Caso Rugai: defesa explora contradições de testemunhas
Vigia reconheceu réu em cena do crime; perito afirma ter 'certeza' de que Rugai arrombou porta do quarto para cometer crime, mas admite falha na simulação
O primeiro dia do júri do ex-seminarista Gil Rugai terminou na noite desta segunda-feira depois de oito horas de audiência, em que foram ouvidas três pessoas. A promotoria foi taxativa sobre a culpa do réu explorando principalmente o depoimento de um vigia que afirmou ter visto o réu e um outro homem na cena do crime. A defesa ganhou espaço por causa dos depoimentos confusos de um legista e de um perito convocado pela acusação.
O corpo de jurados é formado por cinco homens e duas mulheres. Gil Rugai chegou ao local no início da tarde. Ele permaneceu calado durante toda a audiência.
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Em 2004, Rugai, então com 21 anos, foi apontado como o principal suspeito pela morte do seu pai, o empresário Luis Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra Troitino. O casal foi morto dentro de casa, no bairro de Perdizes, na Zona Oeste de SP, em março daquele ano. A promotoria sustenta que Gil decidiu matar o casal porque seu pai havia descoberto uma série de desvios financeiros praticados pelo ex-seminarista em uma produtora e vídeo que pertencia à família e funcionava no imóvel onde vivia o casal
O vigia Domigos Pereira foi o primeiro a ser ouvido. Com a voz trêmula, ele reconheceu Rugai como um dos dois homens vistos pelo vigia na noite do crime. Segundo ele, a dupla atravessou a rua cerca de 20 minutos após barulho de tiros.
Apesar de reconhecer Rugai, Domingos hesitou em várias declarações. Inicialmente, ele afirmou que viu dois homens, depois disse que não sabia o sexo da segunda pessoa. “Há dez segundos perguntei se era um homem e uma mulher, e o senhor disse que não sabia. O que o fez mudar de ideia?” questionou o advogado de defesa, Marcelo Feller.
Mesmo com o depoimento confuso, a promotoria se diz confiante no valor de Domingos como prova contra Rugai. “A testemunha foi firme naquilo que se esperava dela: Gil Rugai estava na cena do crime e saiu da casa instantes depois dos disparos”, afirmou o promotor Rogério Leão Zagallo.
Legista – A segunda testemunha foi o médico legista Daniel Munhoz, ouvido por cerca de uma hora. Munhoz elaborou um laudo em que atestou uma lesão no pé de Rugai à época do crime, um edema intraósseo agudo (que provoca acúmulo de água dentro do osso). A promotoria relacionou o ferimento com um chute que teria sido desferido para arrombar a porta da casa das vítimas.
Os advogados de defesa perguntaram ao professor da USP se existe algum tipo de literatura médica sobre lesões feitas em pés devido a arrombamentos de porta. Munhoz deixou a questão da lesão em aberto ao afirmar que, na teoria, todas as hipóteses para o ferimento são possíveis, tanto a batida contra uma porta quanto qualquer tipo de impacto.
O último a ser questionado pelos advogados foi o perito Adriano Issamu Yonanime, do Instituto de Criminalística. Foi ele quem analisou a porta arrombada na casa do casal. Seu relatório atestou que a porta foi derrubada com um único chute certeiro. A altura da marca provocada pelo chute, segundo ele, era compatível com a altura do réu.
Ao ser ouvido pela acusação, Adriano afirmou que tinha “certeza” de que Rugai havia arrombado a porta e que um dos sapatos do réu “encaixava perfeitamente” com o solado marcado na porta. Adriano disse ainda que chegou a ligar para o ex-professor de jiu-jitsu do réu para saber se ele poderia arrombar a porta com um chute. “O professor disse que o réu tinha força suficiente”, disse o perito.
Os advogados de Rugai mostraram um vídeo de realidade virtual feito com a ajuda do Instituto de Criminalística. O filme mostra o solado de um sapato que seria de Rugai e a sola. Só que em vez de utilizar um sapato do pé direito, como o relatório da perícia havia apontado, a simulação usou um pé esquerdo.
“Foi um lapso”, respondeu Adriano, quando a defesa apontou o erro. Apesar do engano, ele continuou afirmando que o relatório da perícia era válido, apesar do equívoco da simulação. O advogado Marcelo Feller respondeu: “Ele [Rugai] ficou três anos preso por causa desse erro”.