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Arrastões em bares e restaurantes afastam 20% dos clientes

Ataques a um dos espaços mais tradicionais de lazer do paulistanos crescem a cada mês, mas continuam sendo tratados como casos menores pela polícia paulista

Por Valmar Hupsel Filho
23 jun 2012, 15h52

Última quarta-feira, 20 de junho, por volta de 1h30. Faltava apenas meia hora para o encerramento de mais uma noite no bar The Joy, localizado na Rua Maria Antônia, Vila Buarque, região central de São Paulo, quando seis ladrões invadiram o local. O bando agiu rapidamente, levando 1.020 reais do caixa da casa e carteiras, bolsas, relógios e telefones celulares dos cerca de 30 clientes que ocupavam as mesas. “Alguns pareciam adolescentes e pelo menos um estava armado”, relatou ao site de VEJA o advogado Daniel Medeiros, de 25 anos. “Meu medo era alguém reagir e acontecer algo mais grave ali. Foi rápido, mas foi tenso. Desde aquele dia, não saí mais de casa.”

Os endereços mudam a cada ação, o número de assaltantes também, mas o método de ataque e o tipo de estabelecimento escolhido se repetem numa frequência que não deixa dúvidas: os arrastões em bares e restaurantes são a nova moda entre os criminosos da maior cidade brasileira. E não deixarão de crescer, pelo menos enquanto a polícia continuar menosprezando esse crime – que classifica como modalidade de iniciantes.

Dos 26 casos registrados na capital desde o início do ano, oito aconteceram apenas nos primeiros 20 dias de junho – os dois últimos, pelo menos até o fechamento desta reportagem, com intervalo de uma hora entre a noite de quarta-feira e a madrugada de quinta.

Amadores – A polícia vem tratando os casos como se fossem de menor importância. Olhando-se friamente os números, de fato, os arrastões parecem insignificantes. Apenas em abril, foram registrados 9.595 roubos, média de 319 por dia. Perto disso, os casos dos restaurantes parecem residuais. O problema é que eles afetam um dos espaços mais típicos de lazer do paulistano, o que aumenta sensação de insegurança da população em geral.

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O secretário de Segurança Pública do Estado, Antônio Ferreira Pinto, garante que os assaltos são praticados por quadrilhas com pouca organização e especialização, formadas, na sua maioria, por jovens. “Alguns deles chegaram a assaltar com armas de brinquedo”, disse ele, descartando qualquer ligação das ocorrências com o crime organizado.

Para combater a onda, a secretaria anunciou a criação de um programa de Vigilância Solidária, que será implantado a partir desta terça-feira no bairro de Itaim-Bibi, na zona oeste da capital paulista. Inspirado numa experiência britânica e já testado na cidade de Santo André, o plano envolve moradores e comerciantes do bairro que serão capacitados pela polícia para identificar situações de risco e tentar antecipar-se aos bandidos. “Se a população ficar alerta, o bandido perde sua principal vantagem que é o elemento surpresa”, avalia o presidente da Associação de Moradores do bairro, Marcelo Motta.

Por seu lado, a polícia também promete intensificar o combate aos receptadores, que compram ilegalmente os produtos roubados nesse tipo de ação. E garante que tem elucidado vários casos de arrastões. Coube ao governador Geraldo Alckmin anunciar os números, na última quinta-feira, dia 21. Segundo ele, 30 envolvidos em pelo menos 14 assaltos a bares e restaurantes já foram presos – e quase a metade deles, 14, são adolescentes.

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No caso do The Joy, de fato, o sistema de rastreamento por GPS de um dos celulares roubados ajudou a polícia a prender dois dos assaltantes. Lincoln Correia da Silva, de 28 anos, e um adolescente de 16 anos foram localizados no Glicério, com cartões bancários, documentos, pendrives, um notebook, cinco celulares e o dinheiro roubado do caixa. “Esta é uma guerra em que temos que vencer batalhas diariamente”, resumiu Alckmin, que prometeu expandir o programa Vigilância Solidária para outros bairros.

Medo e prevenção – Enquanto a guerra não termina, o paulistano se esconde. Até o momento, por sorte, nenhum deles terminou em tragédia, mas os estabelecimentos já sentem os efeitos do pânico que se espalha entre os clientes da noite paulistana. Segundo a Federação dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo (Fhoresp), a queda no movimento é de 20%. “Assaltos a estabelecimentos comerciais sempre existiram, isso é verdade”, explica Antônio Henriques Branco, vice-presidente da Fhoresp. “Mas essa sensação de estamos vivendo um surto de ataques é muito ruim para os negócios.”

Embora ainda não saiba quando vai criar coragem para sair novamente, o advogado Daniel Medeiros, uma das vítimas do arrastão na The Joy, diz que, quando o fizer, vai tentar se prevenir: evitará levar consigo os objetos mais visados pelos assaltantes, como relógios e telefone celular. “Vou carregar só o cartão de crédito para pagar a conta”, avisa. Não resolve o problema, mas por enquanto parecer ser a única alternativa de prevenção ao alcance dos paulistanos.

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