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Campanha contra Coronavac tem fake news, teoria conspiratória e xenofobia

Mensagens difundem que a vacina chinesa usa feto abortado ou transforma o paciente em homossexual; Butantan esclarece especulação sobre a data de fabricação

Por Redação
3 nov 2020, 18h59

A maciça campanha de desinformação contra o desenvolvimento da vacina Coronavac obrigou o Butantan, de São Paulo, a se pronunciar na tarde desta terça-feira, 3, para esclarecer postagens infundadas e que atacam o imunizante contra a Covid-19, que está sendo produzido em parceria entre o instituto e farmacêutica chinesa Sinovac. Desta vez, perfis do Twitter estão disseminando imagens da embalagem do produto com a data de fabricação referente a abril deste ano. A teoria da conspiração e de cunho xenófobo afirma que a China, país de origem dos insumos usados na produção da vacina e primeiro epicentro da pandemia, criou o novo coronavírus para depois lucrar com a comercialização do imunizante. Além de mentirosa, a história deturpa informações reais para causar confusão entre os usuários das redes sociais.

O Butantan esclareceu que a Coronavac já se encontrava em fase de testagem em voluntários chineses no primeiro semestre deste ano. Os primeiros casos da Covid-19 foram diagnosticados na cidade de Wuhan, na China, em dezembro do ano passado e, conforme as determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as informações sobre a fabricação do imunizante tiveram de ser incluídas nas embalagens que foram traduzidas para o português em julho, quando o remédio entrou na terceira fase de testes no Brasil, a última etapa antes da aprovação. Por esse motivo, algumas fotos da Coronavac apresentam datas de fabricação que remetem aos primeiros meses da chegada da pandemia no Brasil.

“É importante deixar claro também que, apenas após o registro da Anvisa, é que a Coronavac poderá ser disponibilizada para aplicação na população. Enquanto isso, os estudos clínicos seguem em andamento com voluntários aqui no Brasil”, reforçou o Butantan em seu pronunciamento.

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Combater as desinformações têm sido uma tarefa árdua. Um estudo divulgado nesta semana pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP), especializada no monitoramento da internet, mostra que a discussão sobre a vacina rendeu 2 milhões de postagens no Twitter entre os dias 1º e 27 de outubro. Perfis contra a Coronavac também foram capazes de conseguir 15 milhões de visualizações para vídeos no YouTube que fazem campanha para desqualificar o imunizante. No domingo, 1º, centenas de manifestantes se reuniram na Avenida Paulista, em São Paulo, num ato antivacina e contrário ao governador paulista João Doria (PSDB), que pretende realizar uma campanha obrigatória de vacinação no estado.

Entre as teorias mais estapafúrdias divulgadas nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens contra a vacina estão a de que que ela é feita com fetos abortados ou que ela altera o código genético dos pacientes e os transforma em homossexuais. Há mensagens com esse conteúdo circulando tanto no WhatsApp quanto no Facebook. Um desses áudios apontando a suposta interferência genética nos pacientes foi atribuído pela agência de checagem de notícias Aos Fatos a um candidato a prefeito de São Simão (SP), Marcelo Frazão de Almeida (Patriota), engenheiro e responsável pelo canal Direita TV News. Segundo a agência, ele confirmou que o áudio era dele, mas não se pronunciou sobre as teorias que propaga, que são comprovadamente falsas, já que a Coronavac não utiliza nenhuma alteração de gene humano — ela se vale do uso do vírus inativo, técnica semelhante à adotada por outras vacinas, como as contra a poliomelite e a gripe.

Militantes de direita e simpatizantes de Jair Bolsonaro são os principais difusores de desinformação sobre a Coronavac. O presidente é o principal antagonista de Doria desde o início da pandemia, colocando em dúvida a eficácia do imunizante e os interesses do governo chinês no processo de desenvolvimento do remédio. Esse discurso xenófobo — que entre outras, difunde a teoria de que o vírus foi criado pelo país asiático como parte de um “plano de dominação mundial” — pauta as publicações de políticos bolsonaristas e candidatos que tentam colar suas imagens ao presidente para se elegerem no pleito municipal deste mês.

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Doria, inclusive, é o alvo de uma das campanhas de fake news mais compartilhadas no Twitter. Desde agosto circulam publicações na rede social que dizem que o governador contraiu a Covid-19 depois de ter sido vacinado com a Coronavac. Em resumo, os posts afirmam que, enquanto Bolsonaro tomou a cloroquina — medicamento sem eficácia comprovada contra a doença — e se curou, o governador de São Paulo tomou a vacina e, mesmo asssim, foi infectado. Doria, de fato, foi diagnosticado com o novo coronavírus naquele mês, mas em nenhum momento foi vacinado com o imunizante, que está em fase de testes. As fotos que acompanham essas postagens, em que o tucano recebe uma injeção no Palácio dos Bandeirantes, diz respeito ao dia 23 de março, quando ele promovia a campanha de vacinação contra a gripe.

Segundo mapeamento feito pela FGV/DAPP, além de fake news, teorias da conspiração e pregações xenófobas, a mobilização contrária à Coronavac também reúne nas redes sociais usuários que postam mensagens ou vídeos que usam argumentos considerados pelos pesquisadores como não legítimos para criticar a vacinação obrigatória como política pública, além de publicações inteiramente contrárias a vacinas em geral, que citam supostos casos isolados como justificativa.

Por ora, nenhum imunizante recebeu a certificação da Anvisa para ser aplicado na população. Todos estão em fase de testes para que sejam avaliados os efeitos provocados no organismo humano e a sua eficácia contra a Covid-19. Na segunda-feira, 2, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que outra vacina, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, poderá ficar à disposição dos brasileiros no primeiro trimestre de 2021. Um acordo assinado com os desenvolvedores garantirá 100 milhões de doses do imunizante ao país no primeiro semestre o ano que vem, segundo a Fiocruz. A expectativa é a de que a produção se inicie entre janeiro e fevereiro. 

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