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Casais gays em busca da igualdade de direitos

Entre os motivos que levaram 43 casais a oficializar sua união no Rio de Janeiro, estão a segurança patrimonial e o desejo de adotar uma criança

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 jun 2011, 14h54

“Fico resmungando: por que não dar a mão? Toda vez que vejo casal heterossexual no metrô pergunto: Por que não posso? Por que fingir que existe esse vidro entre nós dois?”

Jônatas Cavalcante

Na última quarta-feira, 43 casais homossexuais registraram suas uniões civis em uma cerimônia coletiva no Rio de Janeiro. Os motivos que os levaram a oficializar a união variam. Afirmação da igualdade de direitos, segurança patrimonial, desejo de adotar uma criança são alguns deles. Mas o que ficou evidente na cerimônia foi o desejo de demonstrar publicamente o afeto pelo outro.

O clima da festa, que teve bolo, champanhe, vestidos brancos, smokings, buquês, lágrimas e muitos beijos e abraços, transformou o sétimo andar do prédio da Central do Brasil em um espaço livre do preconceito que os casais homossexuais ainda enfrentam.

Kátia e Suely – Kátia Passos, de 44 anos, e Maria Suely Couto, de 54, se conheceram há 10 anos em uma sala de bate-papo GLS na internet. A conversa começou pela coincidência de apelidos: amora. Após três meses de namoro, foram morar juntas. Juliana, filha de Kátia, tinha 12 anos e saiu de casa quando soube da opção da mãe. Quatro meses depois, voltou. No casamento de quarta, Juliana – agora com 22 anos – chorava de emoção. “É um sonho para elas. Preciso tirar fotos”, dizia.

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O casamento era uma vontade antiga das duas, especialmente de Kátia que perdeu tudo após o término de um relacionamento anterior. Após o registro, na quarta, saíram para comemorar em um restaurante. Ao aparecerem na televisão, ouviram da mesa ao lado: “Que absurdo! Como pode?”

Flávia e Elizabeth – Flávia Nogueira e Elizabeth Cunha se conheceram no trabalho, no dia 13 de setembro de 2005. Saíram pela primeira vez no dia 1º de outubro, começaram a namorar no dia 6 e foram morar juntas no dia 10. Flávia, de 27 anos, descobriu a homossexualidade aos 13 anos, quando sentiu interesse por uma jovem de 18. Aos 15 contou para a mãe, que perguntou: “Que tipo de vida você vai levar?” “Ela reagiu de início como se eu fosse uma criminosa, mas acabou aceitando”, diz Flávia.

Com Elizabeth, de 29 anos, foi mais difícil. Ela começou a sentir interesse por mulheres aos 19 anos, quando estava noiva e tinha até comprado casa. “Achei que estava enlouquecendo. Como só com essa idade eu estaria em dúvida sobre a minha sexualidade?”, lembra Elizabeth. Acabou desistindo do casamento dois meses antes da data marcada. Quando contou para a mãe que era homossexual, Elizabeth foi expulsa de casa.

Ela e Flávia se casaram primeiro em uma cerimônia de Umbanda. Mas gostaram da ideia de legalizar a união. “Amanhã ou depois eu morro, como fica a Flávia na história? Estamos construindo um patrimônio e depois a minha mãe pega?”, argumenta Elizabeth. Até o final do ano, as duas pretendem inscrever-se no cadastro nacional de candidatos à adoção.

Felipe e Jônatas– Felipe Castro e Jônatas Cavalcante se conheceram através de uma amiga comum. Em três dias, estavam morando juntos. No dia da cerimônia coletiva, a irmã, a mãe e a avó de Felipe, de 29 anos, estavam presentes. Jônatas, de 27, não tem contato com a mãe desde que se assumiu gay. Em 2008, quando revelou sua opção sexual, ela o expulsou de casa e o acusou de tê-la agredido.

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O pai, um militar da reserva e também evangélico, o amparou. “Honra e caráter não têm religião”, diz Jônatas sobre a atitude do pai, que deu o dinheiro para o filho comprar um apartamento.

O registro civil é uma forma de assegurar que esse imóvel fique com o casal. “Com essa janela aberta, não vou negar os meus direitos. Tem que acabar a lenda de que homossexual está à margem, que é aidético, que ganha mal”, diz. E lamenta que o reconhecimento de direitos civis não acabe com o preconceito. Jônatas conta que evita andar de mãos dadas com Felipe pelas ruas, com medo de represálias. “Fico resmungando: por que não dar a mão? Toda vez que vejo casal heterossexual no metrô pergunto: Por que não posso? Por que fingir que existe esse vidro entre nós dois?”

Luiz e Adilson- Luiz Carlos da Silva, de 45 anos, e Adilson Silva, de 24, se conheceram em uma sala de bate-papo na internet. Na época, Adilson tinha uma namorada e disse a Luiz, que morava na Espanha, estar em dúvida sobre a sua sexualidade. Luiz disse que viajaria ao Rio de Janeiro, e os dois conversariam. Três dias depois de desembarcar, os dois se encontraram e ficaram juntos.

O registro foi resultado da insistência de Adilson. Luiz relutou, mas ao saber da cerimônia coletiva, decidiu aceitar o casamento. O sonho de Adilson, no entanto, não terminou na quarta-feira. Agora, ele começa o processo de convencimento para que Luiz embarque na ideia de adotar uma criança. “Estou amadurecendo a proposta”, conta Luiz.

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