Arquivo Nacional vira local de culto
O diretor José Ricardo Marques cedeu o auditório principal para pregações evangélicas e usa ele mesmo o microfone para falar de Deus e da Bíblia
O imponente prédio do Arquivo Nacional, no Centro do Rio de Janeiro, guarda há 175 anos um dos mais valiosos conjuntos de textos e imagens relativos à história do país. Agora tem nova função: é local de culto evangélico. Na quinta-feira, o diretor-geral da instituição, José Ricardo Marques, que pertence à igreja evangélica, pegou ele próprio o microfone durante uma pregação no auditório principal da casa, ao meio-dia. “Tenham fé. Eu e minha esposa oramos, cremos e dedicamos a nossa vida ao Senhor”, declarou. Em seguida, pediu que a plateia se levantasse e cada um desse um abraço no “irmão ao lado”.
Marques foi nomeado diretor-geral do arquivo em janeiro deste ano, indicado pelo deputado Ronaldo Fonseca, do Pros. Substituiu Jaime Antunes, arquivologista respeitado que passou 23 anos no cargo e acabou afastado quando a instituição entrou na cota dos postos públicos cedidos pelo governo federal para a acomodação de aliados políticos. Marques assumiu, saiu e voltou há uma semana– o que disse no culto acreditar fazer parte “dos planos do Senhor”. Garantiu ter orado pelo arquivo no tempo em que esteve fora e passou a palavra à mulher, Simone. “Se podemos estar aqui, se podemos glorificar em nome do Senhor é porque um dia ele se dispôs a morrer por nós, abriu mão de si mesmo para hoje termos acesso ao Pai”, pregou ela.
A plateia era formada por um grupo de funcionários evangélicos que há anos se congregava num canto do estacionamento e pleiteava espaço para a pregação dentro de um dos prédios do arquivo, composto de três grandes edifícios e dois pátios. Com a chegada de Marques, o pedido foi atendido e as reuniões, transferidas para o auditório onde o arquivo promove seminários acadêmicos. A maior parte do pessoal, que não frequenta o culto, critica o uso de uma instituição pública para a prática religiosa.
Consulta fechada – Os problemas do Arquivo Nacional se estendem a outras frentes. Os elevadores que transportam os documentos históricos estão parados por falta de manutenção. Por causa disso, o agendamento de consulta a textos originais só está sendo feito a partir do dia 19 de setembro.