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Patinhas: de compositor promissor a réu da Operação Lava Jato

joão Santana era letrista dos bons. Foi elogiado pelos tropicalistas e tem até parceria com Moraes Moreira

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 23h21 - Publicado em 7 mar 2016, 21h08
Com o apelido de Patinhas, João Santana foi o principal letrista do Bendegó e teve suas composições gravadas por Moraes Moreira e Pepeu Gomes

Com o apelido de Patinhas, João Santana foi o principal letrista do Bendegó e teve suas composições gravadas por Moraes Moreira e Pepeu Gomes

Numa padaria da Pompeia, bairro da zona oeste de São Paulo, Winston Geraldo Barreto, o Gereba, discorre sobre o Bendegó. Mais especificamente sobre João Santana, o Patinhas, ex-letrista do grupo que fazia um híbrido de rock com ritmos regionais. Patinhas, ou melhor, Feira, apelido pelo qual foi conhecido durante as investigações da Operação Lava Jato, era um cabra talentoso. Criou letras não apenas para o Bendegó como também foi gravado por Pepeu Gomes (Voz do Coração), Diana Pequeno (Sinal de Amor e de Perigo) e foi parceiro de Moraes Moreira em Forró do ABC. “Gilberto Gil me disse que era fã do verso ‘O desejo é forte, mas não salva’, presente em Sinal de Amor e de Perigo.” O melhor do repertório versejador de Patinhas, contudo, concentra-se no Bendegó. O grupo ganhou até uma coletânea artesanal produzida por Gereba e vendida nos shows que ele faz Brasil afora. Das 25 canções, doze têm letras de João Santana. “Devo ter ainda mais cem parcerias inéditas”, diz Gereba.

O cantor e compositor baiano lembra que faz uns “quarenta anos” que perdeu contato com Patinhas. Mas eles já foram unha e carne. Os dois são oriundos da região do conflito de Canudos. Patinhas é natural de Tucano, Gereba nasceu em Monte Santo. Patinhas tem veia política: seu pai foi prefeito da cidade. E também possui um espírito belicoso. Quando ele era repórter de política, fez uma reportagem intitulada Deu Gorgulho na Estrada do Feijão no qual tecia críticas à uma obra do então governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães. “Aquela matéria atrapalhou as pretensões eleitorais dele”, comenta Gereba, que fazia então parte de uma banda de baile chamada Os Gatos e os Deuses. O Bendegó lançou seu disco de estreia em 1973. Além de Patinhas e Gereba, faziam parte do grupo o baixista Capenga, o tecladista Vermelho e o baterista Hely Rodrigues – Vermelho e Rodrigues criariam mais tarde o 14 Bis. Os amigos daquele período lembram de um Patinhas engraçado e generoso, que gostava de cantar Lupicínio Rodrigues e Nelson Cavaquinho e recomendar leituras de Fernando Pessoa e dos poetas concretistas.

Patinhas era admirador da música dos compositores eruditos contemporâneos Hans Joachim Koellreuter (1915-2005) e Walter Smetak (1913-1984), embora hoje prefira citar Arvo Pärt entre seus prediletos. O Bendegó era menos experimental. Gereba define o grupo como um “rock da caatinga”, parente próximo do rock rural do trio Sá, Rodrix & Guarabyra. A matéria prima era a mesma, embora o Bendegó tivesse uma pegada menos rock do que seus contemporâneos. As letras de Patinhas eram bem humoradas, sejam brincando com a psicanálise (Nem Freud Pode, que traz o refrão “Se pula pra Jung vai querer logo rezar/ Mas não há grande mãe que queira lhe embalar”) ou inspiradas por certos aditivos, digamos, proibidos para o consumo (Dom Tapanatara, um cacique criado na imaginação de João Santana após uma considerável ingestão de cogumelos). O Bendegó traz ainda no currículo uma participação em Canto do Povo de um Lugar, faixa do disco Joia, de Caetano Veloso. Aliás, eles chegaram a servir de banda de apoio do cantor e compositor baiano nos anos 1970. “Ficamos um ano com Caetano Veloso. O nosso último show com ele foi em Santo Amaro da Purificação, sua terra natal”, lembra Gereba. Recentemente, o líder do Bendegó descobriu que existe uma gravação daquela apresentação. “Eu passei o disco para Maria Bethânia, ela ficou curiosíssima.” Com o esfriamento da parceria com o Bendegó, Patinhas arrumou outros parceiros. Escreveu Forró do ABC ao lado de Moraes Moreira. Pepeu Gomes gravou Voz do Coração, letra de Patinhas para a melodia de Zeca Barreto, irmão de Gereba. A curiosidade fica por conta do verso “acarajé na barriga”. Na investigação da Lava Jato descobriu-se que o acepipe baiano era um termo usado pelos executivos da empreiteira Odebrecht para se referir a propina. Mas até prova em contrário, o acarajé da letra de Santana era comida mesmo.

Patinhas se tornou João Santana em meados da década de 1980. Trabalhou nas redações de VEJA e IstoÉ e depois se tornou marqueteiro político. Levou a tiracolo Kapenga, seu ex-companheiro de Bendegó. O estilo agressivo de gerenciar as campanhas irritou até seus amigos de tempos de Patinhas. Caetano Veloso, por exemplo, não engoliu as calúnias dirigidas à então candidata Marina Silva. “Eu sou amigo do Patinhas. Esse era o nome do marqueteiro João Santana quando ele era compositor em Salvador. Mas ele partiu para destruir. Tive e tenho muita raiva do que fizeram”, disse Veloso para a revista Rolling Stone. Patinhas e João Santana, no entanto, tem mais semelhanças do que diferenças. As letras do primeiro refletiam o idealismo hippie e um eterno clima de paz e amor. O Brasil das campanhas de João Santana é um país de cartão postal, gerido por uma mãe corajosa e amorosa. E se o culto ao Bendegó se resume a milhares de abnegados, a nação idealizada por João Santana rendeu 51 milhões de votos e a reeleição de Dilma Roussef. Mas o Patinhas era bem mais engraçado.

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Gereba e Capenga, integrantes da banda "Bendegó". 1981

Gereba e Capenga, integrantes da banda “Bendegó”. 1981

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