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Saudações do planeta Kobaïa

Magma, grupo francês de rock progressivo, cuja abrangência vai da música erudita romântica ao free jazz, faz uma única apresentação em São Paulo no domingo

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 20h40 - Publicado em 24 nov 2017, 14h55

O grupo francês de rock progressivo Magma faz uma única apresentação nesse domingo, dia 26, no Carioca Clube, em São Paulo (os ingressos podem ser adquiridos pelo site www.clubedoingresso.com.br). Liderado pelo baterista Christian Vander, o grupo tem uma linguagem própria – o kobaian, dialeto típico dos habitantes do planeta Kobaïa – e sua abrangência musical vai do compositor alemão Carl Orff ao saxofonista americano John Coltrane. Às vésperas de embarcar para o Brasil, Vander conversou – em inglês, claro – com Leonardo Zvarick Soares

 

Mesmo antes de começar a tocar, a música já era presente na sua vida ? Qual é a sua memória mais antiga envolvendo música?

Eu ouvia muito jazz com minha mãe, que era muito amiga de Billy Holliday, Elvin Jones, Bobby Jaspar etc. Ela me levava a clubes de jazz quando eu tinha 5/6 anos.

Assim, tive chance de estar próximo de bateristas incríveis, e o som do chimbau sempre me fascinou.

A apresentação mais incrível que já presenciei foi de John Coltrane. Em Paris ou qualquer lugar do mundo.

Quando foi que percebeu que queria trabalhar com isso profissionalmente?

A música é o meu sentido de viver. Eu sempre quis viver na música, para a música – para mim, não é uma profissão. A música é minha vida, sou feliz somente quando estou tocando.

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Enquanto autodidata, a falta de estudo formal alguma vez foi um empecilho para sua carreira?

Nunca. Eu sempre pratiquei para fazer o que quer que surgisse em minha mente, o que eu precisasse fazer. Se eu quero tocar algo que está na minha cabeça, eu faço o que for preciso para tornar isso possível.

 

Conte-me sobre a sua relação com John Coltrane. Eu sei que ele foi uma grande influência para a sua formação musical.

É a energia, a fúria ao tocar, a construção, o som, a visão – tudo isso me inspirou. A música de John Coltrane é uma fonte inesgotável, uma força que conquista tudo. Há algo em sua música que vai além. Se a música de John fosse apenas música, talvez tivesse se desgastado no meu gosto. Ele certamente abriu portas para um mundo que não conhecíamos. Foi provavelmente essa busca espiritual desvairada que o levou até lá. Por essas razões, eu escuto sua música regularmente. John me acompanha em cada período da minha vida, e eu sempre ouço sua música de uma maneira diferente, eu o descubro novamente toda vez e isso sempre me fascina.

https://www.youtube.com/watch?v=59pbGmckFE8

 

A maior parte da discografia é baseada num conceito. Como você teve a ideia da história de Kobaïa?

Laurent Thibault, que foi o nosso primeiro produtor, costumava dizer que Kobaïa é o planeta Terra sem os idiotas. Nós estávamos juntos em turnê pela França, tocando rhythm’n’blues. Nessa mesma época, eu comecei a compor Kobaïa, e nós inventamos a história juntos.

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Por que cantar em um idioma inventado? Isso afeta de alguma maneira o processo de composição?

O francês não era suficientemente expressivo para o som que eu imaginava. Eu não sou fluente em inglês. Kobaïan é um idioma que está em constante evolução, as palavras surgem organicamente enquanto componho.

 

Qual é a diferença entre compor em kobaïan e em francês?

Quando vou compor, eu não decido se vou fazê-lo em um idioma específico. Música e palavras vêm em conjunto, seja em kobaïan, em francês ou em qualquer outra língua, isso não faz diferença. Quando escrevo letras em francês, as palavras também surgem naturalmente. Eu as canto enquanto gravo, então ouço e escrevo o texto para poder trabalhar nele, caso necessite modificações.

 

Sobre a criação de kobaïan, você fez algum tipo de estudo em linguística para isso? Teve como inspiração em alguma obra de ficção científica ou fantástica?

Não, a música sempre foi a prioridade – ela conta a própria história, a história do Magma. É o resultado de trabalho diário. Infelizmente, com o tempo e em razão de eventos ocorrendo pelo mundo, tenho uma visão do homem se tornando cada vez mais sombrio. No entanto, há esperança: é provável que logo a humanidade se autodestrua, o que será uma bênção para todas as formas de vida povoando o mundo que conhecemos – e também o que não conhecemos.

 

É fácil notar desde os primeiros trabalhos do Magma que uma profusão de gêneros e influências musicais, tais como jazz e música erudita. Como você define o estilo musical da banda? Ou você prefere não enquadrar o Magma em nenhum tipo de rótulo?

Existe obviamente uma dimensão espiritual na música do Magma, mas eu penso que cada músico pode sentir isso de maneira particular, dependendo de sua necessidade e estado de espírito. Nossa música demanda uma energia muito intensa, você não consegue tocá-la de nenhuma outra maneira, não vai funcionar. Sempre mantive o mesmo direcionamento no nosso trabalho, sem concessões, sem ceder a nenhuma tendência da indústria na nossa trajetória. Para muitos jovens músicos pelo mundo, o Magma é o hors concours em termos de técnica musical e também no modo como seus membros dedicam suas vidas à música.

 

O que você pensa sobre o termo ‘zeuhl’ ser usado hoje em dia para designar um segmento específico de rock progressivo oriundo da França? Quando você surgiu com a palavra, pensava somente no som do Magma ou imaginara que poderia também ser usada para falar de outras bandas e músicos da sua geração?

O Magma se inclui no termo música zeuh’, é um de seus elementos. No entanto, o Magma ainda não toca música zeuhl – ainda estamos trabalhando para conseguirmos fazê-lo devidamente. Talvez a composição chamada Zess esteja se aproximando desse nível. Zeuhl não se trata somente de música.

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Vocês têm planos para um novo álbum atualmente?

Na verdade, o nosso próximo plano é gravar Zess. Nós já temos lançadas duas versões ao vivo dessa composição, mas a versão definitiva de estúdio será consideravelmente diferente.

 

Essa é a primeira vez que o Magma vem ao Brasil. Gostaria de saber quais são as suas expectativas quando ao público e ao país. Você sabe de algo sobre seus fãs brasileiros?

Nós sabemos que temos um fã clube muito dedicado no Brasil, e que eles parecem bastante entusiasmados com a possibilidade de ver a banda ao vivo, mesmo que muitos deles já tenham viajado para nos ver tocando. Eu sei que o Brasil é um país musical, que a música é uma parte importante da cultura brasileira. Sei também que a vida não é fácil no Brasil, e que a música deve ajudar a seguir em frente. Em francês, nós dizemos la musique adoucit les moeurs. Para as pessoas que nunca viram o Magma antes, gostaria de dizer que, primeiro de tudo, há uma tendência quando ouvimos música – ou assistimos a um filme ou espetáculo – com um estilo diferente ao que estamos habituados, de interpretar aquilo através de nosso cérebro. Buscamos referências: “ao que isso me remete?”. Com o Magma, é melhor esquecer de tudo isso. Não é uma música para ser apreciada com o intelecto. É música para ser sentida. É música para se ouvir com o coração, a alma, com instinto. Para aqueles que já estão familiarizados com a nossa música, tentaremos surpreendê-los!

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