A foto mais bonita
'Quando a encontrarem, ela não vai me perdoar se descobrir que saiu uma foto feia', diz Karine, que procura pela irmã Camila após o desastre de Brumadinho
Preocupada em ajudar no sustento da família desde que o pai, Wilson, teve um infarto e se afastou das atividades de pedreiro, a estudante Camila da Fonseca Silva, de 16 anos (no destaque), decidiu arranjar emprego. Ingressou, no mês de janeiro, como camareira na Pousada Nova Estância, um dos principais locais de hospedagem de executivos da Vale e visitantes do Instituto Inhotim, que foi dizimada pelo rompimento da barragem.
“A Camila sempre foi uma menina muito determinada, que queria ter as coisinhas dela, como roupas e maquiagens”, conta a irmã Karine (na foto acima, de bermuda). Nos últimos dias, Karine e sua mãe, Márcia, se desdobram para evitar que Wilson tenha uma crise nervosa diante do desaparecimento de Camila.
Ao mesmo tempo, Karine tenta acalmar seus dois filhos pequenos — Sofia, de 3 anos, e Henrique, de 1 ano e 8 meses —, para os quais Camila tinha prometido “brinquedos bem bonitos” tão logo recebesse o primeiro salário. “A cada carro que chega, a Sofia corre e diz que estão trazendo a Camila de volta. Não sei o que responder”, diz a irmã.
Felipe, casado com Karine e pai das crianças, também trabalhava na pousada, mas estava fora no momento do rompimento da barragem, comprando gás de cozinha para o almoço da família, que vive a uma quadra de onde a lama chegou, no Parque da Cachoeira. Quando VEJA solicitou a Karine uma foto de Camila, na segunda-feira 28, a moça pediu um tempo para escolher a mais bonita. “Minha irmã é vaidosa. Quando a encontrarem, ela não vai me perdoar se descobrir que saiu uma foto feia.”
Publicado em VEJA de 6 de fevereiro de 2019, edição nº 2620