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Advogado ameaça Marcelo Bretas, juiz da Lava Jato no Rio, diz servidor

Funcionário que trabalha com magistrado revela que recebeu carta anônima dando prazo para que inquérito envolvendo Nythalmar Júnior fosse arquivado

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 2 dez 2020, 23h52 - Publicado em 2 dez 2020, 23h37

Um depoimento concedido à Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da Polícia Federal expõe as entranhas da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. No dia 10 de novembro, o servidor público do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, Fernando Antonio Serro Pombal, compareceu à Delefaz, para prestar um depoimento em que revela que o juiz Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara Criminal e responsável pelos julgamentos da Lava Jato, recebeu ameaças caso não arquivasse um processo envolvendo o advogado Nythalmar Dias Ferreira Júnior

Pombal é o diretor da secretaria da 7ª Vara Criminal e trabalha diretamente com Bretas. Já Nythalmar é um jovem advogado criminalista que teve uma carreira meteórica ao conquistar clientes envolvidos em casos da Operação Lava Jato, mesmo sem ter experiência ou fazer parte de uma banca tradicional da capital fluminense. A sua atuação nos bastidores do Tribunal lhe rendeu um processo disciplinar na Ordem dos Advogados do Brasil, sendo acusado de assediar clientes de colegas, alertando-os sobre sentenças futuras. 

O caso tinha tudo para ficar circunscrito ao julgamento da OAB, mas o próprio Nythalmar tentou impedir o prosseguimento na Justiça. Assim, a juíza Rosália Monteiro Figueira, da 3ª Vara Federal Criminal tomou conhecimento que o advogado usava o nome de Bretas e de procuradores do Ministério Público Federal para abordar clientes em potencial. No dia 23 de outubro desse ano, a Justiça expediu uma ordem de busca e apreensão no escritório e na casa de Nythalmar. A medida foi executada pela Polícia Federal e acabou colocando à disposição da Justiça um computador que agora está no centro das ameaças à Bretas.

Em seu depoimento, Pombal conta que recebeu três alertas anônimos informando que o laptop continha arquivos que poderiam implicar Bretas e dois procuradores da República de nome Eduardo e Rodrigo. A Força Tarefa da Lava Jato no Rio é coordenada por Eduardo El Hage e tem Rodrigo Timóteo da Costa como um de seus integrantes. O funcionário público informou à PF que o primeiro alerta veio em forma de mensagem de Whatsapp, no dia 06 de novembro, avisando que o computador apreendido continha arquivos de áudio que poderiam prejudicar o juiz. 

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Algum tempo depois, Pombal recebe uma ligação anônima do mesmo número. Uma mulher, com forte sotaque nordestino, dizia ser uma “colaboradora, preocupada com Operação Lava Jato”. Na conversa, ela revela que os arquivos de áudio eram a gravação de uma reunião em que estariam presentes o juiz, os procuradores e o advogado, para discutir uma delação premiada. Segundo Pombal, ela pedia para que ele realizasse uma “intermediação” junto à PF “quanto ao inquérito em curso”. 

Pombal relata, por fim, que no dia 10 de novembro, recebeu por Whatsapp fotos de uma carta endereçada ao juiz Marcelo Bretas em que o autor realizava diversas ameaças. Embora o documento não fosse assinado, o funcionário do Tribunal identificou Nythalmar como sendo o emissário da carta, devido “à riqueza de detalhes no processo da Lava Jato e da forma de narrativa em relação ao juiz Marcelo”. O texto, segundo depoimento, informava que o advogado teria provas capazes de “acabar com a vida pessoal e a com carreira” de Bretas e de Eduardo. Por fim, diz que o “Dr. Bretas teria até o dia 10 de novembro para arquivar um inquérito em curso contra ele”. 

Diante dos fatos, Pombal relata que procurou o Juiz Marcelo Bretas e que ele o teria orientado a procurar os procuradores da Lava Jato. O depoimento foi colhido pelo delegado Gustavo Stteel, o mesmo que realizou a busca e apreensão na casa e no escritório de Nythalmar.

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O depoimento pode ter implicações para os julgamentos futuros de Bretas no âmbito da Lava Jato. Alguns escritórios que atuam em casos relacionados à operação já estudam pedir a suspeição do juiz. 

Em sua defesa, Nythalmar Dias Ferreira Júnior divulgou a seguinte nota: “Recebi com perplexidade mais este atentado à minha honra, como dito pelo próprio depoente seu número é “público” para diversos advogados. Desconheço qualquer ameaça a qualquer pessoa. Se não ameacei os advogados que me injuriaram há anos, porque iria fazer isso com um magistrado que não tem qualquer envolvimentos nos autos, sequer é investigado. Costumo apenas me manifestar nos autos, mas tudo tem limite”.

Marcelo Brettas está de férias. 

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A reportagem ainda não conseguiu contato com o Ministério Público Federal.

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