Capez vai à Justiça contra investigadores da máfia da merenda
Deputado tucano que preside a Alesp pediu ao Tribunal de Justiça de São Paulo que assuma as investigações. Segundo a defesa de Capez, promotor e delegados "usurparam" funções do TJ-SP
Citado por integrantes da chamada máfia da merenda, o esquema de corrupção que fraudou contratos de merenda escolar no Estado de São Paulo, o deputado estadual Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa paulista, enviou ao Tribunal de Justiça de São Paulo uma reclamação contra o promotor e dois delegados da Polícia Civil que investigam o caso na cidade de Bebedouro (SP), cidade a 395 quilômetros da capital paulista, onde está sediada a Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), protagonista do caso apurado na Operação Alba Branca.
Assinada pelo advogado de Capez, Alberto Toron, a peça pede liminarmente que o TJ-SP assuma o inquérito policial da operação, concentrado em Bebedouro. Segundo a defesa do deputado, os investigadores “usurparam” a competência do Tribunal de Justiça ao questionarem testemunhas a respeito do suposto envolvimento de Capez no caso. Como tem foro privilegiado, o tucano só pode ser investigado pela Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo (PGJ-SP).
Toron baseou sua argumentação em um áudio do depoimento do ex-vendedor da Coaf César Augusto Bertholino, divulgado pela TV Record na semana passada. Na gravação, o promotor do caso, Leonardo Romanelli, que integra Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Ribeirão Preto, questiona Bertholino a respeito do recebimento de repasses pelo tucano por meio do lobista Marcel Ferreira Júlio.
“O il. Promotor de Justiça e os Delegados presentes no depoimento, Paulo Roberto Montelli e João Vitor Silvério, exigiram que o depoente falasse sobre autoridade detentora de foro por prerrogativa de função, já que fizeram perguntas especificas sobre o reclamante – sem que ele tivesse sido mencionado”, argumentou a defesa do tucano, que também relata coação de Romanelli ao ex-funcionário da Coaf.
Investigado pela Procuradoria-Geral de Justiça, que em fevereiro lhe quebrou os sigilos telefônico e fiscal, Fernando Capez se defendeu ontem na tribuna da Alesp. Queixando-se da lentidão nas investigações, o tucano afirmou que seu nome foi usado indevidamente e se vê “envolvido em uma situação da qual não tenho nenhum conhecimento. Não me lembro dessas pessoas, não me lembro de nenhuma reunião que tive”.
Em delação premiada homologada pelo Tribunal de Justiça paulista, Marcel Júlio relatou ter participado de uma reunião com o deputado durante a campanha nas eleições de 2014 em que Capez teria lhe pedido dinheiro pois estaria “sofrendo em campanha”. O desembargador aposentado Pedro Menin, que defendeu o lobista quando ele foi preso, em março, afirma ter renunciado à defesa de Marcel porque ele foi coagido a colaborar com as investigações.
Além da alegada “usurpação” da competência do TJ-SP, a defesa do presidente da Alesp também reclama do “criminoso vazamento de depoimentos sigilosos” envolvendo Capez e das “diversas entrevistas concedidas pelo Promotor de Justiça sobre as investigações sigilosas”.
Procurados, o promotor Leonardo Romanelli e o delegado João Víto Silvério não foi encontrados até a publicação da reportagem. O delegado Paulo Roberto Montelli está em férias.
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