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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Bolsonaro está tirando o auxílio de 18 milhões de miseráveis

Novo programa, só mantém renda para 17 milhões dos 35 milhões que recebem benefício

Por Thomas Traumann
24 out 2021, 12h11

Como a gritaria no mercado com o fim do teto de gastos foi estrondosa, passou batido o ponto mais importante na transformação do Bolsa Família em Auxílio. Ao contrário do que parece, Jair Bolsonaro está reduzindo o número de brasileiros atendidos. No auge do Auxílio Emergencial, em agosto de 2020, 69 milhões foram beneficiados e a aprovação do governo Bolsonaro passou dos 40% e em alguns casos chegou a 50%. Hoje são 35 milhões de pessoas e a aprovação do governo Bolsonaro está entre 25% e 30%, dependendo da pesquisa Como a nova proposta, serão 17 milhões (a soma dos 14 milhões de inscritos no Bolsa Família mais 3 milhões de inscritos na fila). O

valor sai de R$ 300 para R$ 400, é verdade, mas 18 milhões serão excluídos do programa. É básico do ser humano a sensação de frustração e de raiva dos que forem deixados no caminho. Quando essa conta ficar clara para as pessoas que forem excluídas, o risco de a popularidade de Bolsonaro cair ao invés de subir é gigante.

Por isso, não é desprezível a possibilidade de o Congresso ampliar a base e o valor do Auxílio quando votar a proposta nesta semana. Quem se espantou com a velocidade com que Bolsonaro humilhou publicamente o ministro Paulo Guedes e deu de ombros para a reação do mercado financeiro ao fim do Teto de Gastos, precisa olhar a pesquisa Ideia divulgada na sexta-feira (22/10). Os principais números:

79% acham que a inflação é um grande problema

68% mudaram hábitos alimentares

61% acham que os preços vão continuar subindo

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74% estão comendo menos carne

45% acham que a responsabilidade da alta da gasolina é do governo federal. Só 28% caem na lorota de que a cukpa ;e dos governadores

Só 21% acham que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses

O custo do presidente de perder a máscara pró-mercado é alto (na semana o índice da bolsa caiu 7,26%  e o dólar subiu 3,15%), mas a conclusão no Palácio do Planalto é clara: ou era isso ou era a derrota em 2022. Se nada fosse feito para reduzir o custo de vida dos mais pobres, a popularidade de Bolsonaro seria corroída a ponto de ele correr o risco de seus eleitores escolherem um outro candidato para enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva em um eventual segundo turno. Bolsonaro está indo para o tudo ou nada, porque se não reagisse caminhava para o nada.

O Brasil já teve presidentes no modo 100% eleitoral antes (Sarney 1986, FHC 1998 e Dilma 2014, para citar os casos mais conhecidos), mas o que vem agora tem riscos maiores. A combinação de inflação de 10%, desemprego de 13%, aumento da miséria, crescimento baixo, pressão do câmbio, fragilidade fiscal e a oposição liderando as pesquisas são parte de uma tempestade perfeita. A possibilidade de Bolsonaro errar a mão e o País entrar numa espiral de crise econômica para além de 2022 é real. Há uma sensação de 2002 no ar.

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Bolsonaro lidera um governo fragilizado e a história recente mostra que toda vez que o presidente está ferido, a fome dos tubarões aumenta.  É previsível a ameaça da dos vários grupos de interesse que orbitam em torno do bolsonarismo. Os caminhoneiros prometem uma paralisação a partir do dia 1.o de novembro, reclamando de um aumento de 49% no preço do diesel entre janeiro e outubro. A rejeição unânime das várias organizações de caminhoneiros contra a proposta de Bolsonaro de oferecer um auxílio de R$ 400 para a categoria é um indicador de que a possibilidade de paralisação é uma realidade.

Os evangélicos vão cobrar com mais ênfase a ação de Bolsonaro para aprovar a indicação do pastor presbiteriano e ex-ministro André Mendonça para o STF.

É politicamente impossível a Petrobras chegar ao fim do ano com a mesma política de preços. O repasse automático das variações internacionais foi substituído por um atraso compulsório, mas com a alta constante no mercado internacional o consumidor mal sente a diferença. Haverá uma intervenção via Congresso para que a Petrobras segure os preços dos combustíveis e do gás de cozinha sob a alegação que o petróleo extraído dentro do Brasil não deve ser calculado pelo mesmo valor do combustível importado. É como se a Petrobras repetisse o papel que teve no primeiro governo Dilma de subsidiar o combustível.

Com as tarifas de energia elétrica 25% mais caras neste ano é altamente provável que este governo promova para 2021 algum tipo de alívio para os consumidores. Com as chuvas de setembro, o risco de racionamento de energia diminuiu, mas ainda há a possibilidade de apagões esporádicos no verão. Não se deve esquecer que FHC carregou por anos o racionamento de energia como a marca do seu segundo mandato.

Sarney manteve o congelamento de preços, FHC segurou o dólar e Dilma subsidiou a previdência das empresas. Dinheiro para os mais pobres, emendas para os parlamentares e subsídios nos preços de combustíveis são só o início de Bolsonaro no modo eleitoral. Mas nem isso pode ser suficiente.

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