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Caso Amarildo: major Edson operou para evitar confissão de acusados

Inquérito da Divisão de Homicídios revela que oficial monitorou a investigação para evitar a delação premiada por parte de um dos suspeitos e chegou a indicar e transportar advogados para acompanhar testemunhas

Por Leslie Leitão 9 out 2013, 12h59

Em um crime de homicídio sem corpo, a confissão de um dos autores é demolidora para a defesa. Quando há muitos acusados, multiplica-se a chance de um deles quebrar o silêncio e revelar à polícia ou à Justiça tudo o que sabe – obtendo, assim, alguma redução de pena. Justamente por conhecer esse mecanismo, e por saber do grande número de envolvidos no desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, o major Edson dos Santos, principal acusado do crime, operou para evitar que suspeitos e testemunhas revelassem o que sabem à Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil. Os investigadores que atuam no caso descobriram que o major monitorou cada passo das testemunhas, indicou advogados para coordenar versões compatíveis em depoimentos de suspeitos e testemunhas e atuou para evitar que os demais envolvidos aceitassem o mecanismo de delação premiada.

O esquema montado é digno de um sistema de contrainformação de espionagem. Após a saída de Edson da UPP da Rocinha, os acusados mantiveram, segundo a Polícia Civil, um homem de confiança naquela unidade. Coube ao tenente Medeiros – indicado por influência do major – manter os advogados e os suspeitos informados a respeito dos rumos da investigação. Uma ligação telefônica interceptada em 10 de setembro mostra como o grupo monitorou a investigação e como temia que um dos suspeitos confessasse. Alertados por policiais da UPP, o advogado do major, identificado como “Dr. Lázaro” no inquérito, diz o seguinte a seu cliente: “Agora as testemunhas não podem vir sem advogado mesmo, pois os policiais já estão na fase final e tentando uma delação premiada”.

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Para os investigadores, vale a lógica de que “quem não deve não teme”. Ou seja, o major e seu representante legal tentaram evitar que detalhes do caso – e possivelmente da captura e da morte de Amarildo – fossem incluídos no inquérito. Como mostrou reportagem do site de VEJA, uma mulher, testemunha do caso, recebeu dinheiro dos acusados e foi monitorada pelos PMs envolvidos.

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O inquérito da DH revela que Edson monitorou cada depoimento, e chegou a usar viaturas da PM para buscar testemunhas. Em um trecho do relatório, há a seguinte afirmação dos investigadores: “Causou perplexidade, contudo, a excessiva preocupação do major Edson em fazer com que todo policial militar que viesse a depor estivesse acompanhado por advogado. O oficial chega a oferecer uma viatura policial para buscar o causídico (advogado) no centro da cidade do Rio de Janeiro”.

Diz o inquérito: “O que tanto o major Edson quer esconder, a ponto de pagar advogado com seus próprios recursos? A resposta está clara: A ação criminosa perpetrada contra Amarildo.”

Em outro trecho do documento, está exposta a dedicação ao principal acusado para que ninguém ficasse sem um advogado controlado pelo grupo. Ao saber que uma testemunha não tinha representante legal, o major Edson afirma, em uma ligação telefônica, que ele próprio pagaria os honorários de um criminalista. Neste trecho, o oficial diz o seguinte: “Vão pressioná-la, e ela pode dizer que ‘ouviu dizer’, e isso é uma m…”. A mulher era uma policial militar da UPP da Rocinha.

O caso Amarildo, até o momento, não tem corpo nem confissão. Os investigadores sabem que os acusados estão confiantes em relação à inexistência dos restos mortais – o que, apesar de não impedir a condenação, obriga a polícia e o Ministério Público a reunirem provas a mais, para convencer os jurados. Os investigadores pretendem buscar confissões a partir de lacunas nos depoimentos.

Uma das estranhas coincidências nos depoimentos de testemunhas e acusados é a omissão da incursão do Bope na Rocinha na noite do desaparecimento de Amarildo, em 14 de julho, como mostrou reportagem do site de VEJA. Viaturas da tropa de elite foram à favela no intervalo de horas em que o pedreiro, segundo o inquérito, esteve em poder de seus algozes. A Divisão de Homicídios obteve imagens de câmeras de segurança que mostram os carros do Bope na favela, o que obriga grande parte dos acusados a, agora, explicar a ausência desse detalhe.

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Ocultação de cadáver – Além dos dez presos, há outros vinte PMs da UPP da Rocinha sendo investigados. O grupo, que já prestou depoimento, pode apresentar detalhes sobre o transporte de Amarildo e, acreditam os investigadores, também do que foi feito com o corpo do pedreiro. Na tarde de terça-feira, policiais civis realizaram buscas nas casas de parte desses policiais. Alguns deles serão novamente intimados a prestar depoimento para explicar contradições.

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