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Com frio recorde, moradores de rua têm colchões e papelões retirados pela GCM

Segundo Pastoral do Povo de Rua, cinco mendigos morreram em decorrência do frio nos últimos cinco dias

Por Da Redação
14 jun 2016, 12h40

Após o dia mais frio registrado em São Paulo em 22 anos, com 3,5°C de temperatura mínima, moradores de rua reclamaram de ter colchões e papelões, que são usados como proteção, levados por agentes da Guarda Civil Metropolitana, ligada à prefeitura da capital. A GCM admitiu a retirada de itens, mas afirmou que deixa objetos pessoais e que a ação é para evitar a “privatização” de espaços públicos pela população de rua.

Nesta segunda-feira, mais um homem foi achado morto na rua, no centro de São Paulo. A Pastoral do Povo de Rua, vinculada à Igreja Católica, afirma que pelo menos cinco pessoas já morreram em São Paulo por causa do frio dos cinco últimos dias – a prefeitura não confirma. No domingo, três moradores de rua foram encontrados mortos, um na Av. Paulista, no Centro, e outros dois em Santana, na Zona Norte. Na sexta-feira, um outro mendigo já havia sido achado sem vida por seguranças do Metrô na Estação Belém, Zona Leste.

O comandante da GCM, inspetor Gilson Menezes, disse que seus agentes apoiam as ações das subprefeituras para evitar a permanência de barracas nas ruas da cidade e, por isso, retiram os papelões. “Damos auxílio nesse trabalho de remoção de material inservível. E são retirados os colchões, realmente. É para tirar moradias precárias. A ideia de retirar os colchões é evitar que o espaço público seja privatizado. Porque existe também uma demanda de reclamações de muitos cidadãos, que dizem que, muitas vezes, têm de andar no leito carroçável (a rua) porque têm dificuldade de caminhar pela calçada”, afirmou o comandante.

Menezes, por outro lado, disse que há duas normas internas da GCM que regulamentam a remoção do material e vetam expressamente a retirada de cobertores. “Isso seria condenável, ainda mais nesses dias frios”, afirmou.

“Nenhum morador de rua é importunado à noite na cidade de São Paulo. Ao contrário, o trabalho da GCM no período noturno é orientar as pessoas a procurar um abrigo e, caso solicitem, auxiliar no encaminhamento dessa população”, garantiu o chefe da Guarda. Ele reconheceu, no entanto, que os guardas-civis, pelas manhãs, auxiliam agentes das subprefeituras em um trabalho de “reorganização do espaço público”.

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Frio – Alvo dessas operações, os moradores de rua afirmam que tudo o que juntaram para escapar do frio é levado pelos guardas, incluindo as proteções de papelão. “Eles passam aqui às 7 horas. O que a gente ainda não guardou, eles levam”, contou a moradora de rua Sara Patrícia, de 49 anos, que vive na Praça 14 Bis, no Bexiga, região central. Dona de cinco cães e quatro gatos, a moradora afirmou que não teria com quem deixar seus animais de estimação caso fosse para os abrigos municipais.

Ainda na praça, outro morador de rua, João da Luz, de 60 anos, disse que, há duas semanas, seus papelões, madeira e cobertores foram levados. “Já arrumei outros, mas agora deixo em um bar aqui perto.”

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Na Zona Leste, a também moradora de rua Ana Paula de Jesus Souza, de 37 anos, relatou que teve cobertores, roupas e até documentos e remédios levados por guardas. “Estava tudo no meu carrinho. Tinha comida, remédio, ração para os cachorros”, reclamou.

Após o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, postar um vídeo no Facebook sobre o caso e cobrar explicações do prefeito Fernando Haddad (PT), ela afirmou que o material foi devolvido. Ontem, sem meias e enrolada em três edredons sujos, ela tossia enquanto explicava por que não queria ir para abrigos. “Lá, tenho de acordar muito cedo e não consigo caminhar de volta para cá por causa da artrose.”

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as temperaturas devem subir um pouco nesta semana: com mínima de 11ºC amanhã e 12° C na quinta-feira.

(Com Estadão Conteúdo)

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