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Caso Henry: ‘Morte do meu filho vai ajudar a salvar outros inocentes’

Leniel Borel, pai do menino que completaria 5 anos nesta segunda, afirma que pretende transformar a sua dor em uma luta por crianças vítimas de violência

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 2 Maio 2021, 09h09 - Publicado em 1 Maio 2021, 16h51

Às vésperas do dia do aniversário de seu filho, o menino Henry Borel, que completaria 5 anos nesta segunda-feira, 3, Leniel Borel de Almeida, de 37, tenta encontrar forças para se manter firme e está decidido a transformar a sua dor em um propósito de vida. O engenheiro planeja encabeçar ações que possam evitar que outras crianças sejam agredidas – e mortas – por seus parentes dentro da própria casa seja criando uma Organização Não Governamental (ONG), trabalhando em alguma entidade especializada nessa questão ou contribuindo de maneira informal. “Não posso acreditar que o Henry tenha morrido apenas para pôr na cadeia a sua mãe e aquele monstro. Tenho certeza que o caso do meu filho vai ajudar a salvar a vida de outros inocentes”, ressalta. Henry foi encontrado já sem vida, na madrugada do dia 8 de março, no apartamento onde vivia há três meses com a mãe, a professora Monique Medeiros, 33 anos, e o padrasto, o médico e vereador carioca Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho. Os dois são acusados de homicídio duplamente qualificado e tortura.

Desde que a morte bárbara de Henry se tornou pública, Leniel vem sendo procurado por outras vítimas do vereador – duas ex-namoradas já denunciaram à polícia que seus filhos também sofreram violência nas mãos de Jairinho –; por pessoas que buscam orientação de como devem denunciar casos de agressões dentro da própria família e por gente que precisa de orientação jurídica e psicológica. “Essa realidade cruel é muito maior do que a gente imagina. Depois de todo esse sofrimento que venho passando desde a morte do meu filho, não posso ficar de braços cruzados”, afirma. De acordo com dados da Unicef, todos os dias, 32 crianças são assassinadas no Brasil. “Não consigo parar de pensar um minuto sequer no meu filhinho. Só tenho conseguido adormecer com remédios, mas acordo a noite inteira. Nem sei como vou suportar a falta dele no dia do seu aniversário”, completa.

No ano passado, lembra Leniel, ele, a ex-mulher Monique (eles se separaram em setembro de 2020) e Henry festejaram a data em casa por causa da pandemia. Para não passar em branco, enfeitaram o apartamento no Recreio dos Bandeirantes, onde viviam, com o tema do personagem Mario Bros., que o menino adorava, encomendaram um bolo e docinhos e alugaram vários brinquedos, como pula-pula, piscina de bolas e escorrega. “Deixamos esses brinquedos uma semana no apartamento. Ele ficou numa felicidade só”, recorda. Nesta segunda-feira, um dos vários grupos formados nas redes sociais após a barbárie que ocorreu com o menino, o #justiçaporhenryborel, planeja reunir um grupo de pessoas para prestar uma homenagem a Henry e cobrar Justiça, às 15h, no Cemitério do Murundu, em Realengo, onde ele foi enterrado. “Tenho uma filha quase da mesma idade do Henry. Resolvi me engajar nessa iniciativa porque é muito revoltante ver o que fizeram com ele. Vamos lutar para que este crime não fique impune e que esse casal (a mãe e o vereador) não tenha qualquer regalia”, afirma a dona de casa Alessandra Domingues Rocha, de 33, integrante do grupo #justiçaporhenryborel.

Leniel, que trabalhava no interior do estado do Rio como engenheiro (também é bacharel em ciências náuticas e administração de empresas), conta que está de licença-médica desde a morte do filho se revelou um crime cruel. A mãe e o namorado, o vereador Dr. Jairinho, sustentaram em seus depoimentos à polícia que na madrugada do dia 8 de março encontraram a criança, num quarto do apartamento do casal, com dificuldades para respirar e com os olhos revirando. E que provavelmente isso seria consequência de Henry ter caído da cama. A tese de acidente doméstico foi totalmente derrubada pela necropsia que acusou laceração hepática e hemorragia interna por ação contundente (violência). O laudo completo aponta 23 lesões no corpo do menino. “Com tudo isso, precisei buscar ajuda psiquiátrica e só tenho forças para sair da cama para lutar por Justiça e ajudar outras vítimas como o meu filho. É uma dor que não dá para descrever e que parece piorar a cada dia”, acrescenta Leniel.

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Com o intuito de ajudar outras crianças que padecem de violência doméstica e lutar pelo aumento da pena para o assassinato de menores praticados por padrastos e madrastas, o engenheiro está à frente de um abaixo-assinado que será encaminhado ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. O documento solicita ainda que o presidente da Câmara dos Deputados “receba e dê celeridade ao trâmite do Projeto de Lei 1386/2021 (Lei Henry Borel), protocolado pelo deputado federal Hélio Lopes. Ao longo do abaixo-assinado também é lembrado outro crime bárbaro que chocou o país, o caso de Isabella Nardoni, de 5 anos, jogada do sexto andar do Edifício London, em São Paulo, em 2008. Levados a júri popular, o pai da menina, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram condenados por homicídio doloso qualificado. Na ocasião, o pai recebeu a pena de 31 anos, e a madrasta de 26.

A um dia do aniversário do filho, Leniel conta que se martiriza todos os dias por não ter podido salvar o filho. Lembra que o menino reclamava que o “tio Jairinho” o machucava, mas que Monique dizia que era invenção da criança. Na quarta anterior a morte do menino, o filho reclamou novamente com o pai. “Tanto a avó materna quanto a babá escutaram isso e mais uma vez todos, incluindo a Monique, negaram. Como ele não apresentava marcas no corpo, tinha receio de fazer uma denúncia e ficar impedido de ver o meu filho”, lembra. Leniel também se mostrou revoltado com a carta de 29 páginas que Monique divulgou, por meio de seus advogados, na semana passada. “Ela muda a versão, diz que quem encontrou o Henry caído foi Jairinho, mas não esclarece o que aconteceu naquela noite”, chama a atenção. E, em seguida, é mais enfático: “Que mãe é essa que após saber das agressões ao filho pela babá em tempo real, como revelou a polícia, ainda passa três horas no salão? E que depois da morte do filho continua escondendo o que aconteceu e acobertando o namorado?”.

O inquérito policial sobre o caso deve ser concluído nesta semana. O vereador Jairinho e a mãe de Henry estão presos desde o dia 8 de abril.

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