A Olimpíada dos sem-ingresso
Multidão se reúne no Centro para ver a pira olímpica e entrar no clima dos jogos
No primeiro dia das competições olímpicas, o caminho de uma multidão que queria vivenciar os jogos mesmo sem ingresso às arenas convergiu para o Centro do Rio de Janeiro. O calçadão à beira da Baía da Guanabara virou ponto de turismo para os próprios cariocas, que, no espreme daqui e aperta dali, posaram para selfies ao longo de todo o percurso, agora chamado Boulevard Olímpico. O espaço para o clique perto da réplica da pira, colocada no meio da nova Zona Portuária, é tão disputado que não deixou dúvida sobre qual é a nova foto ‘obrigatória’ na cidade.
“Não iremos a nenhuma competição porque os ingressos são caros. Mas, como queremos participar da Olimpíada, resolvemos passar o dia no Centro”, conta Claudia Azeredo, de 45 anos, acompanhada do marido, Luiz Mello, de 47, moradores da Zona Norte que tentavam se enquadrar junto à pira na imagem. No espaço, onde são transmitidas algumas competições pelo telão, o público também registra as imagens dos transatlânticos aportados, da fachada do Museu do Amanhã, do símbolo dos jogos cariocas e das palavras “cidade olímpica”, cravada ao chão — de tão cheia, quase não se vê as letras. Até o avião de Santos Dumont que está há um mês na praça virou ponto turístico por imaginarem ser o mesmo que levantou voo na cerimônia de abertura.
No vai e vem ao som de músicas brasileiras tocadas por djs no palco montado no Boulevard, as pessoas passeiam mexendo os braços e deixando os quadris soltos no embalo de “Do Leme ao Pontal”, de Tim Maia. “O clima olímpico está aqui”, diz a carioca Cinthia Polliane, de 37 anos. No passeio, há sanfoneiro representando o forró nordestino, um trompetista que toca Garota de Ipanema e uma banda de marchinhas de carnaval. Todos com um discreto chapéu à frente onde são depositadas notas do mundo inteiro. Eles se dividem entre um food truck e outro, que ajudam a compor o cenário gastronômico. Neide Santos, de 47 anos, enfrentou uma hora no trajeto de Realengo, Zona Oeste, ao Centro. Vestida com blusa do Brasil, reclamou dos preços dos ingressos para assistir aos jogos, mas se reconfortou ao chegar. “Vou ficar fora da Olimpíada? Não mesmo. Vale a pena o deslocamento”, diz.
No meio das crianças que andam de patinete e dos carrinhos de bebês, filas se formam para o salto no bungee jump e o passeio no balão. A cada vez que alguém está prestes a saltar, começam os gritos de “pula, pula”. A pessoa se solta, é refletida pelo prédio espelhado da antiga bolsa de valores do Rio, e recebe aplausos. “Eu trabalho aqui perto e vi o que estava sendo montado. Até repassei o meu ingresso de hoje para assistir ao boxe porque queria pular de bungee jump”, conta Wandeberg de Souza, de 32 anos, que chegou uma hora antes de abrir a atração para garantir o lugar. Ali perto está o balão, de onde se vê do alto a pira, a baía e o museu. Para bens de um e azar de outros, diferentemente das arenas, o pau de selfie está liberado no Boulevard Olímpico — e sendo usado sem moderação.