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‘Tinha uma caçamba cheia de pedaços de corpos’, diz negociador

Rebelião em presídio motivada por desavenças entre facções criminosas deixou pelo menos 56 mortos no Amazonas

Por Vagner Magalhães
Atualizado em 2 jan 2017, 21h58 - Publicado em 2 jan 2017, 16h23

O juiz da Vara de Execuções Criminais do Amazonas, Luís Carlos Valois, comemorava o primeiro dia de 2017 em casa, com a família, quando foi chamado para intervir junto a detentos em um motim no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Depois de aproximadamente dez horas, com o término da rebelião, ele deparou com o saldo aterrador do que havia sido aquela noite no interior do presídio: uma caçamba cheia de braços, pernas e corpos sem cabeça. Muitos deles estavam carbonizados.

O acerto de contas entre presos, que deu origem à matança, deixou pelo menos 56 mortos*. Os reféns, funcionários da unidade, foram libertados com vida. “É difícil assimilar o que aconteceu. Sinceramente, nunca vi nada igual. Eu trabalho com Direitos Humanos. Para mim, as cenas eram dantescas”.

Valois contou ter passado a madrugada do lado de fora do presídio, negociando com os presos por rádio. Mas já tinha ideia da gravidade do que estava acontecendo por causa das imagens que começaram a circular por meio do aplicativo WhatsApp. “Quando eu cheguei lá, eles já tinham matado quem tinham de matar. Ali (nos celulares) já se viam muitos corpos mutilados. Algo que não tem como não impressionar.”

Ele lembra que no início da negociação a principal preocupação dos presos era com a manutenção da integridade física deles. “Não queriam que a Polícia de Choque entrasse. Eles haviam cortado uma cerca e invadido o espaço dos presos que cumprem pena no regime semiaberto. Pedi que chamassem um preso e começamos a conversar para que a situação não ficasse ainda mais grave”, disse.

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O juiz conta que a conversa foi avançando com o decorrer da madrugada. Primeiro os presos voltaram para a área do regime fechado e depois atenderam a uma solicitação para que três reféns fossem soltos. Já pela manhã, eles acabaram se entregando.

Foi então que Valois deparou com o horror do que havia acontecido lá dentro. “Quando eu entrei com o secretário, os corpos já começavam a ser retirados pelo rabecão, para o IML. Muitos deles estavam amontoados no chão. Havia uma caçamba, dessas parecidas com as que se usam para a retirada de entulho, repleta de braços, pernas, corpos sem cabeça, corpos queimados…”

Consequências

O juiz pondera que uma das preocupações do governo local é que essas mortes acabem provocando um revide, entre as facções criminosas rivais responsáveis pelo motim. E que isso, de alguma maneira, possa se espalhar pelo restante do Brasil. “Sempre houve líder de pavilhão, líder de gangues. Mas o Estado foi legitimando essas facções. Elas acabaram se fortalecendo com isso. Agora, não há como negar que elas existam”, afirma.

Valois conta que, como juiz, conheceu alguns dos presos que foram mortos. E que, numa situação dessas, quem morrem são os menos perigosos. “Meu trabalho é zelar pelo direito dos presos. E o Estado não consegue resguardar esses direitos. Eu não sou responsável pela segurança do presídio nem pela rebelião.”

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*A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas divulgou uma revisão no início da noite desta segunda do número total de mortos no massacre do presídio em Manaus. Segundo o órgão, foram 56 mortes, e não 60, como havia sido informado no final da manhã.

 

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