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Por Sérgio Martins
Música sem preconceito: de Beethoven a Pablo do arrocha, de Elis Regina a Slayer
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O argentino que criou a b**** music

Mister Sam, criador de Gretchen, foi o arquiteto do estilo no qual a derrière feminina era tão importante quanto a música - que, aliás, era muito boa

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 jul 2019, 19h39 - Publicado em 1 jul 2019, 14h16

Santiago Malnati, o Mister Sam, foi muitas vezes a salvação da lavoura do Notícias Populares – e consequentemente, o meu salvador. Como o jornal preferia dar algo espetaculoso a seguir a agenda (traduzindo: entrevista de lançamento de disco, de show etc.), a gente sempre tinha de arrumar uma pauta diferente para estampar as principais páginas da editoria de Variedades. Um trabalho no qual Sam era especialista: era o rei em criar cantores, duplas e trios com uma pegada diferente do que se fazia no pop dos anos 90, período em que comecei como jornalista. Na ocasião, as pupilas de Sam eram As Ladies, que tinham como faixa de trabalho Melô do Bernardão, faixa dançante inspirada no affair do então ministro da Justiça, Bernardo Carvalho, com Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia do governo Collor.

A trajetória artística de Sam é contada em História Secreta do Pop Brasileiro, minissérie de André Barcinski e que contou com a pesquisa de Paulo Cavalcanti, ex-editor da Rolling Stone, falecido em março passado. São oito episódios que contam a trajetória de personagens que passaram à margem das biografias da música feita no Brasil nos anos 70. Mais por preconceito, diga-se, do que pela falta de qualidade musical. São artistas que se tornaram covers de astros internacionais, coristas, veteranos dos estúdios de gravação, falsos gringos etc etc etc. História Secreta… foi um dos destaques do In_Edit, festival dedicado a documentários musicais, e deverá chegar aos canais de TV a cabo em agosto ou setembro. E Sam, mais do que um produtor qualquer, foi o criador de um subgênero que até hoje faz sucesso no terreno nacional: cabe a ele o mérito de ter criado a “bunda music”. Como? Detalhes abaixo.

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Mister Sam é um tipo emblemático da história do pop brasileiro. Sua trajetória, no entanto, se iniciou na Argentina natal, quando criou a dupla Sam Y Dan e até participou nos vocais do disco de estreia do Almendra, lendária banda de rock local. Mas foi no Brasil que ele colocou em ação toda sua capacidade de criar cenas e ídolos da música. Sam inventou The Vamps, grupo de funk/disco baseado em vampiros e cujo sangue suga mór tinha os vocais de Dudu França. Ele foi também o mentor de Sarah, uma das melhores cantoras de pop no Brasil e muito tempo. Porto Rico tinha Menudo? Mister Sam trouxe o argentino Tremendo. E nem o rap e o break ficaram imunes a Malnati: ele lançou discos dos Black Juniors e das Buffalo Girls.

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A principal criação de Sam, porém, foi a paulistana Maria Odete Brito de Miranda Marques. Vocalista de um grupo de baile na cidade, ela despertou a atenção do argentino ao se apresentar num programa de calouros de Silvio Santos. Sam deu a ela um estilo – dance music –, letras em inglês (que ele já confessou surgiam de panfletos de letras traduzidas que uma escola de inglês distribuía pela cidade) e acesso livre aos programas de auditório daquele período. Coube à Maria Odete escolher o nome artístico – Gretchen, saído de Aleluia, Gretchen, filme de Sylvio Back sobre uma família alemã que migra para o Brasil em 1937.

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Gretchen tinha tudo: beleza, carisma, e fazia uma voz sensual como poucas. Embora nunca fosse adepta da vertente dos falsos gringos (brasileiros que se faziam passar por astros da música internacional), ela cantava em inglês. Uma dessas músicas foi uma disco/salsa chamada Freak Le Boom Boom. Não demorou muito para que Gretchen fosse chamada Rainha do Bumbum, por mais que nunca tenha sido uma musa de derrière avantajada. E depois dela vieram outras cantoras rebolativas e até com uma, digamos, poupança mais fornida. O próprio Sam lançou Sharon com Chaka Chaka e Rita Cadillac (esta sim, uma verdadeira Rainha do Bumbum). Nenhuma chegou a fazer sombra ou tira seu protagonismo – nem mesmo suas “netas”, como Anitta, Ludmilla e esse quinhão de divas rebolativas do funk pop. E a cantora também não conseguiu produzir melhores canções depois do período com Sam. Praticamente todas as canções dela que fazem sucesso até hoje são criações do DJ: Conga La Conga, Dance With Me, Melo do Piripiri…

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O maior projeto de Sam das últimas duas décadas é Lady Lu, a única menina das Ladies que vingou. Com ela, Sam fez dance music, cumbia, pop… Lu hoje goza de um sucesso nas discotecas europeias com Biri Biri Bee, também conhecida como Melô da Abelhinha, ao lado do DJ Prodígio. Em certas playlists, só perde para David Guetta. Mas nem precisava continuar: o mérito de ter levado o chamado “produto nacional” para as pistas de dança dá a Sam um lugar garantido no panteão dos grandes produtores brasileiros – quer dizer, argentinos.

 

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