê. Assim que chove, a água drenada volta às ruas. Jogo de empurra – O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, afirmou na semana passada que o problema da Vila Itaim só seria resolvido com a construção do Parque Várzeas do Tietê. O projeto de autoria do DAEE, do governo do estado, prevê ações na área para a recuperação da várzea do rio, mas sua implantação completa, ao longo de 75 quilômetros de extensão, só deve acontecer no final de 2020. Kassab foi desmentido pelo próprio DAEE. O órgão não garante que o Parque Várzeas do Tietê acabará com as enchentes no bairro. Em nota oficial, o DAEE informa que “vem desenvolvendo serviços de limpeza e desassoreamento desde outubro de 2010 no referido trecho”, mas que “as enchentes na Vila Itaim são decorrentes de problemas com o sistema de microdrenagem, que é de responsabilidade municipal”. O prefeito então mudou o discurso. Em uma coletiva de imprensa, afirmou que não existe um projeto para a região da Vila Itaim que não seja a transferência das famílias. A medida, contudo, vai contra a vontade dos moradores que tem casas regularizadas no bairro, como é o caso da família Araújo. “Eu paguei caro pela escritura da casa. Não posso simplesmente abandoná-la, porque é o único patrimônio que nossa família tem”, diz Francisca. “Não estamos esperando outra moradia, estamos esperando melhorias nas ruas. Se foi feito no Jardim Romano, por que não podem fazer aqui também?” Improviso – Enquanto a solução não chega, os moradores tentam se prevenir dos estragos da chuva da maneira que podem. “Minha geladeira está suspensa, o guarda-roupas também já está em cima de um cavalete, mas não tenho muito mais o que perder, foi tudo no ano passado”, diz o porteiro José Ferreira Costa, de 36 anos. A merendeira Kelly Cristina Silva também tenta proteger os móveis novos, comprados após os estragos dos anos anteriores. “A gente só consegue recuperar as coisas aos poucos, por isso eu levantei tudo com caixotes”, afirma Kelly. “Mas quando começa a chover não tem jeito. A gente fica apavorada.” Já o polidor Aleoni Aristides, de 58 anos, que mora há 22 anos na mesma casa, chegou a levantar muretas para tentar barrar a água, mas sem sucesso. “Não podemos nem fazer uma festa de fim de ano que está tudo alagado. Chega Natal, Ano Novo, os corredores ficam cheios de água”, diz Aristides. “O culpado disso não é Deus. É o governo.” Leia também:

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