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Cabral diz que Pezão era o responsável pelas obras do Maracanã

Com a ‘consciência tranquila’, ex-governador diz que responsabilidade por vários contratos relacionados à secretaria de Obras é do atual governador do Rio

Por Leslie Leitão e Luisa Bustamante
Atualizado em 9 out 2017, 18h19 - Publicado em 21 nov 2016, 21h58

Foi um longo depoimento de 17 páginas. O ex-governador Sergio Cabral Filho repetiu a frase ‘não se recorda’ 16 vezes. Em outras 11 perguntas respondeu ‘não saber precisar ou esclarecer’. Disse ‘desconhecer’ os fatos a ele questionados em 21 respostas. E negou outras dez vezes. Preso na última quinta-feira sob a acusação de comandar um esquema de corrupção que teria desviado cerca de 224 milhões de reais dos cofres do Rio de Janeiro, Cabral se disse indignado com as denúncias e afirmou ter a ‘consciência tranquila quanto às mentiras absurdas’. Ao final do termo, colocou no colo de seu ex-vice e sucessor no Palácio Guanabara, Luiz Fernando Pezão, a responsabilidade pelos contratos de reforma do Maracanã e outros relacionados à secretaria de Obras.

O ex-governador, na verdade, foi instado pelos seus advogados, que após o interrogatório dos procuradores do MPF e da Polícia Federal, começaram a fazer perguntas. A primeira delas justamente sobre a licitação de reforma para a Copa do Mundo de 2014. “…que se iniciou na gestão Pezão, como secretário de Obras, tendo sido concluída na gestão de Hudson Braga”, afirmou Cabral. Sua defesa fez questão de frisar, ainda, que raras foram as vezes em que Cabral esteve no canteiro das obras, lembrando que esta era uma atribuição dos secretários da pasta: “Ambos (Pezão e Hudson) efetuaram diversas visitas à obra, e o indiciado (Cabral) apenas umas duas vezes”, descreve o depoimento prestado na sede da PF.

Já no início do questionamento Cabral fez questão de dizer que não ter relacionamento próximo com Hudson Braga, tendo conhecido entre 2006 e 2007 através de Pezão. Hudson – que divide a mesma cela C6 com o ex-governador dentro de Bangu 8 – de acordo com as investigações da Operação Calicute, cobrava 1% de todas as obras como ‘taxa de oxigênio’, algo que Cabral, claro, disse não ter conhecimento. Sobre José Orlando Rabello (apontado como um dos operadores da propina e ligado diretamente a Hudson), Cabral afirmou saber “que ele exercia uma função na secretaria de obras no período em que Pezão estava a frente da pasta”.

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Cabral confirmou o relacionamento com o empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta Construções, investigada na Lava Jato justamente por ter sido beneficiada na obra do Maracanã. Mas acrescentou: “Pezão possuía contato com Fernando Cavendish e outros empreiteiros que tratavam com sua pasta”. Procurado, Pezão ainda não se manifestou sobre as declarações de seu antecessor e guru político.

Questionado sobre as compras de joias em quatro diferentes joalherias – algumas com compras de até 100 000 reais – o ex-governador confirmou ter feito uma ou duas compras em duas delas (H Stern e Antonio Bernardo), mas disse não se recordar se havia pago em dinheiro ou utilizado o cartão de crédito. No segundo caso, porém, uma funcionária chegou a afirmar que Cabral era um cliente que pagava sempre em espécie. O ex-governador disse não se lembrar dessas compras. Sobre compras feitas em outras duas lojas (Amsterdam Sauer e Sarah Joias), também não se recorda.

Sergio Cabral declarou que a empresa que criou em 2014, a Objetiva, presta consultoria para a Creação Opção Jeans, de propriedade de um amigo, Gustavo Mohammad, há cerca de um ano. A PF descobriu que a empresa pagou mais de 670 para a Objetiva pelos serviços. Questionado se poderia apresentar, em 24 horas, relatórios, levantamentos ou pareceres produzidos nesta assessoria, o ex-governador disse “não, porque os aconselhamentos se davam de forma mais pessoal”. Cabral negou ter conhecimento da relação da TransExpert com a Creação. De acordo com os investigadores, a transportadora de valores depositou, em espécie, mais de 25 milhões na conta da Creação, dinheiro que seria oriundo de propina.

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Ao ser perguntado se alguma vez foi beneficiado com contratos, pagamentos de propina e realização de contratos de auditorias por empresas que receberam incentivos fiscais, Cabral disse que não e que “toda a sua política foi voltada para o crescimento econômico do Estado”. Os quase 200 bilhões de isenções fiscais concedidos durante o seu governo poderão ser alvo de uma CPI na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Advogado da Creação Jeans, Carlo Luchione criticou o fato de seu cliente não ter sequer sido ouvido na fase de inquérito para que pudesse dar explicações: “O Cabral diz não ter comprovante da prestação de serviços. Mas a empresa tem. Levamos para a PF mais de 20 e-mails, com diversas conversas referentes a essas interseções feitas pela empresa contratada (Objetiva). O trabalho era de redução de custos, direcionamento em relação aos negócios, e houve redução de mais de 1,5 milhão”, afirmou.

Sobre a suspeita levantada de que 25,5 milhões depositados em dinheiro pela TranExpert na conta da Creação – que segundo o MPF eram repassados para Cabral através de uma consultoria fictícia – Luchione foi ainda mais contundente: “Eram repassados 60 000 por mês, que é o contrato da consultoria. Ora, para repassar 25 milhões demoraria mais de 35 anos. Esse link que fizeram não bate. A PF não teve o cuidado de chamar meu cliente, que agora está chamando no grito. Façam a investigação em cima de documentos. É uma Irresponsabilidade do MPF ter feito da forma que fez, denegrindo uma empresa de 40 anos, que agora está sendo jogada pelo ralo como se fosse uma confecção de esquina para lavar dinheiro dos outros”, concluiu o advogado.

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(Atualização em 09/10/2017: O empresário Gustavo Muhammad e a Creação Opção Jeans apresentaram à Justiça documentos que comprovam a prestação de serviços à empresa de Sérgio Cabral e a licitude de valores sob custódia da TransExpert. As defesas de ambos foram acatadas e seus nomes não aparecem na sentença final da Operação Calicute, assinada dia 20/09/2017 pelo juiz Marcelo Bretas)

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