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Após uma década de hegemonia, PMDB vive inédita divisão no RJ

Caso Pedro Paulo e outras brigas internas propagam teorias da conspiração no partido que sempre se vangloriou de caminhar unido no estado

Por Leslie Leitão e Thiago Prado, do Rio de Janeiro
15 nov 2015, 12h42

Um mês depois da revelação feita por VEJA de que o braço-direito do prefeito Eduardo Paes, Pedro Paulo Carvalho, espancou a ex-mulher, Alexandra Marcondes, um clima de desconfiança alastrou-se no antes imbatível PMDB do Rio de Janeiro. Em público, quase ninguém se manifesta – se o faz, não diz exatamente o que pensa. Em conversas reservadas, porém, é grande a preocupação com os rumos do partido em 2016 e o que chamam de fogo amigo.

Desde o dia 16 de outubro, quando as agressões de Pedro Paulo vieram à tona, o grupo político de Paes desenvolveu duas teorias: ou o bombardeio de notícias partiu do ex-secretário Rodrigo Bethlem, afastado da prefeitura após a sua ex-mulher, Vanessa Felippe, grava-lo confessando receber propina; ou a origem das denúncias é o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, o deputado estadual Jorge Picciani.

Contra Bethlem, pesa o fato de postar mensagens no Facebook nas últimas semanas vistas como indiretas ao prefeito. “Pessoas que você nunca deve esquecer: quem te ajudou, te deixou e te colocou nos momentos difíceis”, escreveu minutos depois da publicação da reportagem em outubro. Bethlem até hoje considera que Paes está por trás das denúncias da ex-mulher do ano passado. Contra Picciani, contribui a fama de produzir dossiês contra adversários e de querer emplacar o filho Leonardo na prefeitura – ambas negadas pelo próprio.

O clima ficou ainda mais pesado no PMDB no mês que passou porque a resposta de Pedro Paulo à sua primeira crise de imagem foi desastrosa. Primeiro mentiu dizendo que as agressões não haviam acontecido. Depois reconheceu que faltou com a verdade, mas disse que o episódio só havia acontecido uma única vez. Por fim, assumiu uma segunda agressão em uma coletiva de imprensa constrangedora. Ao lado de uma Alexandra firme no propósito de defendê-lo, um Pedro Paulo nervoso e com sorrisos fora de hora saiu-se com frases catastróficas no estilo goleiro Bruno como “Quem nunca teve uma briga dentro de casa?”. “Falei para o Pedro, se tiver que tirar a candidatura, tem que ser para colocar a ex-mulher, ela foi fantástica falando”, brinca o experiente vice-governador Francisco Dornelles.

Paes pode bravatear à vontade que Pedro Paulo seguirá como candidato à sua sucessão ou deixará o PMDB. Só não conseguirá impedir que este debate seja feito pela cúpula do partido nos próximos meses. Perguntam-se todos neste momento: com o legado que o prefeito apresentará depois da Olimpíada, vale a pena correr o risco de perder uma eleição praticamente ganha com um candidato que antes da largada se apresenta tão frágil? Lideranças evangélicas que sempre apoiaram o PMDB ouvidas por VEJA, por exemplo, afirmam que não conseguirão pedir voto nas igrejas para um candidato que espancou a mulher. Sedenta por vingança da campanha pesada contra Edir Macedo em 2014, a igreja Universal de Marcelo Crivella é lembrada como instituição que certamente vai martelar o tema na cabeça dos eleitores em 2016. Já o PSOL, outro adversário, vem incentivando manifestações nas ruas e nas redes, além de já ter encomendado pesquisas perguntando: “você votaria em um candidato que bate em mulher?”. “É tudo muito complicado, foram duas agressões, dente quebrado, filha vendo tudo. Paes está muito bem no governo, mas transferência de voto é difícil”, afirma Carlos Augusto Montenegro, do Ibope.

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Marcelo Crivella
Marcelo Crivella (VEJA)

Paes e seus estrategistas apostam que o assunto vai se exaurir com o tempo, mas a situação não é tão simples assim. Primeiro porque ainda não veio à tona o vídeo que gerou a briga entre Pedro Paulo e Alexandra. As imagens que podem cair na internet a qualquer momento mostram o secretário ao lado de uma loira – que a ex-mulher afirmou ser um travesti em depoimento na polícia do Rio. Ainda há, ao que tudo indica, a possibilidade real de Pedro Paulo ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base na Lei Maria da Penha. O fato de Alexandra perdoar o ex-marido atualmente não elimina a ação penal, afirmam especialistas no tema. “A política é o fato, o tempo e o silêncio. Faltando dois meses para a campanha, este seria um tiro violento no Pedro Paulo. Agora vamos ver se o fato se dilui”, afirma Dornelles.

O que não faltam são especulações de nomes para substituir Pedro Paulo. O mais agitado com a possibilidade nas últimas semanas é o secretário estadual de Transportes do Rio, Carlos Roberto Osório. No PMDB, seus últimos encontros com políticos têm sido interpretados como de alguém interessado em ocupar o espaço. São ativos de Osório para o projeto a sua capacidade de comunicação (foi correspondente da CNN) e o currículo de gestor privado (como homem forte da Rio 2016). Atuam contra a ambição a má vontade de Paes e Jorge Picciani com o secretário. O prefeito nunca engoliu o fato de Osório ter trocado a secretaria municipal de Transportes pela estadual. Já o deputado estadual Picciani, incomodado por não ser atendido em nomeações no governo de Luiz Fernando Pezão, classifica o secretário de “despreparado” e “farsa” a quem lhe pergunta.

A segunda opção seria apelar para a família Picciani, fortalecida no cenário político nacional desde que Dilma Rousseff passou a receber em Brasília o patriarca Jorge para frear o namoro do PMDB com o impeachment. O filho Leonardo, hoje líder do partido na Câmara, terá que escolher qual dos Eduardos vai enfrentar se quiser voos mais altos em 2016. Se tentar ser presidente da Câmara já no ano que vem, baterá de frente com a fúria do deputado Eduardo Cunha. Caso busque a prefeitura, o embate será com Paes, que pensava ter esgotado os desejos da família ao nomear Rafael Picciani secretário de Transportes e promete-lo o cargo de vice-prefeito na chapa de Pedro Paulo.

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Acima de todos paira a figura do ex-governador Sérgio Cabral Filho. Neste momento, Cabral seria o único candidato que uniria o PMDB sem gerar brigas traumáticas entre as alas do partido. A questão é que Cabral não deseja de jeito nenhum entrar nesta aventura – ainda mais com as pesquisas que mostram rejeição imensa ao seu nome. A ambição do ex-governador é voltar ao Palácio Guanabara em 2018, quando, espera, já terá sido absolvido por completo das investigações da operação Lava-Jato. Na semana passada, para eliminar qualquer teoria da conspiração, Cabral empenhou-se em ajudar Pedro Paulo, participando de reuniões e definindo estratégias.

A última vez que o PMDB deixou a decisão sobre seu candidato para os 45 minutos do segundo tempo ocorreu em 2008, justamente quando Paes foi escolhido para a disputa. Até junho daquele ano eleitoral, o partido apoiaria o deputado federal Alessandro Molon em uma aliança com o PT de Lula. Em cima da hora, Cabral e Picciani sepultaram o acordo e derrotaram a intenção de Anthony Garotinho de emplacar Marcelo Itagiba prefeito da cidade. Correndo por fora e recém-convertido ao PMDB, Paes foi escolhido e, apenas sete anos depois, hoje figura como um dos possíveis presidenciáveis no futuro.

Ou seja, até as convenções partidárias do meio do ano que vem, muitos lances ainda serão jogados no PMDB do Rio de Janeiro. E baseado no pragmatismo de não poder perder de forma alguma a prefeitura mais importante do partido no Brasil, uma decisão será tomada por todos os caciques juntos. Paes queira ou não.

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