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Música sem preconceito: de Beethoven a Pablo do arrocha, de Elis Regina a Slayer
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Como o ‘Fora Temer’ e Donald Trump moldaram jazz de Madeleine Peyroux

'Anthem', novo disco da cantora americana, atualmente em turnê no país, foi influenciado pelos protestos dos brasileiros e a chegada do empresário ao poder

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 set 2019, 18h09 - Publicado em 13 set 2019, 16h58

A cantora americana Madeleine Peyroux, 46, está fazendo uma turnê por algumas capitais brasileiras. Ela se apresenta hoje à noite no Teatro Guaíra, em Curitiba (ingressos pelo site https://www.diskingressos.com.br/), amanhã no Tom Brasil, em São Paulo (www.ingressorapido.com.br), na próxima sexta-feira, 20 de setembro, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (www.ingressorapido.com.br) e sábado, dia 21, e domingo, dia 22, no Theatro Municipal, do Rio (www.ingressorapido.com.br). O repertório é calcado em Anthem, de 2018, e um dos álbuns mais políticos de sua carreira. Madeleine disse que as canções tiveram inspirações como o “Fora, Temer!”, entoado pelas plateias brasileiras durante suas apresentações no país, em 2016, e pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. A cantora surgiu na segunda metade dos anos 90 como uma espécie de “nova Billie Holiday” por causa de sua voz pequena e adocicada como a da grande dama do jazz americano. Madeleine, no entanto, é mais do que uma xerox de “Lady Day”. Os álbuns seguintes mostraram personalidade e uma abrangência que vai do jazz ao blues e à música country. Abaixo, algumas impressões dela sobre a nobre função de ser uma artista que busca sempre a renovação.

Anthem foi gestado durante as eleições presidenciais americanas de 2016. Elas influenciaram seu processo de composição?

Anthem foi totalmente inspirado pelas eleições. Durante a turnê do meu álbum anterior, Secular Hymns, senti necessidade de falar mais sobre política. E uma apresentação no Brasil em 2016, também motivou esse meu desejo. Anunciei a canção I Ain’t Got Nobody (Eu Não Tenho Ninguém, em português) e dizia que ela tinha sido feita para pessoas que não se sentiam representadas pelo seu governo. A plateia, de repente, começou a gritar “Fora, Temer!”.  A reação do público brasileiro me fez perceber o quão era importante abordar esses assuntos na minha música. Sendo assim, as novas canções passaram a ter versos e mais centrados na tensão política que estava tomando conta dos Estados Unidos. Quando eu e Larry Klein voltamos a nos encontrar para compor, em novembro de 2016, Donald Trump tinha sido eleito e as nossas criações passaram a ganhar um tom mais triste, mais sombrio. Então, no início de 2017, nós estávamos tristes com os rumos do país. Klein me sugeriu então que eu escutasse Anthem, do Leonard Cohen. Fiquei obcecada pela composição, escrevi diversos arranjos para ela. A partir de Anthem me senti inspirada a criar novamente e fiz um disco dedicado aos meus heróis.

 Poderia nos falar um pouco mais sobre essa influência de Leonard Cohen?

Ele me inspira a ser um ser humano melhor e mais sábio. Dois exemplos: assisti a uma exibição de Leonard Cohen no Museu Judaico, em Nova York. Uma das instalações monitorava o número de pessoas fazendo streaming da canção Hallelujah ao redor do mundo naquele momento. 4 000 pessoas a estavam escutando! No início deste ano, me apresentei uma cidade da Polônia chamada Gdnyia. Quando fui para o café local, em encontrei com uns estudantes e, num inglês macarrônico, falaram das canções de sua preferência. A principal foi… Hallelujah! Fiquei impressionada como o trabalho de Cohen nos ajuda a nos conectar com outras pessoas. Sua música é honesta, vulnerável, humana e justa. Nunca pensei que me conectaria com tantas almas quando passei a me interessar pelo trabalho dele.

Anthem tem participação da cantora brasileira Luciana Souza, que é casada com seu produtor, Larry Klein. Como foi a participação dela no álbum?

Luciana é uma grande cantora, mas em Anthem mostrou seu talento como percussionista. Sou uma verdadeira fã de música popular brasileira. Ela soa tão fácil, tão melodiosa, mas ao mesmo tempo é poderosa e vibrante. Sou fã de bossa nova, da tropicália e dos artistas desse período. Recentemente, me apaixonei pela música de Tom Zé. Eu adoraria que compuséssemos juntos!

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Você nunca teve medo de correr riscos. Foi anunciado como uma espécie de sucesso de Billie Holiday em seu disco de estreia, Dreamland (1996), e mudou de estilo a cada lançamento. O artista tem sempre de surpreender a plateia?

O artista tem de ser verdadeiro. Se eu não sou a mesma pessoa de duas décadas atrás, por que minha música teria de soar da mesma maneira? Eu só espero que meu público entenda e absorva essas mudanças.

 

Por falar em correr riscos, seu álbum The Blue Room (2013) foi inspirado em Modern Sounds in Country and Western Music, clássico do pianista e compositor Ray Charles de 1962. Como foi encarar esse desafio?

O disco foi um tributo não apenas a Ray Charles, mas a toda essa tradição da escrita country. A sugestão partiu do meu produtor, Larry Klein. Eu pensei então que seria interessante adicionar canções que foram lançadas depois do álbum de Ray Charles. Gravamos então faixas do álbum original, juntamente com músicas que tinham o mesmo conceito musical – uma de Buddy Holly, outra de Randy Newman, outra de Warren Zevon… A única diferença é que as canções foram escritas a partir de um ponto de vista feminino.

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https://www.youtube.com/watch?v=lxU-dNRZx8U

Larry Klein é um colaborador constante em seus trabalhos. O que a senhora vê de tão especial nele?

Ele tem múltiplas qualidades e sabe explorar todas elas! Mas existem razões específicas para eu escolhê-lo. Primeiro, pela atenção que dá ao impressionismo e à quietude da música. Ele também dá uma atenção especial à minha maneira de cantar, fazendo com que meu trabalho vocal soe o melhor possível. Para terminar, ele é fascinado pela arte da composição e sabe como poucos escolher um repertório para os meus projetos.

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Outra decisão corajosa foi gravar Secular Hymns (2106), seu disco seguinte, como se fosse uma apresentação ao vivo. Qual foi o principal desafio nesse processo?

Não foi tão difícil. Fazia dois anos que eu excursionava com o guitarrista John Herington e o baixista Baraki Mori. Esta formação nos deu liberdade para improvisar, criar nossos próprios arranjos e ter uma maior intimidade musical. Foi fácil e divertido entrar no estúdio com eles.

Terceira e última ousadia: transformar em jazz o canto falado do poeta anglo-jamaicano Linton Kwesi Johnson na canção More Time. Como se deu isso?

Um amigo meu, Yves Beauvais, me mostrou as obras de Linton Kwesi Johnson. Escutei More Time e disse: “Ela tem de ser minha”. E foi. Ficou boa, não?

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