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Caso Henry: polícia registrou tortura de Dr. Jairinho contra outra criança

Quatro laudos técnicos obtidos por VEJA apontam que menina, à época com 4 anos, foi atendida por médicos com lesões no tórax e nos braços

Por Marina Lang Atualizado em 2 Maio 2021, 10h15 - Publicado em 1 Maio 2021, 17h30

Uma série de documentos produzidos pelo Departamento Técnico da Polícia Científica a pedido da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) do Rio de Janeiro aponta atendimentos médicos constatando lesões em uma menina, à época entre 3 e 5 anos, filha de uma ex-namorada do vereador e médico Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, preso em 8 de abril junto à mãe, Monique Medeiros, pela morte do garotinho Henry Borel, de 4 anos, após uma sessão de espancamentos. Em relação à outra garotinha, quatro laudos apontam lesões causadas por “ação contundente” – o mesmo diagnóstico que, segundo peritos, foi o motivo da morte do pequeno Henry durante a madrugada de 8 de março, quando seu fígado foi arrebentado causando hemorragia interna, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas pelas autoridades. Os pareceres foram obtidos por VEJA neste sábado, 1º, e embasam um dos inquéritos que apuram as sessões de tortura perpetradas por Dr. Jairinho contra outras crianças pequenas além de Henry. Todos os detalhes foram revelados pela reportagem da revista em 2 de abril.

No caso da menina, que hoje tem 13 anos, o parlamentar vai responder por tortura majorada, cuja pena pode chegar a 8 anos. A DCAV investiga, ainda, outras sessões de espancamentos feitas contra um outro menino pequeno, filho de uma amante do vereador que, inicialmente, mentiu sobre o caso à 16ª DP (Barra da Tijuca), que apura as circunstâncias da morte de Henry. A mãe do outro garotinho mudou a sua versão após VEJA revelar, em detalhes, os outros dois casos de agressões a crianças nos quais Dr. Jairinho participou. Em ato contínuo, a assistente social Débora Mello Saraiva mudou seu depoimento, conforme a reportagem revelou com exclusividade. À polícia, ela relatou que Dr. Jairinho pisou na criança, jogando nela todo o peso do seu corpo.

Os laudos obtidos hoje por VEJA em relação à outra menina são indiretos, ou seja, feitos com base em prontuários médicos antigos obtidos pela polícia datados de 2011, período em que a mãe da garotinha mantinha um relacionamento com Dr. Jairinho, mas sem saber das agressões que o vereador da Câmara do Rio fazia contra a filha dela. A mulher, segundo a reportagem apurou, só tomou conhecimento mais de um ano depois das sessões de tortura – a criança desabafou à avó materna as situações pelas quais havia passado após assistirem juntas a um programa televisivo sobre abuso infantil.

O primeiro registro, cuja data é de 24 de abril de 2011, aponta dor no ombro da menina. Chamado de “laudo indireto” pela polícia porque se baseia em registros médicos da época, o documento aponta que a transcrição do médico ficou ˜prejudicada” porque a menina, em seu relato, negou ter sido agredida. No entanto, a polícia sabe, hoje, que o menino Henry era ameaçado por Dr. Jairinho a fim de que não contasse as agressões bárbaras que sofria.

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Já o registro seguinte tem data de 12 de maio daquele ano e aponta que a criança, na época com quatro anos, se queixava de dores no braço e no cotovelo e que a situação ocorria há, pelo menos, duas semanas, mas sem exibir lesões aparentes. A garotinha retorna ao hospital no dia 16 do mesmo mês, se queixando, novamente, de dor no cotovelo e no braço, quando os médicos levantam a hipótese de trauma pela 1ª vez.

Mas é no dia 23 de maio de 2011 que a garotinha aparece no hospital com “grande tuberosidade”, ou seja, uma saliência óssea em seu peito na linguagem médica, e com dor torácica irradiando do pescoço até o estômago.

Diferentemente de Henry, a menina sobreviveu aos ataques. Quando viu o caso do menino e o nome de Dr. Jairinho, seu ex-namorado, relacionados ao homicídio bárbaro da criança, a mãe da garotinha procurou a polícia para contar o que a criança havia sofrido.

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“Passei muito tempo da minha vida me culpando e me sentindo péssima como mãe por não ter visto a realidade. Ele é um tipo de homem que cega, ilude, mente”, desabafou a VEJA. Durante mais de dois anos, contou que ele — tal qual no outro caso apurado pela reportagem — arran­ja­va pretextos para sair sozinho com sua menina, então com 4 anos. Aos poucos, a garota foi soltando que o “tio” torcia seus braços e pernas e lhe dava cascudos. No episódio mais horripilante, foi levada a um local que, pela descrição, parecia um motel. O quarto tinha uma cama e uma piscina. Disse ter sido despida pelo vereador, que, de sunga, entrou com ela no box, abriu o chuveiro e bateu várias vezes com a cabeça dela na parede. Também afundou sua cabeça na piscina com os pés.

Uma parente da mãe da garota recebeu um telefonema em tom de ameaça do vereador, com quem a ex-namorada não falava há oito anos.

O outro caso revelado por VEJA em 2 de abril está sendo investigado pela polícia e, provavelmente, resultará em outro indiciamento por tortura contra outra criança pequena, filha da amante de Dr. Jairinho, Débora Mello Saraiva. O garoto “chorava e tremia” só de ouvir as palavras “tio Jairinho”. Segundo uma empregada doméstica ouvida pela reportagem, durante o relacionamento, o vereador arranjava motivos para sair sozinho com o menino, que voltava parecendo ter passado por “sessões de tortura”. Em uma ocasião, chegou com o rosto inchado e desfigurado, olhos roxos e a explicação: havia caído de cabeça. Em outra, apareceu com a perna fraturada na altura do fêmur e a justificativa: tinha se prendido no cinto de segurança e tropeçado ao sair do carro. “Nas duas vezes, Jairinho o levou a uma clínica de conhecidos dele. Minha amiga estava deslumbrada e tinha medo por ele ser poderoso”, contou a ex-empregada doméstica que presenciou os casos. Essa ex-namorada, que seguiu com um relacionamento amoroso com Dr. Jairinho até hoje, recebeu um telefonema dele horas depois da morte de Henry, no qual, segundo afirmou à polícia, nenhuma palavra foi dita sobre a tragédia.

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