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Pippin, o millennial original

Espetáculo de Stephen Schwartz, em cartaz no Teatro Faap (São Paulo), mostra inquietações de um jovem herdeiro do trono do imperador Carlos Magno

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jul 2019, 16h49 - Publicado em 25 jul 2019, 16h48

Pippin é o filho mais velho de Carlos Magno, imperador do Sacro Império Romano. Dele, esperam-se grandes feitos, mas o primogênito real é tomado por um sentimento de desconforto. Tenta achar um sentido na vida indo para a guerra, mas é tomado pelo horror ao se deparar com a violência em nome da religião; o sexo lhe traz prazer ao mesmo tempo em que lhe passa uma sensação de vazio, e até o trono do pai lhe parece mais um fardo do que um direito divino. Posteriormente, encontra o conforto nos braços da jovem viúva Catharina. Mas de novo é assombrado pela eterna pergunta: “onde está a tal vida extraordinária?” Escrita pelo compositor americano Stephen Schwartz (de Godspell e Wicked), o musical Pippin estreou em 1972, período em que os Estados Unidos viviam o fim do sonho hippie e a Guerra do Vietnã. O público se identificou com a angústia do personagem e o show se tornou um dos maiores sucessos da Broadway daquele ano. Que ganha agora uma montagem brasileira, dirigida pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho. Após ter sido encenada nos palcos cariocas em 2018, o espetáculo chega para uma curta temporada no Teatro Faap, em São Paulo (horários e ingressos pelo site https://teatrofaap.showare.com.br). 12 séculos separam o Pippin original de sua montagem americana e outros 47 anos distam a versão original da releitura de Möeller e Botelho. O dilema do jovem príncipe, porém, continua o mesmo de outros varões de sua idade – inadequação, falta de rumo e a eterna sensação de que nasceu para criar algo impactante e não se limitar a viver uma vida simples. Resumindo, o filho de Carlos Magno é millennial original.

Quando apresentou Pippin, Schwartz tinha 22 anos e colhia os louros do sucesso de Godspell, uma versão hippie do Novo Testamento. Qualquer empáfia que pudesse apresentar por conta da juventude e da fama recente, se dissipou ao se deparar com Bob Fosse, encarregado de dar vida ao espetáculo. Fosse nunca foi uma figura fácil e tripudiou o quanto pôde do jovem autor. O embate criativo deu certo. O diretor e coreógrafo escalou Ben Vereen, cantor, dançarino e seu braço direito como o mestre de cerimônias – o personagem que promete a Pippin a tal “vida extraordinária”. A criatividade esbanjada na coreografia iria até inspirar a televisão brasileira. Por exemplo, há semelhanças gritantes entre Magic to Do, o número de abertura do show, com o “nós temos mágicas, para fazer”, que a partir de 1973 se tornou o anúncio do início do Fantástico, da Rede Globo. O coreógrafo criou ainda uma ótima simulação do tédio que invade a alma de Pippin com o excesso de sexo: os atores o suspendem no ar e outros se revezam entrando e saindo do buraco que se forma entre suas pernas. A parte musical é igualmente espetacular. Schwartz foi um dos pioneiros, ao lado das duplas Andrew Lloyd Webber e Tim Rice e James Rado e Gerome Ragni (de Hair) a adaptar a sonoridade contemporânea para o mundo dos musicais. Pippin traz influências nítidas do que se escutava no início dos anos 70: o pop agridoce de Carole King e a soul music da Motown, principal gravadora americana de música negra. Corner of the Sky, um dos temas de Pippin, se tornou tão popular que foi adaptada por grupos pop daquele período.

https://www.youtube.com/watch?v=klhAwLCP6HQ

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Pippin ganhou uma nova versão em 2013, na qual a figura do mestre de cerimônias mudou de sexo – agora é interpretada por uma mulher. A montagem de Möeller e Botelho é levemente inspirada nessa leitura, principalmente na figura feminina do mestre de cerimônias e no cenário e tom circenses. Que reforçam a visão de que, mais do que uma biografia do herdeiro do trono de Carlos Magno, é uma farsa protagonizada por uma trupe. O final do espetáculo também obedece à última montagem. O elenco que se apresenta no Teatro Faap é superior à encenação carioca. Totia Meireles, com charme, graça, talento e pernas que deveriam ser declaradas patrimônio da humanidade, é a única remanescente do elenco de 2018. No papel de Pippin, o jovem João Henrique Saldanha, é uma grata revelação. Ele passa toda a inquietação que toma conta da alma do jovem herdeiro, ao mesmo tempo em que encara uma lenda dos palcos brasileiros – Totia – de frente. A prova inconteste de sua segurança está na cena de dança entre os dois, logo no início do segundo ato. Totia e Saldanha são secundados por um ótimo elenco de apoio. Seria injustiça destacar um ou outro, mas Carlos Magno mostra no espetáculo que nem sempre é preciso tomar decisões populares. Fernando Patau faz um Carlos Magno digno de chanchada, ao passo que Thiago Machado honra o clichê do marombado sem cérebro na pele do militarista apatetado Lewis; Mira Haar, com sotaque português e tudo, é uma Berthe (a avó de Pippin) no ponto entre o carinho e a ânsia de saber da vida alheia e Mariana Gallindo está ótima na pele de Fastrada, madrasta do herói, e uma rainha das maquinações políticas. Bel Lima é uma atriz e cantora que cresce a olhos e ouvidos vistos. Ela que foi Kate Porter em Cole Porter – Ele Nunca Disse que me Amava, no qual interpretou uma aristocrata que fez de tudo para transformar seu filho numa celebridade, em Pippin faz uma Catharine com graça e matutice. As crianças Pedro Burgarelli e Pedro Sousa e os atores Andreza Medeiros, Giu Mallen, Gustavo Della, Renato Bellini, Sandro Conte e Vanessa Costa, também abrilhantam a história de Pippin. No final das contas, fui mais justo que Carlos Magno. Pippin é um espetáculo para

O reino de Pippin (Daniel Coelho/Divulgação)

de todas as idades e séculos.

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