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A prece do fugitivo

O ex-governador de Roraima Neudo Campos tinha um plano de fugir para a Venezuela para escapar da prisão -- e um PM que o auxliliava até rezou para que desse certo. Mas não deu

Por Da Redação 5 jun 2016, 10h27

A Polícia Federal descobriu um plano do ex-governador de Roraima Neudo Campos (PP) de fugir para a Venezuela para escapar da prisão, com a ajuda até de policiais militares lotados na Casa Militar do Governo do estado, comandado pela mulher de Neudo, Suely Campos (PP). A investigação da PF gravou conversas em que os PMs pedem até mesmo proteção divina para o plano de fuga do político: “Livrando não só a mim, mas aqueles que estão comigo, meu Deus, aqueles que estão comigo, Makinss, Doutor Neudo, enfim, aquelas pessoas que estão juntas. Você sabe, meu pai, que a Justiça do Homem é falha, mas que a tua Justiça prevalece”, afirma num dos trechos o policial militar Jucelyn Sued Fernandes.

Desde o começo do ano, a Polícia Federal já havia tentado duas vezes cumprir mandados de prisão contra Neudo, que sempre conseguia escapar até que obtivesse um habeas corpus. Depois de denúncias de funcionários públicos de que o ex-governador estaria se valendo da máquina estatal para foragir, a PF passou a monitorar alguns servidores, dentre eles dois PMs. Além de ouvir a prece do policial, a PF acabou descobrindo um plano de fuga para a Venezuela, tramado pela Secretária Adjunta de Relações Internacionais, Maria de Fátima Araujo Costa.

Num dos diálogos, Jucelyn pergunta a uma mulher chamada Neide se ela já tinha ouvido falar do “resgate do soldado Ryan”, o resgate do “velho”. Em outro telefonema, Jucelyn fala que a previsão de um HC “é para daqui a dez dias e durante esses dez dias ele está malocado”. Na mesma ligação, o PM reclama que a pressão nesse período é grande.

Os policiais militares Jucelyn e Yohurts Makinss acabaram sendo presos pela PF em um automóvel Amarok preto de placa NUI 3938 na estrada para Pacaraima, fronteira com a Venezuela, quando eles verificavam as condições da rodovia, munidos de pistola e rádios da corporação. O veículo havia sido locado pela Secretaria de Estado do Trabalho e Bem-Estar Social. No dia seguinte, a Secretária Adjunta de Relações Internacionais, Maria de Fátima Araujo Costa, também foi presa. Campos, sem chance de fugir, se entregou.

Campos foi condenado no “escândalo dos gafanhotos”, no período em que era governador, por desvios de ao menos 70 milhões de reais com funcionários fantasmas. Como já foi condenado em segunda instância, não pode aguardar o recurso em liberdade, como decidiu no início do ano o Supremo Tribunal Federal.

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As dificuldades para que as determinações judiciais fossem cumpridas não pararam mesmo depois da prisão. O juiz federal Helder Girão Barreto determinou no dia 27 de maio a “inclusão emergencial do réu Neudo Ribeiro Campos no Sistema Penitenciário Federal”. O juiz acatou o pedido do Ministério Público Federal, para quem “a entrega dessa pessoa à custódia de um estabelecimento prisional estadual pode dar ensejo à sua fuga, facilitada por agentes públicos subordinados à Chefe do Executivo, ou a um cumprimento de pena em regime de “faz de conta”, ou seja, com regalias que descaracterizem o real cumprimento da pena”.

Na decisão, o juiz disse que as afirmações de Campos “feitas na audiência de custódia de que é inocente, sofre perseguição implacável, mas aceita a prisão domiciliar só pode ser considerada exteriorização da soberba própria de quem sempre acreditou na impunidade e, surpreso diante da inexorável realidade, veste o disfarce roto da vitimização”.

Campos, então, foi internado às pressas na UTI do Hospital Geral de Roraima (HGR) sob suspeita de ter sofrido uma isquemia miocárdica. Agentes da PF contestam o diagnóstico e afirmam que ouviram “três médicos da UTI, no corredor, afirmando que os laudos apontavam estado de saúde OK e como iriam fazer para manter Neudo Campos na UTI”. Neudo já deixou a UTI, mas continua internado até que uma junta médica do Ministério Público Federal o avalie, o que deve acontecer na próxima terça-feira.

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