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Ante a crise, os artesãos de Nápoles não sabem mais a que santo recorrer

Por Por Ella IDE
20 dez 2011, 14h02

As figuras artesanais para os presépios são famosas no mundo inteiro, mas os artesãos da Via San Gregorio Armeno, de Nápoles, avisam: a crise econômica atual pode acabar com suas frágeis empresas familiares.

“É um pesadelo, a crise começa a nos afetar seriamente. Já perdemos 50% dos negócios neste período do ano, em relação a 2010”, lamenta-se Genny Di Virgilio, instalado com a família na “rua dos santinhos” desde 1830.

De costume, com a aproximação das festas, o bairro no centro de Nápoles é invadido por turistas à procura, para seus presépios, das figuras de Maria, do Menino Jesus, do Arcanjo Gabriel ou ainda dos Reis Magos.

Neste ano, ao contrário, os artesãos foram obrigados a baixar seus preços e um deles decidiu liquidar toda a produção.

“O governo nos cobra impostos atrás de impostos. As pessoas não compram mais. Não tenho mais escolha, acabou”, lamenta Salvatore, 70 anos, enquanto que dois curiosos saem de mãos vazias de sua loja.

“O futuro é sombrio. Não recebemos ajuda do Estado”, comenta Luciano Capuano, que dirige com o irmão a empresa familiar, onde trabalham, também, suas mulheres e irmãs.

Após uma retomada tímida, a crise atinge com toda a força a Itália: segundo a organização patronal Confindustria, a península, que deveria crescer 0,2% no próximo ano, mas verá seu PIB, o Produto Interno Bruto encolher 1,6%.

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Ante tal situação, 64% dos italianos preveem cortar suas despesas de Natal, e 22% decidiram até reduzir os orçamentos em mais da metade, segundo a associação do comércio Confesercenti.

– Figuras com a imagem de Michael Jackson –

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Um contexto desfavorável prejudica ainda mais os artesãos confrontados, nos últimos anos, com a concorrência feroz dos santinhos produzidos em massa na China, com preços bem menores.

As tradicionais estatuetas de terracota de Luciano Capuano, pintadas à mão e vestidas com roupas de seda e cetim, custam até 500 euros; mas seus concorrentes oferecem artigos de qualidade bem inferior por a partir de 20 euros.

Para sobreviver, Marco Ferrigno, um artesão de 43 anos, que começou a trabalhar muito jovem no ateliê familiar, lançou-se na fabricação de figurinhas de personagens célebres.

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“Precisamos nos reinventar para sobreviver e os napolitanos sabem bem disso”, explica ele. “Ao lado das imagens tradicionais da Natividade, temos, agora, estrelas da canção, do futebol e da política, até mesmo o papa!”

“Estou muito pessimista, tentando mudar a situação”, desabafou, ao mesmo tempo em que um grupo de crianças se aglomerava em torno das estatuetas de Michael Jackson e de Maradona.

Marco Ferrigno propõe, também, a seus clientes, um serviço sob medida: ele elabora as estatuetas a partir de uma fotografia de um membro da família que fizer a encomenda, de um amigo, ou ainda de um de seus atores preferidos.

Muitos artesãos não estão, no entanto, convencidos da validade desse novo filão do mercado, ao qual acusam de aviltar a qualidade artística das imagens tradicionais.

“Nápoles é uma das mais belas cidades do mundo, mas sofre com a corrupção, a criminalidade e a crise do lixo”, observa Genny Di Virgilio. “As figuras de presépio eram o nosso ponto forte… mas por quanto tempo ainda?” questiona.

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