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Carrascos se convertem em militantes contra pena de morte nos EUA

Por Por Chantal Valery
18 dez 2011, 10h33

“Em meus pesadelos, ainda vejo seus rostos”. Surgem novas vozes, até entre o grupo dos carrascos, para exigir a abolição da pena de morte nos Estados Unidos, “o assassinato mais premeditado de todos”.

São antigos agentes carcerários ou ex-diretores de penitenciárias que presidiram execuções em todos os cantos do país.

Allen Ault permanecia atrás da cadeira elétrica e dava “a ordem de apertar o interruptor”. “Em meus pesadelos, ainda vejo seus rostos”, conta à AFP. “É um trabalho desumano”, ressalta.

Comissário das autoridades penitenciárias da Geórgia (sudoeste) nos anos 1990, Ault supervisionou cinco execuções no corredor da morte que ele mesmo construiu vinte anos antes, quando a pena de morte ainda não havia sido restaurada.

Rom McAndrew, ex-guarda carcerário na Flórida (sudeste), levou três detidos à morte por cadeira elétrica e outros cinco no Texas (sul) por injeção letal.

Um dia de 1997, “houve um incêndio, foi horrível, os queimamos literalmente vivos”. A lembrança de ter dito ao eletricista que seguisse, apesar do mau funcionamento da cadeira elétrica, ainda atormenta McAndrew.

“Este trabalho é tão sujo, nos tornamos selvagens”, confessa à AFP.

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“É hora de progredir em direção a uma sociedade mais evoluída, onde a prisão perpétua seja uma pena equivalente à pena de morte”. Reginald Wilkinson, ex-diretor das autoridades penitenciárias de Ohio (norte), responsável por “aplicar a lei”, aprendeu a viver com as execuções, mas terminou passando para o grupo dos abolicionistas.

Promotores, governadores, juízes. “Ouvimos novas vozes, as coisas estão mudando entre os dirigentes”, ressaltou Steven Hall, da organização Standdown.

Suas vozes se fazem ouvir para acelerar o desuso da pena de morte nos Estados Unidos. Em todo o país, o número de execuções e de condenações à morte diminuiu, segundo o último informe do Centro de Informação da pena de morte (DIPC, em inglês).

Mas, embora estejam perdendo espaço, os americanos partidários da pena de morte continuam sendo maioria. Para Wilkinson, “será necessário que muita gente manifeste seu apoio” à supressão do castigo supremo.

Junto a outros ex-responsáveis de prisões da Califórnia (oeste), Flórida e Ohio, os três abolicionistas assinaram uma carta pedindo clemência para Troy Davis. A execução deste detido em setembro, apesar das dúvidas sobre sua culpabilidade, provocou diversos protestos em todo o mundo e provocou uma guinada na mentalidade americana.

“Por que se precipitar quando há tantas dúvidas?”, se pergunta Allen Ault. “A pena de morte é sempre ruim, mas executar quando existem dúvidas é o pior insulto para uma sociedade”, disse.

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Desde 1976, 139 detidos foram perdoados no corredor da morte, segundo o informe do DIPC.

“Nos Estados Unidos, substituímos a justiça pela vingança”, ressalta McAndrew.

O ex-agente carcerário ainda se lembra do detido no corredor da morte com quem se encontrou por acaso anos mais tarde em um aeroporto da Flórida. “Reconheceu-me, colocou seu braço no meu ombro”, conta, referindo-se ao prisioneiro, perdoado após 20 anos de detenção. “Eu poderia tê-lo conduzido à sala da morte para levá-lo à morte”, destacou.

Além disso, o sistema é “injusto”, já que uma pessoa se salva “quando tem dinheiro suficiente para pagar bons advogados”, explica. “Se OJ Simpson não tivesse sido OJ Simpson, teria sido condenado à morte”, disse.

Para Allen Ault, “é o assassinato mais premeditado de todos”. E é um erro e uma hipocrisia “acreditar que serão evitados assassinatos ao assassinar alguém”.

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