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Branquinha ficou da cor da lama

Água derrubou todas as escolas, a prefeitura, o hospital e estação de trem

Por Fernando Mello, de Branquinha
24 jun 2010, 18h02

A prefeita Renata Moraes (PMDB), correligionária dos Calheiros, e aposta na influência política deles para reconstruir a cidade.

Branquinha, a 62 km da capital Maceió, está marrom. Completamente destruída pelas águas do rio Mundaú, a cidade continua coberta de lama. Em muitos pontos, a sujeira chega até os joelhos. Máquinas trabalham o tempo todo, mas não conseguem alterar a paisagem de caos. A pequena cidade, que fica às margens do rio Mandaú, a 65 quilômetros da capital Maceió, já foi vítima das enchentes diversas vezes desde 1949, quando os documentos que registravam sua história desapareceram com a enxurrada. Entre os 26 municípios afetados pelas enchentes em Alagoas, Branquinha é a única que não tem mais nenhum prédio público. A prefeitura está no chão, assim como as secretarias de saúde e educação. A igreja está condenada a cair. Na casa onde se distribuíam cartões do Bolsa-Família, ainda é possível ler o nome do programa na única parede que permanece de pé.

Buraco no teto – A 500 metros da margem do rio, Digerson José Silva tentava limpar a calçada em frente a sua casa. Na sexta-feira, quando a enxurrada desabou, ele viu sua casa ser totalmente alagada. Pediu abrigo a parentes no fim de semana e quando voltou, na terça, encontrou um buraco no teto. Dois desconhecidos haviam procurado refúgio em sua casa vazia. “Os vizinhos me disseram que a água subiu até o telhado e tiveram que abrir o buraco para tirar eles de lá”, relata. Das sete casas em que moravam cerca de 60 familiares de Digerson, cinco foram completamente destruídas. Das duas que estão de pé, sobrou apenas a estrutura externa. A maior parte dos 12 mil habitantes foi afetada. Segundo dados da prefeitura, até o momento seis pessoas morreram, 50 estão desaparecidas, 4.300 ficaram desabrigadas e 800 casas foram destruídas ou danificadas. Somente nesta quarta-feira, três corpos foram retirados da água. Entre eles, o de João Claudino da Silva Filho, 51 anos. Quando a chuva apertou, João procurou abrigo na estação por onde passava o trem, lugar sempre conhecido como seguro. As águas retorceram os trilhos, que estão agora em espiral, como se tivessem sido atingidos por um furacão.

Foto antiga da estação, e a linha depois da chuva: destruição completa.
Foto antiga da estação, e a linha depois da chuva: destruição completa. (VEJA)

O corpo de João foi resgatado há 15 km de Branquinha, já no município de Murici, outra cidade atingida pelas chuvas. Murici é conhecida por ser sede do clã dos Calheiros, que também têm forte influência em Branquinha. Todos os carros têm adesivos do senador Renan. A prefeita Renata Moraes (PMDB) é correligionária dos Calheiros e aposta na influência política deles para reconstruir a cidade. “Só com a ajuda federal vamos conseguir”, afirma ela, que pretende reconstruir o centro da cidade em outro local. Todas as ruas que levam ao centro são ladeiras que seguem para baixo. Ou seja, o local mais atingido era uma espécie de recipiente para tanta água. Lá ficava a administração da cidade, além do comércio e das escolas. A casa da prefeita está totalmente tomada por cestas básicas e garrafas de água potável. As engarrafadoras de água enviaram doações. Mas, para economizar, não colocaram os lacres de segurança, o que, para a vigilância sanitária, pode ter prejudicado a qualidade do produto. Não há energia elétrica, os dois telefones públicos da cidade foram arrancados, assim como a rede de esgoto. Falta água. No meio do cenário caótico, uma denúncia circulava hoje em Branquinha. Durante a enchente, sumiu um cofre do Banco do Brasil. As investigações ficarão para quando a lama baixar.

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