A cena se repete com incômoda e triste constância — milhares de pessoas, cujo número preciso não foi divulgado, formam filas no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, para garantir lugar em um mutirão de emprego realizado pela União Geral dos Trabalhadores. São 1 500 senhas diárias, distribuídas entre a terça-feira 17 e a sexta-feira 20. O primeiro da fila, um senhor de 70 anos, chegara ao local na véspera da abertura dos guichês. Pela idade, foi liberado para ir para casa e retornar na manhã seguinte. Os demais não tiveram tanta sorte e passaram a noite ao relento. A iniciativa oferece 5 200 empregos, com média salarial de 1 500 reais. São vagas de vendedor, atendente, estoquista, ajudante e funcionário de telemarketing. Em março passado, pequenas multidões já haviam passado por ali. Trata-se do retrato dramático de um Brasil que pede pressa. O desemprego atinge 12,6 milhões de brasileiros, o que representa 11,8% da população ativa, segundo dados do trimestre finalizado em julho. Foi uma queda em relação aos três meses anteriores, quando a taxa de desocupação ficou em 12,5%. Na verdade, uma tímida evolução. O índice brasileiro ainda é muito superior à média mundial, de cerca de 5%. A Organização Internacional do Trabalho acredita que a taxa de desemprego no Brasil cairá até 2020, mas a passos lentos. A melhora está atrelada à recuperação da economia, que deve vir com a aprovação das reformas da Previdência e tributária. Recentemente o governo aumentou a previsão para o crescimento do PIB brasileiro em 2019, de 0,81% para 0,85%. O problema: são estatísticas, meras estatísticas, e elas demoram a chegar às melancólicas filas, que crescem atavicamente.
Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2019, edição nº 2653