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Elias Andreato vira tema de biografia: “o humor me salvou”

Obra de Dirceu Alves Jr. conta como Andreato trabalhou como engraxate, office-boy, camareiro e operador de luz até fazer do palco a sua casa

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 abr 2019, 18h00

Um dos atores e diretores mais talentosos e premiados do Brasil, Elias Andreato, 64 anos, virou tema de uma biografia. Escrita por Dirceu Alves Jr., jornalista e crítico de teatro de Veja São Paulo, a obra Elias Andreato — A Máscara do Improvável (Humana Letra; 43 reais) conta como um menino pobre, tímido e com problemas de estima se tornou referência suprema no teatro nacional.

Elias trabalhou como engraxate, office-boy, camareiro e operador de luz antes de fazer do palco a sua casa. Ele atuou e dirigiu alguns dos nomes mais brilhantes das artes do Brasil, como Paulo Autran em Visitando o Sr. Green (2000) e Maria Bethânia em Bethânia e as Palavras (2010). Ao todo, foram mais de 100 montagens e alguns Prêmios Shell. Sobre o mundo da fama, ele é categórico: ‘não basta mais ter talento: tem de investir no lobby digital, que substituiu o teste de sofá”.

Como se deu a ideia de lançar a sua biografia? Eu conheci o Dirceu na ocasião em que foi me entrevistar para uma estreia de uma peça minha, em 2013. No final, ele falou do interesse em escrever a biografia. Eu, de imediato, disse “não”. Mas ele pediu para eu pensar melhor sobre o assunto, me ligou, levou livros em casa e foi me convencendo. Eu fiz terapia durante vinte anos. Quando o autor propôs esse mergulho, foi muito difícil. De certa forma, acabei revivendo sentimentos e sensações. As minhas lembranças não são tão gloriosas. Eu tive de mexer com profundidade, mas valeu a pena: chorei muito quando vi o resultado do livro.

Na biografia, o senhor aborda sua sexualidade – namoro com homens e mulheres – e forma natural. Por que para muitos atores assumir-se gay ainda é tabu? A verdade é que vivemos apenas “aparentemente” em um mundo moderno. A maioria das pessoas não aceita, não suporta aquilo que fuja da normalidade – daí vem o preconceito. De qualquer forma, o artista deve ser fiel a si mesmo. Com a pobreza em que vivi, acabei definindo algumas coisas para a minha vida, sendo uma delas não deixar a dor se instalar por muito tempo. É como uma forma de sobrevivência. Se a pessoa se ater às dificuldades, não avança. A verdade é que ninguém está preocupado com você, a não ser você mesmo.

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Muitos diretores de teatro, cinema e TV selecionam atores não pelo talento, mas pela quantidade de seguidores que os mesmos somam em suas redes sociais. Como avalia essa situação? Eu, por exemplo, não poderia ter construído a carreira que trilhei com essa dinâmica atual. Eu precisava pegar dois ônibus para ir até a biblioteca da Universidade de São Paulo, onde xerocava livros de grandes dramaturgos. Não havia muitas obras em bibliotecas e livrarias, sem falar que todas eram caras. Agora, podemos fazer o download no computador ou celular, mas pouca gente está interessada em ler. O que vemos é uma ostentação enorme, o que cria uma sensação de que não temos nada – mesmo sabendo que a ostentação alheia é mentira. O apelo e a valorização da futilidade são grandes. Agora, esse poder é volátil.

Por quê? A pessoa tem seguidores e fama nesse mundo digital, até ela dar uma opinião equivocada e perder tudo. Não basta mais ter talento: tem de investir no lobby digital, que substituiu o teste de sofá. O teatro é uma arte ancestral, exige tempo e maturação. Não dá para ser veloz: precisa ensaiar, repetir e acalmar a ansiedade. As pessoas nunca estão onde estão fisicamente. Com o celular, vão para um monte de lugar e, ao mesmo tempo, para lugar nenhum. Já o teatro é uma caixa preta: você entra e fica ali dentro.

O senhor definiu o desejo de ser ator após ver o show de Maria Bethânia chamado Rosa dos Ventos, em 1972, em São Paulo. Por quê? Foi ali que vi alguém em quem poderia me espelhar, me encantei pelo palco. Certa vez, já ator e com alguns trabalhos feitos, o Fauzi Arap (diretor do show Rosa dos Ventos de Maria Bethânia) me disse para eu ser menos intenso. Para eu amenizar meu lado Maria Bethânia e aflorar um lado Dercy Gonçalves. Perdi sono com essa crítica, quis matar aquele homem. Mas depois entendi tudo. Se tem uma coisa que me salvou, foi o humor. Quando temos uma visão crítica, conseguimos ver de fora. O humor é uma forma de resistir aos problemas.

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De fã e admirador, tempos depois o senhor se tornou amigo de Maria Bethânia. Vou ao show dela, nos falamos por WhatsApp… mas fico nervoso toda vez que ela manda um áudio. Fico tenso (risos). A primeira vez em que ela ligou em casa e deixou recado na secretária eletrônica, eu quase morri. “Alô, aqui é a Maria Bethânia” (risos). Como se ela precisasse se apresentar.

O seu pai sofria de alcoolismo e o senhor nasceu em uma família de agricultores pobres, que não sabiam bem o que era teatro. Credita a esse histórico à falta de estima, relatada em alguns momentos em sua biografia? Quando você traz uma história pessoal assim, é difícil alterar. Vou dizer que nesta encarnação não ficou resolvida. Se eu não voltar como cachorro, vou ter de resolver na vida seguinte. Não vou dizer que eu me ache um zero à esquerda, mas é difícil eu me achar de alguma forma.

O senhor tem 64 anos e trabalha como ator, diretor e professor. A que se deve tal vitalidade? Gosto do cotidiano. Acabei de dirigir um show da Fabiana Cozza, estou em cartaz com Arap, com textos inéditos doe Fauzi Arap. E vejo muita coisa. Vi recentemente a peça O Aniversário de Jean Luca, do diretor Dan Nakagawa, e adorei. Tem muita cosia boa sendo produzida.

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