Nas conversas que tem tido nas últimas semanas, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro tem repetido com vigor que a sua prioridade é a recém-inaugurada carreira de advogado. Mas, ao mesmo tempo, ele afirma que irá participar ativamente para a campanha de algum candidato de oposição ao presidente Jair Bolsonaro.
É verdade que em ocasiões anteriores Moro já disse uma coisa e fez outra. Quando era o juiz da Lava Jato prometeu que não se envolveria em política partidária. Depois aceitou ser parte do governo Bolsonaro, comprometendo para sempre a imagem da operação e de suas sentenças. Dessa vez, sem fazer qualquer autocrítica sobre seu tempo no Ministério da Justiça, Moro diz que será diferente.
Moro sabe que tem um enorme capital político. Nas pesquisas para 2022, ele aparece em geral com pouco menos de 20% dos votos, empatado em segundo lugar. Num eventual segundo turno, é o candidato com melhor desempenho contra Bolsonaro. Nas conversas com outros políticos e advogados, no entanto, Moro reconhece que o tempo e dedicação necessários para viabilizar uma candidatura são demais para ele, neste momento. O que não significa que ele não queira participar.
No final de outubro, Moro recebeu o apresentador e possível candidato Luciano Huck para almoçar em seu apartamento, em Curitiba. Antes já havia estado com o governador João Doria (e recusado o convite para ser secretario de Justiça de São Paulo) e conversado com o ex-ministro Mandetta e o ex-candidato a presidente João Amoêdo. Em todas as conversas, Moro descarta a ideia de ser candidato ao Congresso ou ao governo do Paraná e deixa claro que o seu debate é nacional.
Depois da quarentena pela saída do governo, Moro tem se exposto mais, usando as redes sociais para defender ex-colegas como o general Santos Cruz da milícia bolsonarista, participando de lives sobre crimes financeiros e ressaltado em artigos a alta de homicídios depois da sua saída do Ministério da Justiça.
Moro quer ser o grande eleitor de 2022 pela vaidade de saber que sua opinião pesa para muitos eleitores, mas também por autopreservação. Mesmo empresas interessadas em contratar os serviços de Moro como advogado temem a reação vingativa do governo caso a informação se torne pública.