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O belo adeus do Deep Purple

Ian Gillan, vocalista do quinteto inglês, fala sobre InFinite, novo álbum do grupo, e dá pistas de que a atual turnê poderá ser a última de sua carreira

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 20h56 - Publicado em 26 abr 2017, 15h01
Ian Gillan (no centro): “vamos excursionar por dois anos e depois parar.” (Divulgação/Divulgação)

As chamadas bandas de classic rock, enfim, começam a perceber que seu prazo de validade está vencendo – antes que se tornem uma caricatura de seus dias de glória. Em fevereiro de 2017, o Black Sabbath encerrou suas atividades após duas apresentações em Birmingham, sua cidade natal. O quinteto londrino Deep Purple, por seu turno, soltou no início do mês o álbum InFinite e embarca para a última turnê de sua carreira. “Vamos excursionar por dois anos. Depois, é bem capaz que nos aposentemos”, diz o vocalista Ian Gillan, com exclusividade para o VEJA Música. Mas nem ele está tão certo do adeus definitivo. “Quer dizer, estamos ainda pensando.” O tempo, porém, não tem perdoado o Deep Purple. No ano passado, o baterista Ian Paice sofreu um princípio de AVC (ele está bem agora).

Formado em Herford (cidade a uma hora de distância de Londres) em 1968, o Deep Purple trocou tanto de formação quanto o Palmeiras de técnico nos últimos três anos: foram quatro vocalistas, quatro guitarristas (inclusive Ritchie Blackmore, um dos líderes do grupo, que abandonou o barco nos anos 70 e depois em 1993), três baixistas e dois tecladistas. O line up atual conta com Ian Gillan nos vocais, Roger Glover no baixo, Don Airey nos teclados (que substituiu Jon Lord, outro fundador, em 2002), o guitarrista Steve Morse e o baterista Ian Paice, único que conseguiu se manter em sua função por cinco décadas. InFinite, seu vigésimo disco de estúdio, tem produção de Bob Ezrin (Alice Cooper, Kiss, Pink Floyd) e possui uma boa variedade musical, com faixas que trafegam entre o boogie woogie e blues (Hip Boots, One Night in Vegas) e rock pesado (Birds of Prey e On Top of the World), além de uma dispensável releitura de Roadhouse Blues, dos Doors. Nada, claro, que supere discos como In Rock (1970) e Machine Head (1972), melhores trabalhos com Gillan à frente da banda. “Sim, sempre haverá um queixume em relação aos novos álbuns porque eles não seriam tão bons quanto os lançados nos anos 70. Mas fazemos música para os fãs, não para a crítica”, retruca Gillan, usando uma explicação um tanto surrada.

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Ezrin não apenas produziu como também é co-autor de nove das dez canções de InFinite. Um de seus méritos nesse disco está na liberdade que deu ao grupo para solar à vontade – especialmente Airey, que lembra os melhores momentos de Jon Lord, morto cinco anos atrás. “Ezrin disse que gostaria que a gente soasse em disco da mesma maneira que no palco”, diz Gillan. Ouvidos atentos irão perceber duas curiosidades em InFinite. Uma é a citação de Louie Louie, dos Kingsmen, escondida no meio de Johnny’s Band (“poxa, o Airey falou que ninguém iria perceber essa copiada que a gente deu”, lamenta o vocalista). A outra é nada menos um “bom final de semana”, que ele solta no meio de Get Me Outta Here. Gillan, por incrível que pareça, é bem versado em português. “Eu tenho uma casa em Portugal, na região de Algarve”, explica. E, cá entre nós, o português dele quase não tem aquele sotaque típico do rabino Henry Sobel falando nossa língua.

Um dos pontos altos da carreira de Ian Gillan além do Deep Purple foi a sua participação no álbum Jesus Christ Superstar, ópera rock criada pelo compositor Andrew Lloyd Webber e pelo letrista Tim Rice. Gillan interpreta nada menos que Jesus. Infelizmente, sua participação ficou restrita ao disco – ele tinha de seguir em turnê com o Deep Purple. “Eu não sei se teria paciência para ir ao teatro e fazer a mesma coisa toda noite”, minimiza o vocalista. “Um dia o tenor italiano Luciano Pavarotti disse que tinha inveja de mim porque ele era obrigado a cantar sempre do mesmo jeito. Já eu poderia variar minha interpretação e o meu repertório.” Embora não tenha seguido adiante no teatro musical, Gillan brilha em diversos momentos da trilha sonora da ópera rock, em especial a canção Gethsemana. Os seus gritos de desespero e súplica – afinal, Jesus está prestes a ser preso e condenado à cruz – viraram uma espécie de padrão a ser seguido por todos aqueles que ousam se arriscar no papel título. “Sinto muito se dificultei a vida dessas pessoas”, brinca. Gillan, no entanto, não tem mais o alcance vocal daqueles tempos, ainda que jura manter os agudos e berros nas canções do Deep Purple que exijam mais potência. Caso de Child in Time, que virou outra marca registrada do vocalista. “Não tenho problema com essa música. Faço todos os aquecimentos vocais possíveis na hora de entrar no palco justamente para não falhar.”

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A turnê de despedida do Deep Purple passa em outubro pelo Brasil. O quinteto inglês irá se apresentar nos dias 21, 22 e 24 no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, tendo ao seu lado o southern rock do Lynyrd Skynyd e o tex-mex do ZZ Top. O clima de – suposta – despedida é ideal para perguntar sobre a eleição do grupo para o Rock & Roll Hall of Fame, em 2016. Naquele ano, eles foram angariados ao lado de outras vítimas da parte mais esnobe da crítica como o grupo Chicago. “Aquilo não é uma premiação de verdade, eles fazem aquelas festas para angariar dinheiro”, despista Gillan. O Deep Purple, contudo, nunca precisou de um aval “superior” para se firmar como uma das mais importantes bandas de hard rock de todos os tempos, com sua mistura de rock, blues e música clássica. Vê-los ao vivo, ainda que distante de seu período de glória – pessoalmente não gosto do guitarrista Steve Morse, acho que falta a ele o “ataque” de Ritchie Blackmore – é testemunhar um pouco do melhor do o rock inglês dos anos 70 pode proporcionar.

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