Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Chefe da investigação do caso Marielle protegeu miliciano que testemunhou

Rodrigo Ferreira, preso neste ano, foi orientado por policial responsável por coordenar apuração do crime

Por Leandro Resende
Atualizado em 9 set 2019, 17h16 - Publicado em 9 set 2019, 16h26

O policial civil responsável por chefiar a equipe que investiga a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes ajudou e protegeu o sargento da PM e miliciano Rodrigo Jorge Ferreira, testemunha que apontou o vereador Marcelo Siciliano (PHS-RJ) como mandante do crime. Segundo a Polícia Federal, Marco Antonio de Barros Pinto, policial responsável por coordenar a apuração do episódio, cometeu “irregularidades” ao lidar com Ferreira, que está preso desde maio deste ano por participar da milícia de Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica.

Entre novembro de 2018 e maio deste ano, a Polícia Federal investigou as tentativas de atrapalhar a apuração do caso e concluiu que Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferrerinha, e sua advogada, Camila Nogueira, inventaram uma história para confundir a Polícia Civil do Rio. Em depoimento à PF, ele admitiu que criou a informação que relacionava Orlando Curicica e Marcelo Siciliano ao assassinato de Marielle, com o objetivo de reagir às ameaças de morte a que sofria. A vereadora foi morta no dia 14 de março de 2018 e o mandante do crime ainda é investigado.

No âmbito dessa “investigação da investigação”, foram encontradas diversas mensagens entre Ferrerinha e o policial Marco Antonio, lotado na Delegacia de Homicídios. De acordo com o inquérito, era ele quem coordenava o trabalho de campo das apurações do caso, comandado pelo delegado Giniton Lages até março deste ano. E a PF concluiu que, entre outros pontos, Marco Antonio não duvidou da versão apresentada por Ferreirinha e sim, além de protegê-lo, agiu para “corrigir falhas e fazer ajustes em seus depoimentos, em vez de tomá-las como alerta e buscar auditar a versão de forma escorreita”.

O ápice dessa relação íntima ocorreu na manhã do dia 21 de fevereiro deste ano. A Polícia Federal deflagrou operação contra Ferreirinha e foi buscá-lo em sua casa. O miliciano estava em São Paulo e avisou Marco Antonio da presença dos agentes, que levaram sua mãe e sua ex-namorada para prestar depoimento. O policial civil lhe passou orientações: que Ferreirinha ficasse na capital paulista e, depois, que dissesse a sua advogada para entrar numa representação na corregedoria da PF contra a operação.

Continua após a publicidade

Meses antes, em junho do ano passado, quando a versão de Ferreirinha para morte de Marielle dominava o noticiário e pautava as ações da Polícia Civil, o policial Marco Antonio, em mensagens trocadas com Camila, advogada do miliciano, deixa claro que o seu objetivo era “manter a credibilidade do amigo (Ferreirinha)” e de como a versão foi construída. “Pode até ser uma questão retórica, ou falha na expressão do servidor, mas parece claro que o interesse maior dos investigadores não deveria ser ‘manter a credibilidade do amigo’, mas aferir a credibilidade da testemunha”, diz o relatório da PF.

A PF também encontrou outros registros de conversas do miliciano e do policial civil. Em um áudio, enviado em 7 de dezembro de 2018, Marco Antonio reafirma seu empenho em ajudar Ferreirinha a mudar de batalhão da Polícia Militar. “Amigo, bom dia. Calma, calma, já falei pra você, calma. Ontem o Dr Giniton [delegado responsável pela primeira fase da investigação da morte de Marielle e Anderson] conversou com o chefe de polícia, ele falou que está resolvido. Está resolvido. Entendeu? Calma. Mantenha a calma. Camila tá… porra, ligando, tá me mandando duzentas mensagens, dizendo que a gente, que vocês… que acabou a importância de vocês pra gente. Pô, pô, umas viagens absurdas. Isso não existe! Pô, você me conhece, pô! Entendeu? A gente tem uma afinidade, não existe isso”, disse.

Continua após a publicidade

No mesmo mês, a PF encontrou outra conversa dos dois, classificada como “preocupante”, onde o policial chama Ferreirinha à delegacia para “alinharmos um monte de coisa futura”.

Há, ainda, registros de orientações de Marco a Ferreirinha, com instruções sobre qual deveria ser seu comportamento perante audiências do Tribunal do Júri nas quais ele figuraria como testemunha. Apesar de reconhecer que as condutas foram irregulares, a PF não indiciou Marco Antonio – o relatório da investigação foi encaminhado ao Ministério Público para “providências cabíveis”. Em nota, a Polícia Civil informou que “o caso está sob sigilo” e não respondeu as perguntas da reportagem.

O documento obtido por VEJA aponta, ainda, que o conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Domingos Brazão, é “principal suspeito de ser o autor intelectual dos crimes contra Marielle e Anderson”. Ele nega. De acordo com a PF, Brazão não teria participação no surgimento do policial Ferreirinha como testemunha do crime.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.