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Com o triplo da multidão, Rio tem noite de pancadaria

Protesto com 300 mil pessoas termina em quebra-quebra que devastou a Avenida Presidente Vargas. Policiais cercaram a prefeitura sem dar acesso aos manifestantes. Durante o protesto, houve briga entre partidos políticos

Por Cecília Ritto e Pâmela Oliveira
Atualizado em 10 dez 2018, 11h20 - Publicado em 21 jun 2013, 01h10

O cenário de depredação aponta o novo rumo que a onda de protestos toma no Rio: a da radicalização, por objetivos indefinidos e pela tentativa de uma revolução que parece abominar as instituições democráticas

Com o triplo do tamanho da passeata da Avenida Rio Branco, a manifestação desta quinta-feira no Rio de Janeiro repetiu, em versão ampliada, o roteiro dos atos de protesto em todo o Brasil: um mar de gente, motivado por um apanhado extenso e difuso de reivindicações, que fluiu de forma pacífica até desembocar em um confronto de um grupo pequeno com a polícia. Foram 300 mil pessoas, de acordo com cálculos da Coppe/UFRJ, em uma caminhada da Candelária à prefeitura, na Cidade Nova. Em frente ao Centro Administrativo São Sebastião (CASS), onde trabalha o prefeito Eduardo Paes, os manifestantes encontraram um cordão de isolamento formado por homens do Batalhão de Choque e do Bope, com escudos e apoio da cavalaria da PM. Deu-se, então, o conflito que roubou a cena da noite. Fogos de artifício foram lançados na direção da tropa, e, com a agitação de cavalos, policiais e manifestantes, voaram pedras de um lado, balas de borracha do outro, uma sequência de bombas de efeito moral e quebra-quebra.

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Apesar da repetição de que o vandalismo “não pode ser confundido com a manifestação”, como querem os defensores do movimento, dificilmente a percepção da população será a mesma a partir de agora. O maior protesto desde o início do levante deixa uma certeza: apesar do caráter majoritariamente pacífico e das boas intenções da maioria, não é mais possível garantir que passeatas ou grandes atos de mobilização do movimento de agora terminem sem violência – e não há evidência de que isso parte da polícia, desta vez. Não resta dúvida também de que quem causa o conflito não representa a maioria. No entanto, isso não tem servido para evitar que a pancadaria se repita. Até o momento, não houve manifestações de repúdio dos líderes do movimento – que, aliás, não são identificados com precisão.

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Pelo lado das autoridades, não é diferente, e há uma série de denúncias e imagens sobre abuso policial. O prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral não se manifestaram. Paes, que acompanhou tudo do Palácio da Cidade, informou que se pronunciaria assim que o protesto estivesse definitivamente encerrado. A expectativa de pronunciamento da presidente Dilma Rousseff é para esta sexta-feira, após uma reunião de emergência em Brasília.

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Até a 0h30 desta sexta-feira, havia informação sobre 62 feridos, a maior parte deles no hospital Souza Aguiar, no Centro. Um repórter da GloboNews levou um tiro de borracha no rosto e foi exibido ensanguentado, relatando sua experiência traumática antes de ser levado para um hospital. Um carro de reportagem do SBT foi incendiado. Ao longo da Presidente Vargas, a partir das 20h, um grupo de vândalos que caminhava de forma dispersa, mas que reunia certamente algumas centenas de pessoas, passou a destruir o que via pela frente. Atacou mobiliário urbano na Central do Brasil, ateou fogo e invadiu o Terreirão do Samba – área pública do município onde são realizados shows populares e, durante a Copa das Confederações, exibidos jogos pela TV Globo -, destruiu pontos de ônibus, sinais de trânsito, placas, radares de velocidade.

A transmissão ao vivo da GloboNews, que mostrou entre as 17h e as 19h uma passeata pacífica, foi mantida até as 23h. Depois de duas horas de manifestação, Ou seja, duas horas de manifestação, quatro horas de destruição, ataques a prédios públicos, vandalismo e brigas.

Uma das cenas assustadoras da noite ocorreu em frente ao hospital Souza Aguiar. Para dispersar um princípio de tumulto, foram lançadas bombas de gás lacrimogêneo na entrada da emergência. Pessoas correram para se abrigar dentro do hospital, e parte do gás foi levada para onde trabalhavam médicos, atendendo pacientes. Em outro momento marcante, um grupo de manifestantes se abrigou no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), da UFRJ, onde, na noite de terça-feira, foram traçados os rumos da manifestação. Como a polícia não pode entrar, por se tratar de uma universidade federal, o local funcionou como abrigo. Quem saía, no entanto, era detido. O deputado Marcelo Freixo, do PSOL, e a OAB intermediaram a libertação do grupo, que só ocorreu perto da meia-noite.

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Desta vez, o policiamento foi muito mais presente do que na segunda-feira. O que não foi suficiente, ainda, para evitar tumulto. Cerca de 300 homens se posicionaram desde cedo ao redor do prédio da prefeitura, com policiais do Batalhão de Choque (BPchoque), da cavalaria e do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Dois “caveirões”, os blindados usados em tiroteios com traficantes, circularam nos momentos de maior tensão. Mesmo quando o conflito estava contido, os policiais avançaram no sentido contrário ao da passeata, expulsando os vândalos, que seguiam promovendo a quebradeira.

O protesto não conseguiu chegar à sede da prefeitura, como ocorreu em São Paulo, onde o prédio foi depredado. Os confrontos, no entanto, se espalharam pela região da Cidade Nova. Os policiais conseguiram colocar em prática uma separação: conforme os manifestantes pacíficos se retiravam do local, ficava isolado o grupo radical, que atirava pedras e tudo o que via pelo caminho contra os policiais. O Bope entrou em ação quando foi preciso desocupar o viaduto que liga a avenida à Praça da Bandeira – de onde eram lançados fogos de artifício em direção à tropa.

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A Força Nacional de Segurança (FNS), que bloqueou os acessos ao Maracanã, foi deslocada para a prefeitura por volta das 22h. Ao passar pelos manifestantes pacíficos, os homens da FNS foram aplaudidos. Nenhum efetivo, no entanto, daria conta do que ocorria nesse momento: grupos dispersos promoveram ataques ao mesmo tempo na Central, no Terreirão do Samba, ao longo da Presidente Vargas, na Lapa, no Passeio Público, na Cinelândia. Um grupo se deslocou para a frente do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, mas foi contido pela polícia pouco antes das 23h – quando passaram a perambular pelo bairro.

O cenário de depredação aponta o novo rumo que a onda de protestos toma no Rio: a da radicalização, por objetivos indefinidos e pela tentativa de uma revolução que parece abominar as instituições democráticas. Passadas seis horas do início do protesto, a imagem do centro do Rio, às 23h, era de devastação. A Avenida Presidente Vargas, acostumada a receber multidões em blocos de carnaval, nunca sofreu impacto tão grande nos últimos anos. No meio do vai e vem de policiais a cavalo e em carros, uma das principais vias do Rio sofria a ação de vândalos, que foram à manifestação barbarizar as ruas. Nas pistas fechadas ao trânsito, as pedras jogadas ao chão traçavam o caminho da parte nociva do protesto, desde a altura da Central do Brasil até a Candelária. Lojas foram assaltadas, objetos lançados, muros pichados. Pelo caminho, pedaços de vidros eram encontrados aos montes no chão. Todas as estações de ônibus estavam depredadas, algumas até mesmo contorcidas.

As latas de lixo foram retiradas do lugar, e, em vez de se manterem coladas ao poste, estavam no meio da rua, alimentando pequenas fogueiras na Presidente Vargas. Grades estavam caídas, misturadas ao lixo deixado como rastro pelos vândalos. Alguns sinais de trânsito e pardais foram depredados e ficaram estirados na pista. Havia também orelhões no meio da rua, onde, por volta das 22h40, ainda se sentia um forte cheiro de fumaça. Lembranças de uma noite em que o centro do Rio mais parecia uma praça de guerra.

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