A fuga na avalanche
Silvana Horta Casimiro Lopes conseguiu dirigir mais rápido que a velocidade do lamaçal, que soterrou por completo sua casa
“Mãe, corre aqui! Acho que um carro está rolando na estrada, tem muita fumaça.” Depois do alerta do filho Matheus, de 24 anos, a dona de casa Silvana Horta Casimiro Lopes, 54, largou a vassoura na sala e avistou da janela uma nuvem de poeira no horizonte. “Na hora eu pensei: estourou a barragem.”
Enquanto a avalanche de lama se aproximava velozmente, provocando estampidos semelhantes aos de explosões, Silvana saiu pelos cômodos da casa reunindo Matheus, a filha Larissa, de 25 anos, e os quatro netos, com idade entre 9 meses e 7 anos. O rapaz mais velho subiu na moto e ela instalou os outros em um carro. Enquanto guiava, abriu os vidros, para poder berrar aos vizinhos que deixassem seus imóveis.
Conseguiu dirigir mais rápido que a velocidade do lamaçal, que soterrou por completo sua casa, localizada na parte de cima do lava-rápido que garantia o sustento da família. “Estávamos nos preparando para passear, em direção à barragem, mas resolvi passar uma vassoura na casa. Se não tivesse feito isso, provavelmente todos teriam morrido.”
Silvana participou de simulações de evacuação da área, promovidas pela Vale. A mais recente foi feita em julho do ano passado. A senha para fugir em disparada seriam as sirenes tocadas em alto volume, que não funcionaram. “A nossa vida aqui acabou”, resigna-se. Ela e o marido, Luciano, estão hospedados na casa de parentes em Brumadinho. Ele presta ajuda voluntária à comunidade. A filha e os netos foram alojados com familiares em Belo Horizonte. “Sinto que eles estão mais seguros fora daqui”, diz Silvana.
Publicado em VEJA de 6 de fevereiro de 2019, edição nº 2620