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A armadilha montada para os moradores do Pavão-Pavãozinho: protesto pede “fim da UPP”

Com apoio de manifestantes ligados ao Black Bloc, enterro do dançarino DG foi transformado em passeata contra a Polícia Militar. Recuo do policiamento na favela só interessa aos bandidos

Por João Marcello Erthal
24 abr 2014, 19h46

A menos de dois meses do início da Copa do Mundo, a crise em que estão mergulhadas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) teve, na tarde desta quinta-feira, seu momento mais delicado. O problema não está na segurança para a competição – algo que certamente será solucionado com reforços em quantidade compatível com o peso do evento – nem na resistência de traficantes em vários pontos que o governo do Rio classifica como “pacificados”. O que se viu nas ruas de Copacabana logo depois do enterro do dançarino Douglas Rafael da Silva, o DG, foi algo inédito e mais radical até que as manifestações que se seguiram ao desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, da Rocinha. Moradores de favelas da Zona Sul, principalmente do Pavão-Pavãozinho, insurgiram-se não contra um grupo de policiais, mas contra a própria UPP. Os cartazes traziam “fora UPP”, “UPP não” e expressões como “PM assassina”. A morte de DG é um crime que precisa de investigação, mas rejeitar a presença de policiais é, inevitavelmente, avalizar a presença de bandidos. E o Rio de Janeiro conhece o que os bandidos são capazes de fazer para manter seu território.

Existe imensa distância entre cobrar melhorias na polícia, uma “nova polícia”, ou mesmo confrontar a PM por causa de ações truculentas, e o que se desenha no Pavão-Pavãozinho de agora. Uma parte dos moradores, inflamada por manifestantes do ‘não vai ter Copa’ e outros gritos, está sendo manobrada para exigir a saída da UPP da favela. Não é difícil adivinhar quem se beneficiaria com o recuo do policiamento naquela região ou em qualquer área da cidade. Só o bandido, ou alguém a ele ligado, pode pedir “menos polícia” em uma cidade com os problemas que tem o Rio de Janeiro.

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Da segurança nas favelas aos roubos de celulares nas calçadas da Zona Sul, crime se combate com polícia – e, claro, com uma polícia melhor. A armadilha está em permitir que black blocs e manifestantes de plantão assumam a frente nos protestos. Como têm feito, os mascarados e a turma do ‘não vai ter Copa’ apropriam-se das causas, impõem práticas violentas e fazem a população se voltar contra os envolvidos. Esse processo, na verdade, já começou em Copacabana. Na tarde desta quinta-feira, os comerciantes e moradores do bairro ficaram amedrontados com o protesto, que deveria ter a população de um só lado: o da cobrança por uma polícia melhor e menos truculenta.

A confusão no protesto após o enterro começou quando um grupo exaltado de manifestantes provocou os PMs e jogou lixo e pedras contra as viaturas. Os policiais lançaram bombas de efeito moral, reproduzindo na Avenida Nossa Senhora de Copacabana o cenário já conhecido desde as manifestações de junho do ano passado, com correria, pessoas desesperadas e mais provocações dirigidas aos homens fardados. Um jovem atingiu um policial com uma “voadora” minutos antes de a confusão generalizada começar.

Os policiais que estavam no tiroteio do Pavão-Pavãozinho na terça-feira, quando DG foi baleado e morto, estão sendo investigados. As armas de oito deles foram recolhidas nesta quinta-feira. Outros dois ainda prestarão depoimentos. O corpo de DG foi encontrado em uma escola, e num primeiro momento a PM afirmou que não havia marcas de perfuração. O laudo do Instituto Médico Legal desmentiu essa versão e comprovou que o dançarino foi baleado, teve o pulmão dilacerado. Os PMs que deram tiros naquele dia são suspeitos – assim como devem ser considerados suspeitos também os traficantes que lá estão.

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As relações entre moradores e policiais da UPP estão se deteriorando. Uma moradora ouvida pelo site de VEJA no enterro do dançarino afirmou que não quer mais os policiais na favela. “Eles fazem o que querem no morro, não estão lá para proteger ninguém”, disse. Opiniões como a dela, ainda que carregadas de raiva e num momento de choque pela morte de um ente querido, devem ser levadas em conta pela Secretaria de Segurança. É claro que há um problema nas UPPs, ou não haveria conflitos constantes e relações estremecidas em outras áreas, como a Rocinha – onde morreu Amarildo.

No momento, o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, precisa mais que defender o projeto, como tem feito repetidamente. As falhas que a população aponta nas UPPs precisam ser identificadas e eliminadas, numa prova de que o governo está disposto a rever procedimentos. A repetição do discurso de que “não haverá recuo” não basta.

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